O filme é bem pior que o primeiro de fato, a história não é apresentada de uma maneira clara como no primeiro filme. Mas se você prestar atenção e buscar a mensagem que o filme tenta passar você consegue extrair a crítica.
O filme “O poço 2” apresenta uma narrativa semelhante à do primeiro filme e também é construído com o intuito de nos apresentar uma crítica social. O filme apresenta a idealização do que grande parte das pessoas dizem ser “a solução para os problemas da sociedade”, no caso, a “igualdade”.
No primeiro filme, “O poço”, a ideia que a maioria dos espectadores tem ao final do filme é de que se cada um comesse apenas seu próprio prato o poço funcionaria de maneira perfeita e não haveriam os problemas de canibalismo e mortes que se apresentaram na narrativa. Contudo, no segundo filme, essa ideia se mostra impossível de ser aplicada com sucesso por diversos fatores.
Em “O poço 2”, os integrantes do poço tentam aplicar uma lei, que diz que você deve comer apenas o prato que você solicitou a não ser que realize uma troca, no entanto, isso não se mostra eficaz, visto que a comida chega apenas até o nível 175 e existem 333 níveis. O porquê disso se dá pelo mesmo fator vivenciado na nossa sociedade atual entre os ricos e os pobres; alguém sempre quer mais do que realmente precisa. No filme, algumas pessoas dos níveis superiores não estão dispostas a comerem apenas o necessário para que todos possam se alimentar, da mesma forma que na nossa sociedade atual os ricos não estão dispostos a terem menos para que todos tenham a mesma quantidade. Esse sistema de “igualdade” é impossível de ser aplicado de forma eficiente tanto no filme quanto na vida real, isso pois a igualdade e a liberdade não andam juntas. A existência de uma sociedade 100% igualitária inviabiliza a liberdade do ser humano.
Isso acontece a partir do momento em que a liberdade de querer mais e buscar crescer na vida é retirada das pessoas, uma sociedade 100% igualitária faria com que as pessoas não tivessem objetivos a serem alcançados, pois se você não pode ter mais do que outras pessoas suas ações e motivações se limitam ao simples ato de sobreviver, eliminando a ambição e o progresso pessoal. Isso cria um ambiente estagnado, onde o conformismo prevalece, e o desejo de melhorar se torna irrelevante. O que obviamente não é satisfatório para o ser humano, que desde o início dos tempos busca justamente superar desafios, evoluir e conquistar novas metas, impulsionado pela necessidade de progresso e reconhecimento. Essa busca constante por crescimento, seja material ou intelectual, é uma característica intrínseca da humanidade, e a ausência de incentivo para isso inevitavelmente gera frustração e descontentamento, assim como pudemos ver que gerou no filme.
Por exemplo, no filme, os pratos das pessoas falecidas eram descartados na privada, com o objetivo de seguir a lei à risca, o que nos mostra que o intuito da lei nunca foi alimentar as pessoas e salvá-las da fome, mas sim manter o controle e a ordem, reforçando a ideia de que a estrutura do poço é mais sobre poder e punição do que compaixão ou justiça. Dessa forma, comprovando que a ideia de “igualdade” é apenas teórica, pois na prática essa “igualdade 100%” mais atrapalha do que ajuda o desenvolvimento do ser humano individualmente e socialmente. Isso pois, o egoísmo e a ganância são as principais características dos seres humanos, o que torna a aplicação da igualdade e o sentimento mútuo de empatia para com os outros praticamente impossível de ser 100% viabilizado de maneira concreta e eficaz. Se esse sistema não funcionou em um poço com 666 pessoas, não funcionará em um país com 20 milhões e muito menos em um mundo de 7 bilhões de pessoas.
Outro ponto apresentado no filme que faz alusão à vida real é um tipo de “Deus”, um homem que criou a lei. Isso se relaciona com a religião na nossa sociedade atual pois, muitas vezes, a religião coloca uma figura de autoridade divina que dita regras absolutas, e apenas essa entidade ou seus representantes têm o poder de alterar ou reinterpretar essas leis. Isso reflete o controle centralizado, onde os indivíduos são obrigados a seguir normas sem questionamento, reforçando a submissão e o dogmatismo, assim como ocorre no filme, onde as pessoas estão presas a um sistema inalterável, sem espaço para questionar ou desafiar a autoridade imposta.
O filme serve para mostrar uma perspectiva de como se daria a aplicação de um sistema 100% igualitário, seu desenvolvimento, e quais seriam as consequências. A construção dessa suposição foi realizada com fatores característicos da sociedade atual, e que poderiam facilmente virem a se tornar realidade.