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    Love Lies Bleeding - O Amor Sangra
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Love Lies Bleeding - O Amor Sangra

    Kristen Stewart acerta mais uma vez em drama nos anos 80 com violência, fantasia e realidade

    por Nathalia Jesus

    Se tem uma coisa que Kristen Stewart tem provado nos últimos anos é que ela é capaz de transitar bem entre diversos gêneros em que se propõe a trabalhar — desde cinebiografias sobre mulheres icônicas como Seberg Contra Todos e Spencer, até dramas mais densos como Personal Shopper e Para Sempre Alice. Após o impactante Crimes do Futuro, a atriz agora se aventura novamente em mais um body horror que dificilmente passará despercebido em sua filmografia.

    Em Love Lies Bleeding — O Amor Sangra, Kristen Stewart interpreta Lou, uma mulher que exala melancolia e solidão desde o primeiro momento em que aparece em cena. Gerente de uma academia, sua vida opaca ganha cores vibrantes quando ela conhece Jackie, uma fisiculturista esforçada, vivida por Katy O’Brian, que está cruzando o país para participar de um concurso. No momento em que elas se apaixonam, o filme começa a assumir um ritmo caótico que justifica cada palavra utilizada em seu título.

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    Katy O'Brian e Kristen Stewart em Love Lies Bleeding - O Amor Sangra

    O segundo longa-metragem de Rose Glass traz alguns elementos reconhecíveis de seu primeiro e elogiadíssimo trabalho, Saint Maud. Aqui, temos mais uma personagem cuja paixão excessiva por algo beira o fanatismo e o descontrole psicológico — neste caso, o fisiculturismo, uma invejável composição corporal. Também nos deparamos com mais um desfecho divisivo que não traz respostas fáceis e faz jus à assinatura que a cineasta parece estar moldando.

    Mergulho nos anos 80 com personagens cativantes

    Não há como falar de Love Lies Bleeding — O Amor Sangra sem mencionar a imersão aos anos 80 que seus cenários nos proporcionam. O filme conta com uma direção de arte muito bem orientada, na qual os espaços físicos transmitem informações cruciais sobre o estilo de vida oitentista em uma cidadezinha no meio do nada no Novo México. Os imponentes cenários externos soam tão solitários e opressivos quanto um quarto pequeno e claustrofóbico, enquanto ambientes internos são tomados de uma tensão incômoda que parece deixar os personagens exageradamente perto um do outro, como gigantes presos em caixinhas.

    A ambientação do longa-metragem é crível e parte fundamental da atmosfera macabra que cerca o casal principal. Os arredores da cidade também comunicam muito bem a aura sombria de quem, por baixo dos panos, a comanda: Lou Sr., pai da personagem de Kristen Stewart. Interpretado brilhantemente por Ed Harris, que está irreconhecível no papel, ele é um daqueles figurões barra pesada do qual todos temem, inclusive a polícia.

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    Ed Harris em Love Lies Bleeding - O Amor Sangra

    Sua imponente presença começa no visual bizarro de seu mullet calvo e se estende por cada pedaço de chão que Lou pisa. A sensação é de que ele está em todo canto, arrepiando até mesmo os espectadores na segurança de suas poltronas. O personagem é uma das mais importantes engrenagens necessárias para compreendermos a constante ansiedade de Lou. A relação cada vez mais conturbada da protagonista com sua família, inclusive, é o catalisador de todo o caos ao longo da trama, e é nesse momento que Jackie cresce aos nossos olhos.

    Katy O’Brian é gigante, não só fisicamente, com músculos perfeitamente delineados e filmados de maneira tão íntima e detalhada por Rose Glass, mas também pela dualidade natural pela qual ela transita. A atriz, muito bem caracterizada como todos os demais personagens, é o puro suco da imagem que temos de uma musa fitness de décadas passadas, mas são os aspectos psicológicos de Jackie que chamam mais atenção.

    A vulnerabilidade de Jackie, sustentada por seu transtorno de imagem, ausência de segurança e estabilidade financeira e sede pela vitória, resgata uma camada extra do nosso interesse quando as dinâmicas familiares de Lou estão se desenvolvendo mais lentamente. Ela é como uma panela de pressão prestes a explodir a qualquer momento, adicionando ainda mais intensidade na atmosfera brutal do filme.

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    Limite entre fantasia e realidade

    Love Lies Bleeding — O Amor Sangra é um filme que explora muito bem a humanidade dos personagens, dos quais todos eles são repletos de sentimentos efervescentes que vão desde o amor até a repulsa. A dupla formada por Kristen Stewart e Katy O’Brian navega perfeitamente entre cada um deles de forma natural e convincente, e isso fica ainda mais evidente quando suas personagens estão reagindo ao caos de maneiras inesperadas — é o momento em que mais notamos o quão confortável as atrizes estão nas peles de Lou e Jackie e não há outra alternativa além de torcer incessantemente por elas.

    O duo atravessa uma nuvem densa de violência durante todo o longa-metragem, sem abrir mão do amor incondicional e da tensão sexual que foi tão comentada e promovida em diversas entrevistas concedidas pelo elenco principal e pela diretora. É, de fato, um filme que exala sensualidade e presença, te deixando tão atento em seus aspectos visuais e narrativos que você nem sente o tempo passando em meio a tantas informações bem organizadas, apesar de ser relativamente “curto”, com menos de duas horas de duração.

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    O longa-metragem de Rose Glass se torna ainda mais interessante quando brinca com a fantasia, perdendo o comprometimento com o que é real, literal. Inclusive, isso é o que torna os momentos finais do filme ainda mais envolventes, gerando um tipo de satisfação que, definitivamente, não será unânime entre os espectadores — principalmente os mais adeptos a finais minuciosamente explicados.

    Love Lies Bleeding — O Amor Sangra proporciona um tipo de êxtase que poucos filmes sáficos já me provocaram na esfera do suspense — foi o mais próximo que cheguei da experiência de assistir A Criada, impactante trabalho de Park Chan Wook lançado em 2016. Aqui, Rose Glass é bem sucedida em sua intenção e explora o female rage de maneira criativa e cativante, algumas das características marcantes pelas quais as produções da A24 tem se tornado reconhecidas nos últimos anos.

    É um filme surpreendente, com uma seleção ímpar de personagens interessantes e atores, como Anna Baryshnikov, Dave Franco, Jena Malone e Ed Harris, que se mostram competentes o suficiente para brilhar em seus próprios holofotes, independente do tempo de tela. E o melhor de tudo é que nada te prepara para a onda de emoções que vão te invadir nesta jornada.

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