Conhecido por seus filmes intimistas e humanistas, que exploram temas como a família, a perda, a identidade e a natureza da vida, Hirokazu Kore-Eda retorna com o fenomenal e intrigante ‘Monster’. Uma mãe solteira se vê na situação de descobrir o que anda acontecendo com seu filho devido à sua brusca mudança de comportamento e encontra uma resistência burocrática, porém irritantemente respeitosa por parte da escola. Uma grande característica dos filmes de Hirokazu Kore-Eda é como ele usa close-ups e planos longos para criar uma sensação de proximidade com os personagens. Em ‘Monster’, chega a ser claustrofóbico devido ao enredo muito bem costurado pelo genial roteirista Yûji Sakamoto.
O que fica claro durante todo o filme é como as palavras transformam e moldam todo um ambiente, irradiando por todos os poros sociais. O julgamento à revelia vale mais do que as investigações do fato, e o professor Hori irá sentir na pele o peso de tais ações e julgamentos. Ele se vê encurralado não só pelas acusações, mas por todo um sistema de costumes sociais japoneses que o aprisiona, fazendo com que, aos poucos, ele vá perdendo tudo o que importa para ele.
Enquanto o oceano de angústia afoga Mugino e Yori, eles precisam escapar de qualquer maneira deste julgamento social. Principalmente sofrido por Yori, um menino sensível e cheio de vida que, por andar com as meninas na sala de aula, sofre bullying de seus colegas de classe, deixando em cheque a amizade com seu amigo Mugino, que para mostrar ser um dos pertencentes deste sistema auto-opressor, o ignora.
O filme machuca e faz refletir, sobre tudo, como nós, humanos, não conseguimos enxergar a dor até mesmo daqueles que estão ao nosso lado e, principalmente, daqueles que amamos tanto. Assistir ‘Monster’ é um exercício ético e empático que todos devem praticar para viver em um mundo onde não possam machucar aqueles que sofrem calados com medo de serem apedrejados pela opinião alheia.