O filme Carvão, dirigido por Carolina Markowicz, é uma obra intensa e perturbadora que mergulha nas complexas dinâmicas familiares e sociais do interior do Brasil. A trama gira em torno de Irene, uma mulher esgotada pela vida e por um casamento sem amor, e sua relação com o marido homossexual, Jairo, e o filho Jean. A família vive em um isolamento rural, onde a relação com a vizinha Luciana é uma das poucas conexões externas. Quando uma enfermeira propõe uma troca envolvendo a morte de um ente querido para aliviar o sofrimento e obter dinheiro, o filme escancara a dureza da realidade local e as escolhas desesperadas dos personagens.
O destaque do filme é a atuação de Maeve Jinkings como Irene, cuja performance demonstra a exaustão emocional e física de sua personagem. A narrativa é crua, sem rodeios, e o diretor evita explicações didáticas, permitindo que o público se envolva com a complexidade dos personagens e suas situações. A presença do religioso no cotidiano da família, com imagens e canções litúrgicas, estabelece um contraste irônico com os dilemas morais e éticos que permeiam a história. Isso é explorado com maestria pela diretora, que faz da religiosidade uma marca da hipocrisia e do sofrimento.
Além disso, o filme não oferece uma saída ou redenção para os personagens. Em vez disso, ele enfoca as rachaduras estruturais da sociedade brasileira, onde a falta de alternativas e a desumanização das pessoas se perpetuam de geração em geração. Essa abordagem faz com que Carvão seja uma análise sombria e sem concessões da realidade social e familiar no Brasil rural.
Realidade nua e crua, um soco no estômago, um dos melhores filmes de 2022!