O início do ano costuma ser um período complicado para os lançamentos cinematográficos. Tradicionalmente, janeiro e fevereiro são vistos como a "temporada de descarte" de Hollywood, quando estúdios lançam projetos nos quais não depositam grandes expectativas comerciais. Acompanhante Perfeita, novo thriller de comédia produzido pela Warner Bros., tenta driblar esse estigma ao apostar em um conceito contemporâneo e um elenco jovem em ascensão. No entanto, a execução tropeça em decisões criativas questionáveis e na falta de um direcionamento mais preciso, resultando em um filme que entretém, mas não entrega tudo o que promete.
Com direção e roteiro de Drew Hancock, que faz sua estreia como cineasta após trabalhar como roteirista em séries como Supernatural e The Flash, o filme parte de uma premissa intrigante: até que ponto a inteligência artificial pode substituir relações humanas? O tema, extremamente atual, tinha potencial para ser explorado de maneira profunda, mas a abordagem escolhida pelo cineasta oscila entre a sátira e o terror leve, sem nunca se comprometer inteiramente com um desses gêneros. A consequência é uma narrativa que parece sempre hesitar, como se tivesse receio de levar sua premissa até as últimas consequências. Se por um lado Hancock apresenta um conceito promissor, por outro, ele se perde ao tentar abordar múltiplos temas sem se aprofundar em nenhum. O longa flerta com discussões sobre a objetificação feminina, a superficialidade das relações contemporâneas e o impacto da tecnologia na sociedade, mas essas reflexões nunca se solidificam completamente, deixando a trama com um tom superficial.
Outro ponto que compromete a experiência é a campanha de marketing equivocada. Diferente de Noites Brutais, produção com a qual compartilha alguns membros da equipe e que apostou no mistério absoluto para instigar a curiosidade do público, Acompanhante Perfeita entrega praticamente todo o seu enredo nos materiais promocionais. O trailer revela reviravoltas importantes e enfraquece o impacto do filme para aqueles que já chegam ao cinema cientes de sua proposta. Enquanto o desconhecimento da trama pode proporcionar uma experiência mais envolvente, o excesso de informações divulgadas acaba reduzindo o fator surpresa e prejudicando a imersão de quem esperava algo além do óbvio.
Apesar dos problemas, o elenco consegue sustentar parte da narrativa. Jack Quaid, Sophie Thatcher e Lukas Gage formam um trio carismático, e suas performances ajudam a manter o ritmo da história mesmo quando o roteiro se mostra inconsistente. Quaid, em especial, entrega uma atuação que equilibra bem o humor e o suspense, enquanto Thatcher confirma seu talento em ascensão. No entanto, a interação entre os personagens poderia ser mais desenvolvida, já que a curta duração do longa compromete momentos que seriam essenciais para criar conexões mais profundas entre eles.
Visualmente, Hancock adota uma direção segura, sem grandes ousadias. Há uma boa utilização de iluminação e cores para criar atmosferas contrastantes entre a frieza da tecnologia e a vulnerabilidade humana, mas nada que realmente se destaque dentro do gênero. A montagem contribui para o tom dinâmico do filme, e algumas sequências de comédia funcionam bem, ainda que a insistência em diálogos expositivos – onde os personagens verbalizam constantemente suas ações e sentimentos – torne a narrativa menos natural.
No final, Acompanhante Perfeita funciona dentro da proposta de entretenimento leve, mas deixa a sensação de que poderia ter sido muito mais. Se tivesse abraçado com mais convicção a sátira ou investido em um suspense mais afiado, poderia se destacar dentro do gênero. No entanto, ao tentar equilibrar elementos cômicos e reflexivos sem aprofundá-los, o filme se torna uma experiência divertida, mas facilmente esquecível. Ainda que não seja um desastre, sua execução irregular e a falta de impacto emocional fazem com que, no fim das contas, ele seja apenas mais um lançamento genérico na vasta lista de produções que exploram a relação entre humanos e tecnologia.