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    Ainda Temos o Amanhã
    Média
    3,7
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    O bão do Marcelão
    O bão do Marcelão

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    4,0
    Enviada em 25 de agosto de 2024
    É bom ver um filme italiano sendo exibido nas grandes telas por aqui. Não por causa desse filme específico. Mais por evocar a tradição e o contar de histórias que os italianos têm – habilidade consagrada ao redor do mundo nas últimas décadas.
    “Ainda Temos o Amanhã” é exibido neste ano de 2024. O filme é contado em preto e branco, o que não diminui em nada a maestria do cinema italiano. Ao contrário, esse filme só confirma o elogio.
    Para entender melhor a proposta de “Ainda Temos o Amanhã”, é preciso regredir um pouco e buscar auxílio à História: a Itália surgida nas telas é consequência do envolvimento do país na Segunda Guerra Mundial e viveu anos sob um regime fascista, de poucas perspectivas e de autoritarismo. Com o fim da guerra, as tropas aliadas se fazem presentes nas ruas de Roma.
    Em vez de se concentrar numa Itália destruída, a diretora e protagonista Paola Cortellesi prefere abordar questões mais particulares. Ela encarna Delia, uma mulher conformada com a vida que leva: é esposa, mãe e suporta o desafio de trabalhar em vários empregos para conseguir o mínimo de sustento.
    Além do pouco disponível monetariamente falando, Delia tem que suportar seus dramas dentro de casa, localizada no subsolo de um conjunto habitacional. Ela cuida de um marido agressivo e arrogante e de três filhos, os quais a mais velha pensa na própria independência ao se casar e nos irmãos mais jovens que não param de brigar entre si. Para acrescentar, Delia se vê obrigada a cuidar de um sogro prepotente e pouco respeitador em relação à figura feminina. Dá amplo apoio ao filho.
    Em suas andanças para lá e para cá, Delia mostra suas habilidades laborais aos seus patrões. E cruza com soldados americanos dispostos a ajudá-la. Ajuda que será providencial numa cena em que se mostra quem Delia é realmente.
    Ao adotar a linguagem em preto e branco e escolher os problemas sociais e decorrentes do pós-guerra, Paola revisita uma das fases mais criativas e brindadas do cinema italiano.
    Um ponto positivo é a composição das personagens do filme: seja a família nada harmoniosa, seja a confidente Marisa (Emanuela Fanelli), a quem Delia divide suas preocupações e problemas, ou ainda, as comadres fofoqueiras que se reúnem na praça do cortiço onde Delia habita. Justamente o ir e o vir de Delia em sua batalha cotidiana que livra “Ainda temos o amanhã” da monotonia. Tem um certo combustível para prender a atenção.
    Nesse caminhar, há a redescoberta de um amor que poderia ser a chance de outra vida para uma mulher dedicada e, principalmente, frustrada.
    Durante o filme, não é inevitável pensar se tudo o que rola não está acontecendo em outro país do mundo, provavelmente subdesenvolvido. Quando prestamos realmente atenção, trata-se de um país europeu, um dos principais economicamente onde transparece a falta da participação e da emancipação feminina, os abusos e assédios que as mulheres sofrem, o machismo, o patriarcado arcaico.
    Tudo isso é retratado e mostrado. Às vezes, aparecem em cenas improváveis onde uma dança entre o casal Delia e Ivano (feito com competência por Valerio Mastandrea) confunde arte e denúncia, realidade opressiva com humor bizarro. Por ser inesperado, o momento surreal é uma boa sacada de Paola Cortellesi.
    A película tende para descrever o óbvio e o soturno, quando em momentos pontuais e corretos, surgem a curiosidade em torno de cartas e reviravoltas que mostrarão uma Delia mais incisiva e resoluta em suas crenças guardadas e esmagadas por uma repressão social.
    Realmente a última meia hora do filme se desdobra num ritmo mais dinâmico e faz uma homenagem lírica e sensível sobre o empoderamento feminino. Seu nascimento e sua reivindicação na participação de uma necessária renovação da sociedade italiana.
    Paola Cortellesi, ou melhor, Delia é a representação disso, mediante a concordância silenciosa de suas companheiras, as quais levam a mesma vida ou pior do que a personagem principal.
    Perto do fim, gera-se uma situação de autêntica saia justa por despertar em como se sairá bem perante a pancadaria de Ivano. Ele mal sabe o que lhe reserva e terá que recuar, entendendo por si mesmo, de que está ultrapassado.
    A conclusão se baseia numa suposição: se este for o primeiro filme de Paola Cortellesi, ela acerta muito e encaminha um roteiro recheado por drama e pela comédia típica dos filmes italianos produzidos no passado. Não se deixa contaminar por discursos inflamados e clichês e aborda assuntos complicados com a densidade necessária, sem perder a leveza. Enfim, ela compôs uma ode à mulher e sua participação conquistada a duras penas e lutas. Talento é o que fica implícito quando o filme passa e Paola tem essa qualidade de sobra. No mais, o cinema italiano ainda produz boas histórias.
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