Herege é uma das grandes surpresas de 2024, mostrando que até mesmo diretores desacreditados podem se redimir e entregar uma obra marcante. Após o fracasso de 65: Ameaça Pré-Histórica, Scott Beck e Bryan Woodsa, a dupla de diretores ressurge com uma narrativa que mescla suspense, terror psicológico e uma profunda reflexão sobre fé e crenças. Porém, o grande destaque é Hugh Grant, que aos 64 anos brilha com uma performance visceral, provando ser um dos atores mais versáteis de sua geração.
O filme começa de forma discreta, aparentando ser mais uma história de suspense genérica, mas rapidamente subverte as expectativas. A presença de Grant domina cada cena, trazendo um contraste fascinante entre o carisma quase desconcertante e a intensidade do enredo sombrio. Sua habilidade em alternar entre humor e seriedade potencializa a narrativa, tornando Herege uma experiência cativante e perturbadora.
O roteiro de Herege opta por um suspense mais introspectivo, focado em provocar reflexão ao invés de sustos previsíveis. A trama explora temas religiosos de maneira profunda e provocativa, questionando crenças e dogmas sem cair em simplificações. Os diretores usam diálogos densos e momentos de tensão crescente para criar um ambiente de desconforto constante. Cada cena carrega um peso emocional que tece um labirinto de incertezas, mantendo o público em alerta enquanto provoca questionamentos sobre fé, controle e medo.
A direção não se limita a sustentar a narrativa com jumpscares ou violência explícita. Ao contrário, ela constrói a tensão de forma gradual e imersiva, usando a ambientação claustrofóbica e diálogos carregados de subtexto. É nesse espaço que Grant brilha, trazendo um equilíbrio perfeito entre mistério e humanidade, sendo ao mesmo tempo atraente e enigmático.
Um dos grandes méritos de Herege é sua abordagem das questões religiosas. O filme não apresenta uma visão dogmática ou panfletária, mas convida o público a refletir. Os dilemas dos personagens, muitas vezes atormentados pelo medo e pela dúvida, refletem discussões universais sobre o poder da religião como guia ou opressão. Passagens e referências bíblicas são integradas de maneira sutil, enriquecendo a trama e convidando o espectador a ponderar o que é real ou imaginado.
Esse equilíbrio entre narrativa e reflexão é mantido com maestria, especialmente nas cenas de diálogo, que oferecem momentos de respiro sem perder a intensidade. Grant, com sua presença magnética, é o catalisador dessas pausas, tornando cada conversa uma oportunidade para intensificar o suspense e explorar as motivações dos personagens.
Herege é um filme que transcende gêneros, misturando suspense, terror e drama em uma narrativa que inquieta e fascina. A entrega de Hugh Grant, em uma das melhores performances de sua carreira, eleva o filme a um patamar excepcional. É uma obra desconfortável, mas que se torna indispensável por provocar reflexões profundas enquanto envolve o espectador em sua atmosfera densa.
Indicado como um forte concorrente nas premiações, Herege é um lembrete poderoso de que o cinema pode ser uma ferramenta para questionar nossas crenças e desafiar nossos limites emocionais. Um dos filmes mais marcantes do ano e um testemunho do talento inesgotável de Hugh Grant.