Panfleto ou não panfleto? Esta é a questão... Ainda me questiono se realmente os diretores se dedicaram a produzir um panfleto ordinário e mendacioso, para atender à propaganda "ocidental", ou se poderia haver neste filme alguma camada ambígua, passível de articulação por um olhar mais acurado e um senso crítico minucioso. Não acho resposta que possa me convencer. Porque, vejamos, o filme nos apresenta de forma repetitiva, esquemática, praticamente com o mesmo tipo de enquadramento e a mesma estrutura discursiva, suas personagens oprimidas lidando com alguma forma de abuso. Sempre nos é mostrada somente a situação desses oprimidos, nunca vemos o outro lado, sabemos apenas que são autoritários, hipócritas, pervertidos etc, provavelmente porque sejam parte do governo iraniano. Com certeza, em Teerã, a não ser que você goste do Mickey Mouse, muito provavelmente, você não presta. Tudo é artificial no filme, ele poderia ter sido rodado nos quartos da minha casa, ou em qualquer outra sala fechada no mundo. Mas com aqueles burocratas maus certamente devemos supor tratar-se de Teerã. Até que um argueiro me colocou no impasse, veio por metalinguagem. Os diretores, se é que estão mesmo a trabalhar em um panfleto, se dariam a mostrar que no Irã não se podem fazer filmes que falam mal do governo teocrático? E no entanto, eu estaria vendo o quê exatamente? Então repensei os elementos do simplório e tosco como se pudessem mostrar na verdade, a parvoíce da própria visão ocidental sobre a sociedade iraniana e seus estigmas. Não poderia mesmo ser assim? Bem, as mazelas do filme são realmente tão diferentes do que se pode verificar em situações análogas no mundo ocidental? Aqui não há abuso? Nossa sociedade é de fato menos opressiva do que qualquer outra sociedade no planeta? Difícil acreditar. Modéstia à parte, acredito que eu tenha o tal do senso crítico minucioso, porém não deve ser muito difícil que um telespectador menos experiente saia da sessão achando que o Irã é aquilo que o filme nos mostra. Direto e reto, sem contradições. Nunca foi tão fácil condenar uma nação. E eis que a dúvida permanece, se panfleto ou um sútil ardil da significação. Mesmo durante o final, explícito ou enigmático, permanece a dúvida do que promete sacudir-se sismal, o terrível e insensível governo iraniano ou a sua mera caricatura esboçada pelo ocidente.