O filme Maníaco do Parque, dirigido por Mauricio Eça e lançado em 2024 pela Amazon Prime, explora a história de Francisco de Assis Pereira, mais conhecido como o "Maníaco do Parque", cujos crimes nos anos 90 chocaram o Brasil. Com Silvero Pereira no papel de Francisco, Giovanna Grigio como Elena, Mel Lisboa como Martha e Marco Pigossi como Vicente, o filme traz para o centro da narrativa a trajetória sombria de um assassino em série que atacou 21 mulheres, assassinando dez delas e ocultando seus corpos no Parque do Estado, em São Paulo.
Inspirado por uma das figuras mais perturbadoras da criminologia brasileira, Maníaco do Parque apresenta a personagem Elena (Giovanna Grigio), uma jornalista iniciante que vê na investigação dos crimes uma oportunidade de impulsionar sua carreira. A ambição de Elena em desvendar a mente do criminoso e entender suas motivações é o motor da narrativa. Contudo, embora o filme se comprometa a revelar os detalhes das ações de Francisco e o impacto do medo na sociedade paulistana, ele falha ao construir uma análise social crítica, preferindo focar no aspecto sensacionalista dos eventos.
Segundo dados do acervo histórico do G1 e de artigos da Folha de São Paulo, Francisco de Assis Pereira foi capturado em 1998, após uma intensa caçada policial que chamou atenção nacionalmente pela gravidade dos crimes e pela relação com questões de segurança pública e falhas no acompanhamento psicológico do indivíduo. Essas informações revelam o pano de fundo do filme e poderiam ter contribuído para uma reflexão mais profunda sobre os problemas estruturais que circundam esses casos no Brasil. No entanto, a produção deixa de lado o contexto social e psicológico mais amplo, concentrando-se nos atos de Francisco de maneira quase fetichista, o que acaba por minimizar o impacto real que a história poderia proporcionar.
A estrutura narrativa do filme opta por uma abordagem fragmentada, utilizando avanços e recuos temporais na tentativa de construir uma atmosfera de mistério e suspense. Esse recurso, no entanto, muitas vezes torna a trama confusa e fragmentada, prejudicando a compreensão e a linearidade dos eventos. Em resenha publicada no Observatório do Cinema, críticos apontaram que o formato descontínuo dificulta a imersão e parece uma tentativa forçada de elevar a complexidade da narrativa, mas que, na prática, mais desorienta o público do que contribui para o suspense .
Outro ponto de crítica se dá na representação dos personagens. Silvero Pereira entrega uma atuação intensa e convincente, buscando capturar a frieza e o cálculo do personagem, enquanto Giovanna Grigio como Elena busca compor uma personagem ambiciosa e determinada. No entanto, ambos os personagens carecem de uma profundidade psicológica mais bem explorada. Francisco é retratado de maneira monolítica, como um vilão sem nuances que pouco revela sobre as raízes de sua psicopatia. Em comparação com produções semelhantes, como Mindhunter (2017) ou Zodíaco (2007), que abordam a psicologia dos assassinos com uma complexidade que permite ao público compreender as dinâmicas por trás dos crimes, Maníaco do Parque se limita a apresentar o personagem como uma figura de pura maldade, sem abordar os fatores psicológicos, ambientais ou sociais que poderiam enriquecer a análise.
Além disso, o filme falha em humanizar as vítimas de Francisco. As mulheres atacadas são frequentemente representadas como personagens secundárias, sem desenvolvimento emocional ou histórico. Essa abordagem contribui para a despersonalização das vítimas, um problema que também foi criticado por especialistas em criminologia e cinema, como expresso em resenha do CinePOP, que observa que a produção perde uma oportunidade de transmitir o impacto devastador dos crimes ao minimizar a presença das vítimas e não contextualizar suas histórias . Em O Silêncio dos Inocentes (1991), por exemplo, há uma tentativa de construir uma narrativa de tensão sem explorar o lado sensacionalista, o que falta em Maníaco do Parque.
A produção também falha em apresentar uma tese central. O filme oscila entre a tentativa de denunciar a violência e o sensacionalismo que a envolve e a simples dramatização dos eventos. Em um contexto em que a mídia brasileira foi fortemente criticada por sensacionalizar crimes e transformar criminosos em figuras midiáticas, seria de se esperar que a obra explorasse as responsabilidades da cobertura jornalística e sua influência no comportamento de figuras psicopatas. Mas essa análise crítica está ausente, deixando o público com uma narrativa que parece incompleta e superficial.
De modo geral, Maníaco do Parque entrega uma adaptação fiel aos eventos em termos factuais, mas perde a oportunidade de explorar a complexidade psicológica dos personagens e a profundidade dos temas sociais envolvidos. Em uma sociedade onde a violência contra a mulher e a psicopatia são temas cada vez mais relevantes, faltou ao filme uma abordagem mais fundamentada e crítica, capaz de ultrapassar o mero relato dos eventos.
A ausência de uma tese central, somada a uma narrativa que privilegia o sensacionalismo, limita o impacto da obra e impede que ela alcance a profundidade necessária para um filme sobre um tema tão trágico e complexo.