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    MaXXXine
    Críticas AdoroCinema
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    Final da trilogia X economiza no terror, mas prova que Mia Goth é uma estrela

    por Aline Pereira

    “Nessa indústria, até que você seja conhecido como um monstro, não será uma estrela”. A frase de Bette Davis que abre MaXXXine sintetiza a história da trilogia que fez Mia Goth (sim, sim, eu sei, a neta da atriz brasileira Maria Gladys) brilhar interpretando duas personagens rapidamente abraçadas pelo público como novos ícones do terror hollywoodiano. Dois anos após a estreia de X - A Marca da Morte, Maxine Minx retorna em uma história que, ao mesmo tempo, se afasta e se aprofunda em seu próprio universo.

    A trama de MaXXXine começa pouco tempo depois dos acontecimentos de X e nos traz uma protagonista implacável: o trauma do massacre na fazenda não impede Maxine de tentar, a todo custo, firmar sua carreira de estrela de cinema. O cenário agora é uma Hollywood caótica em meio aos anos 80, em que o glamour da indústria cinematográfica convive com um submundo artístico bem menos favorecido, com a ameaça de um serial killer conhecido como Night Stalker e com um clima social tenso marcado pelo chamado “pânico satânico”, a paranoia de que supostos ocultistas e ritualistas estariam conspirando para cometer crimes contra a população.

    Mia Goth é uma estrela

    Embora já tivesse dado bons primeiros passos na carreira em filmes sombrios antes, com papéis de destaque em Suspiria, A Cura e Ninfomaníaca: Volume 2, é justo pontuar X - A Marca da Morte como uma consagração: o timbre inconfundível e a presença parte ingênua, parte enigmática tornaram Mia Goth um rosto valioso no gênero. Com Pearl, a versatilidade na atuação e o envolvimento mais profundo no roteiro e na colaboração com o diretor Ti West vieram acrescentar mais uma camada de prestígio. Com o terceiro, acho que já é seguro dizer: sim, ela é uma estrela.

    A24 / Universal Studios

    Enquanto X e Pearl foram filmados praticamente juntos antes do lançamento do primeiro filme – um aposta do estúdio A24 que se pagou na bilheteria e na crítica –, MaXXXine parece ter dado um pouco mais de tempo para que sua protagonista amadurecesse e encontramos aqui uma personagem mais comedida e imponente. É como se o contato entre Maxine a versão idosa de Pearl que aconteceu em X tivesse transferido à primeira um pouco do espírito da segunda, que vimos em seu filme-solo. A fome pela glória é enorme e não mede consequências, mas com muito mais esperteza agora.

    Após assistir ao filme, pude entrevistar Mia Goth e a questionei sobre um possível “heroísmo” em suas duas personagens – é difícil não torcer por elas e mesmo com toda a truculência, a trama tem seus meios para criar um vínculo entre elas e o público. “Mesmo que o ambiente e tudo em torno delas tente derrubá-las, elas não sucumbem. Elas continuam indo em frente”, disse a atriz.

    De fato, a violência com que Maxine responde ao mundo parte da brutalidade a que ela é frequentemente submetida e sua perseverança ativa em quem assiste um sentimento de que ela merece vencer apesar dos meios escusos. Penso que essa sensação vem, claro, do roteiro, mas passa fortemente pelo domínio que Mia Goth tem da personagem, de suas intenções e nuances. Assisti-la neste universo é uma experiência marcante e cativante. Movie star.

    Hollywood é um personagem em MaXXXine

    A24 / Universal Studios

    Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito e o novato Moses Sumney entram no universo de Maxine como algumas das figuras interessantes que representam ideias no mundo do cinema hollywoodiano. A diretora durona, o agente inescrupuloso e o cinéfilo profissional são como a personalização da indústria que a protagonista deseja tanto entrar e a atingem de formas distintas.

    Sem spoilers, é claro, mas é particularmente interessante como a relação entre ela e Leon, personagem de Sumney que trabalha em uma locadora, expressa a conexão de Maxine com a arte e a humanidade propriamente dita – ao passo que a relação com a diretora interpretada pela atriz de The Crown, por exemplo, desafia a protagonista a encarar o trabalho na vida real, muito mais intimidador do que parecia em seu campo das ideias.

    É longa a lista de dramas que homenageiam o próprio cinema, mas encontrar uma “carta de amor” (com o perdão da expressão batida) em um filme de terror tem um sabor diferente. Os três filmes da franquia estabelecem conexões fortes entre seus personagens e o ofício do cinema e, pode parecer estranho, mas ocasionais banhos de sangue e mortes terríveis não apagam um certo tom de encanto que preserva a magia da sétima arte.

    Em MaXXXine, isso acontece de forma ainda mais direta com passagens que envolvem acenos a outros gêneros cinematográficos, lembranças a estrelas reais e uma filmagem no cenário original de Psicose – experiência que Mia Goth definiu como “sagrada”.

    Qual é o melhor filme da trilogia? X, Pearl e MaXXXine são muito diferentes

    A24 / Universal Studios

    O tema central da relação sombria entre os personagens e o fazer cinematográfico dão unidade ao mundo de Maxine Minx, mas os três filmes são obras tão distintas que funcionam bem de forma independente. Não é preciso seguir a cronologia ou assistir a um para entender os outros – embora eu desconfie de que quem não gostou de um também não vai gostar nos outros –, mas estar familiarizado com a ideia proposta por Ti West certamente aprimora a experiência.

    Isto posto, MaXXXine não é o ponto mais alto da trilogia, embora seja, sem dúvidas, o mais ambicioso. Digo isso pela sensação de dispersão que o longa me causou em alguns pontos: ao expandir o universo para fora da fazenda que serviu de cenário aos outros filmes, a terceira parte pincelou diversas pequenas histórias e parou na superfície de várias delas.

    A lista de novos nomes atrativos como Lily Collins e Halsey parecem mais uma tática de marketing do que uma escolha criativa, ao passo que a exploração de outros pontos de mistério, como a presença do Night Stalker, por exemplo, tem desdobramentos pouco climáticos. O terceiro filme diminui sua veia slasher e abre espaço para um thriller de investigação que é bem-vindo, instigante e pertinente tendo em conta o cenário de Hollywood oitentista, mas que deixa a sensação de parar no meio do caminho. Em meio a tantos estímulos, referências e easter eggs, faz falta uma certa assertividade que é característica da protagonista.

    Em certo ponto de MaXXXine, a frase “todo mundo adora um azarão” expressa bem o carisma da trilogia da Mia Goth e Ti West a da história de uma personagem que literalmente dá o sangue (dela e dos outros) por um sonho que até é delirante, mas é genuíno e nos faz sentir pela - até onde se sabe - despedida.

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