Pai e filha ingleses decidem pegar um avião e ter alguns dias ensolarados na Turquia. E por estarem de férias, buscam aproveitar ao máximo.
Paul Mescal vive um pai separado e tem na filha sua grande companhia. Ora comanda a diversão, ora se deixa levar pela filha. Ora deixa a filha interagir com outros jovens. Ela mesma é uma jovem de 11 anos, conhecedora da situação conjugal de seus pais. Sophie encontra na figura adulta, o desfrute de momentos como participar de um karaokê ou ser estrela do filme caseiro criado por Calum.
Na bagagem, ele carrega uma filmadora e seu produto será revisto por uma Sophie já adulta, aparecendo em relances.
Os ‘flashes’ e efeitos utilizados na narração da história remetem a um tipo de cinema experimental, tecnicamente falando. Uma maneira de estabelecer conexão entre um passado vivido por momentos que toda criança gosta de sentir e um presente entrecortado, com algumas fraturas.
A película vai girar exatamente nesses momentos; é a temática principal com visitas a piscina, passeios de barco e conversas no quarto de um hotel turco.
Há que frisar a boa fotografia com lindas paisagens da Turquia e a montagem do próprio filme, onde se nota que não há prejuízo de seu andamento, embora insistentemente centrado no par formado por Calum e Sophie. Reforço de colocar em pauta as relações familiares.
Sophie (aliás, bem desempenhada pela atriz Frankie Corio) encarna o lado mais entusiasmado e caloroso da relação, enquanto seu pai se esforça em sê-lo. Mesmo que amparado por sua predileção em praticar tai chi, Calum não se abre muito. Um recurso que o próprio filme explora em instantes peculiares onde se desprende o choro, a distância social e a decisão de nunca mais voltar para o país natal.
Não existem charadas ou diálogos para ser adivinhados. Até porque “Aftersun” é um filme fácil de entender no tocante a palavras, porém de ritmo mais vagaroso e monótono em que é preciso ter atenção sobre o que realmente transparece na ligação dos protagonistas. Vai ficando morno. Há até uma repetição de cena durante o transcorrer da história.
Para os que aguardam um desfecho, “Aftersun” não possui essa finalidade ou característica. Aproxima-se mais de um mistério, de algo que está ali na esquina, mas nunca parece estar. Sempre escapa algo.
Por fim, é uma referência para a criação e manutenção das relações próximas, incluindo as familiares. Isso é um ponto que para nós, latinos, levamos mais em consideração do que os europeus, acostumados a serem mais frios e secos. Para estes últimos, o recado ou a lição de “Aftersun” cai como uma luva na reavaliação da condução do relacionamento humano. E, portanto, de mostrar e viver emoções.