Filme nacional à vista: apesar de essa frase se encaixar muito bem num convés de navio, a produção brasileira e americana “Meu Amigo Pinguim” surge nas telas de cinema. Para crianças e pais assistirem sem moderação ou sem filtros.
É bom adiantar que aquele que espera ver um filme no estado último da arte, melhor deixar o raciocínio crítico de lado. “Meu Amigo Pinguim” não tem esse perfil e nem pode ter isso.
Conforme escrito anteriormente, as palavras convés, navio e mar têm tudo a ver com o diretor da película David Schurmann. Vindo de uma família catarinense de aventureiros que navegou por todos os mares do planeta, ele possui intimidade com a câmera, já que gravou e registrou povos, culturas, natureza e o azul do céu e do oceano.
“Meu Amigo Pinguim” suscitou paixões nos bastidores, quando houve interesse por parte dos americanos em filmar a história de amizade entre um pescador e um pinguim. Feito isso, era necessário fazer toda a produção.
E justamente nesta parte que começa a diferença de “Meu Amigo Pinguim”: a produção é simples com basicamente duas locações que se entrecruzam no enredo. Uma no ensolarado Brasil e outra na Argentina. O ritmo do filme é intercalado, com bons e engraçados momentos em ambos os países.
A história é real, não se trata de roteiro de ficção. Se o leitor tiver dúvida, é só consultar o pescador João Pereira de Souza. Foi ele que encontrou Dindim (nome dado ao ilustre pinguim) cheio de óleo em suas penas na região de Ilha Grande.
Mais curioso do que um simples encontro é que Dindim se recusa a ir embora quando está recuperado. Decide ficar por mais tempo nas águas tropicais do Brasil. Até que um dia, vai embora para o Sul. Foi assim durante 8 anos, visitando o pescador João, o qual fica marcado pela perda do filho numa tempestade em alto mar. Solitário, ele encontra no animal, uma oportunidade de sentir amor, de interesse em viver. De ressurgir o sentimento. De voltar a sentir vida.
Essa comoção que permeia o relacionamento entre humanos e animais é que servirá de boa base para a película. Embora não seja com a mesma intensidade vivida no Brasil, o relacionamento com os biólogos argentinos tem seus bons momentos.
“Meu Amigo Pinguim” é um programa certeiro para crianças e para os seus pais. Aqueles que não têm filhos também podem se candidatar a uma poltrona perante a tela grande.
Dindim é mostrado com uma inteligência fora do comum para um animal. É como se tivesse nascido com um radar. Sua excentricidade (já que é um animal de áreas geladas) cativa não só pescadores como todos da localidade de Ilha Grande. Um ponto de identificação com qualquer pessoa do mundo.
Meio clichê que filmes que retratam animais e humanos não conquistem o público. Seria injusta qualquer crítica nesse sentido. O realce de que a história foi verdadeira atrai curiosos e os que acreditam no poder da amizade entre reinos (humano, animal e vegetal) diferentes. É algo que se complementa, que se entende e que acaba em entrega, visto que são seres vivos que se entrelaçam, que se unem.
Jean Reno não possui muitos diálogos. Preferiu investir no gestual, na expressão do corpo. Deve ter entendido que esse tipo de relação não é prolixa ou cheia de frases contundentes. Palavras são meras coadjuvantes em “Meu Amigo Pinguim”. Ele acertou bem nessa aposta.
Outros destaques do filme vão para a direção de fotografia, onde se captam belos quadros das ilhas e do sol, e também para a música composta, digna de sensibilidade – a mesma qualidade que permeia a comovente relação de João com o pinguim-de-magalhães.
No mais, a película gira em torno da simplicidade: tanto a das paisagens naturais e as habitações dos pescadores quanto a de qualidades tão procuradas hoje em dia como o valor da vida (mesmo que seja a de um animal), o estender a mão para ajuda, a compreensão, a humildade e a relação entre os seres vivos. Dindim não é humano, mas só por suas visitas e seu comportamento, ele dá exemplo. Só exemplo positivo. É a arte (de viver).