Os muitos planos abertos utilizados em algumas sequências (limitação técnica ou influência do teatro?) prejudicam a mise-en-scène, mas os enquadramentos mais fechados também não se mostram efetivos quando alguns atores exageram na pantomima teatralizada.
Mary Philbin, como Christine, exagera seus gestos e curva sua postura em momentos de pavor, remetendo ao pior da estética expressionista alemã da época. Alguma cenas viram pastiche quando essa ampliação sentimental dos atores fica muito evidente. A pior nesse sentido é a de quando um dos proprietários da ópera tenta manifestar sua surpresa com o surgimento de um bilhete sobre a mesa, e o que se segue é uma repetição de movimentos mecanizados e ilustrativos de um ator pouco inspirado.
Alguma cenas do filme parecem clamar por um som diegético que, infelizmente, só surgiria com força nos anos seguintes. A sequência da performance de Christine, sabotada num jogo de luzes pelo Fantasma, e numa montagem precisa que desenvolve a tensão da queda do lustre, é muito bem articulada por Rupert Julian, mas, ao mesmo tempo, instiga a imaginação do que poderia ser feito aqui numa sinfonia entre música e diegese.
Ainda assim, toda a pontuação dramática pela trilha é uma das coisas mais interessantes do longa. A cena de revelação do fantasma por trás da máscara acaba sendo o ponto alto de tudo, por conta desse encadeamento entre música e mise-en-scène que amplia o horror da fisionomia do personagem de Chaney.
A condução do Fantasma, em si, apresenta-se de modo irregular. O filme consegue manter um tom místico consistente até sua revelação, no uso de sombras e pela própria caracterização do personagem. Quando seu rosto é revelado, o que se segue é uma cena muito legítima de horror. Entretanto, o restante do filme não consegue manter a força desse personagem, e parece não saber aliar um drama por sua natureza trágica com o terror pela sua presença em cena.
Numa cena sintomática disso, após o salvamento de Raoul, o Fantasma gesticula tentando aterrorizar o casal, mas acaba completamente ignorado. Depois disso, o filme parece lembrar de sua importância e volta a desenvolver sua figura como legitimamente ameaçadora, em novo rapto de Christine. Esse personagem, que oscila entre Fantasma e Erik, que alterna entre o patético e o ameaçador, não consegue convencer em nenhum destes extremos, e nem mesmo retirar alguma força da ambiguidade.
É curioso como todo o ato final trabalha com aspectos narrativos que foram predominantes nas décadas anteriores do cinema. Os salvadores de Christine, presos e torturados no calor e depois afogados, parecem inseridos numa fantasmagoria de Meliès. A decupagem, se muito falha na conexão dramática entre ambientes distintos, acaba funcionando como delimitadora desse espaço dedicado a recursos mágicos de um cinema primitivo.
Por fim, a última sequência lança mão da perseguição, outra característica marcante do Primeiro Cinema. A multidão que persegue o Fantasma é acelerada e transfigura-se em um borrão de violência e reparação. O fim desse vilão é trágico e melancólico, nada mais que uma massa disforme jogada às águas. Um final que renega o dúbio fascínio do diretor pela sua presença em tela, mas que soa adequado a um filme que carece de inventividade dramática.