“Excluídos” e a questão étnicaO óbvio agradaria mais, os clichês, ou temas mais leves
Filosofia no Sul
Filosofia no SulPor Mariano Soltys, teólogo e filósofo
05/03/2023 09h49Por: Redação
Ultimamente anda tendo polêmica com o filme “Excluídos”, uma vez o final da produção não ter agradado aos que assistiram, apesar de ser um final inteligente. O óbvio agradaria mais, os clichês, ou temas mais leves. O filme aborda o abandono de uma mãe em relação aos filhos, somado à questão racial, além de classes sociais e vidas diversas de ricos e pobres.
De começo, achei que a trama se daria em um suspense, apesar de que não está classificado como terror ou suspense. O tema parece levar a entender que a protagonista tinha alucinação e estava tendo visões de pessoas que a perseguiram, no caso de um jovem homem, o qual aparecia na escola onde ela trabalha, bem como na casa, rua e outros lugares.
Isso desperta a curiosidade de quem assiste, de modo a levar a pensar que ela seria internada, ou que os vultos seriam de algum fantasma. Isso leva a quem assiste a pensar em outras coisas e não nos filhos abandonados, verdadeiros fantasmas do passado, que assombram a protagonista, agora de classe alta, mas antes pobre, quando teria abandonado os meninos. “Excluídos” é muito criativo nesse desenrolar.
O fato de quem o vê pensar em outras coisas, e ainda não se focar no tema da vulnerabilidade social do passado, ligado a protagonista pobre, ou a questão negra, étnica, a que os filhos ficaram sujeitos, além da social e abandono, revela a realidade de muitos casos, e também o fato de se negar a própria origem, cultura, passado ou etnia.
Classes sociais – Na amizade de filhos atuais com os antigos, os excluídos, mostra também um risco a que a inveja tomaria conta, e que por fim revela a verdadeira intenção dos filhos, agora sedentos por vingança, quando tomam a casa da mãe e tentam recuperar eventos familiares, unidos a violência e a tortura, para compensar sua exclusão e sofrimento, quando da mãe tê-los abandonado.
O filme assim leva a considerações como de classes sociais, a questão negra e racismo estrutural, o avanço social de pessoas que negam suas origens mais humildes, a perda de identidade, a falta de alteridade, o ser que se dissolve numa sociedade capitalista e burguesa.
Essência – Desde aspectos existencialistas, materialistas, ontológicos, mesmo até sociológicos, revelam que a negação da própria pessoa, etnia, classe social e muitas coisas, não apenas excluem pessoas que estão ligadas às pessoas, mas elas próprias de si mesmas, numa crise existencial e alienação.
O filme “Excluídos” mostra isso e muito mais, e revela uma crítica social do preto que nega o preto, da classe média que nega a origem antes vulnerável, dos filhos ou pais que negam sua ancestralidade. Há por fim uma fuga da própria essência.