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    Rivais
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Rivais

    Zendaya se envolve em triângulo amoroso em Rivais, um filme sensual até mesmo dentro da quadra de tênis

    por Katiúscia Vianna

    Parafraseando Britney Spears, ela não é mais tão inocente. Zendaya começou bem cedo na carreira artística, porém não é mais aquela garotinha que dançava na Disney Channel. Conquistando popularidade (e o coração de um herói) nos filmes do Homem-Aranha, a atriz veio com trabalhos mais densos em Euphoria e a franquia Duna, mas nunca a vimos tão madura como em Rivais, o sensual e frenético projeto do diretor Luca Guadagnino. Mas aqui ela é apenas um terço dessa equação.

    Qual é a história de Rivais?

    Warner Bros. Pictures

    Challengers (no original) acompanha os melhores amigos Patrick (Josh O’Connor) e Art (Mike Faist), dois parceiros na quadra de tênis, formando uma dupla conhecida como Fogo e Gelo. Mas a fama deles não chega perto do sucesso de Tashi (Zendaya), um prodígio no esporte com visões bem definidas para seu futuro. Só que nenhum dos três poderia imaginar o que ia acontecer quando seus caminhos cruzam.

    Um acidente prejudica a carreira de Tashi para sempre, a transformando numa treinadora. 13 anos (e muitas reviravoltas amorosas) depois, Art e Patrick se enfrentam novamente numa partida de tênis. Um se tornou um campeão consagrado, mas que enfrenta uma fase difícil. O outro caiu no ostracismo e vive vagando por aí, procurando um lugar para dormir. Por sua vez, Tashi ainda sente a ambição e determinação de uma jogadora, se encontrando no meio dos dois ex-amigos num jogo que vale muito mais do que um troféu.

    Luca Guadagnino comanda um filme que fará você se apaixonar por tênis

    Trazendo honestidade para essa crítica, nunca fui uma fã de tênis. É um esporte elegante e passional, com grandes atletas - mas sempre achei meio chato. Minha visão mudou completamente após esse filme. São fenomenais as tomadas e os ângulos usados por Luca Guadagnino e o diretor de fotografia Sayombhu Mukdeeprom (que já trabalharam juntos em Suspiria e Me Chame Pelo Seu Nome). Desde o close no suor de um jogador, até uma visão da bola em movimento, passando por um extraordinário momento em que vimos tudo por debaixo da quadra.

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    O cineasta ainda guarda espaço para cenas impactantes fora do esporte, seja uma discussão na ventania sob iluminação inspirada ou no “simples” foco no rosto de Tashi. Porém, o trunfo de Guadagnino vai além do visual: ele entende o roteiro de Justin Kuritzkes. Nele, aprendemos que tênis é como um relacionamento, uma analogia que irá percorrer toda a história. Temos um estudo de três personagens que enxergam a vida focados em suas próprias ambições (ou seriam suas formas de jogar tênis?): Uma pessoa acredita em determinação e glória. Outro crê que o talento fala por si só. E por fim, tem aquele que vê tudo como um esforço, pro bem e pro mal. Cada um tem seu objetivo e é difícil eles concordarem.

    O triângulo amoroso exala sensualidade que vai muito além da já polêmica cena de pegação a três presente no trailer. A tensão é palpável em seus relacionamentos, até mesmo (e talvez até principalmente) nos momentos menos adequados para algo acontecer. Mas tudo isso sem nenhuma cena explícita, é tudo no subtexto. E o que começa como um namoro de juventude se transforma em mais de uma década de rancor. Enquanto Tashi brinca que não deseja ser uma “destruidora de lares”, existe algo tão conectado entre Art e Patrick que nem ela consegue atingir, algo que talvez vá além da amizade. Ao mesmo tempo, a ex-jogadora constroi relações com cada um centrada em necessidades emocionais completamente diferentes.

    Seria fácil o longa cair num melodrama chato sobre um triângulo amoroso, mas aqui estamos diante de uma história frenética, pois a história nunca para quieta em um mesmo lugar - no bom sentido. Isso sem contar a trilha sonora vibrante que chega a quase incomodar, disfarçando perturbação numa música pronta para transformar o cinema numa balada. Não é à toa que as composições são da mesma dupla de A Rede Social e Soul: Trent Reznor e Atticus Ross.

    Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist são grandes destaques em Rivais

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    Se, tecnicamente, Rivais completa uma lista de afazeres com aprovação, esse encaixe só é quase perfeito por conta de seus três protagonistas. Zendaya surge com sua personagem mais imponente. Parte significativa do filme é concentrada em seu rosto, enquanto está sentada vendo o fatídico jogo de tênis, com micro expressões que contam muitos sentimentos sem uma palavra. Porém, também tem momentos onde Tashi explode ou cenas onde suas frases são capazes de derrubar qualquer um. E a vencedora de dois Emmys não decepciona.

    Já Josh O’Connor caminha numa linha tênue onde o seu personagem quase se torna um babaca, mas ele nunca deixa a peteca cair. Ele tem charme e timing cômico suficientes para acompanhar o trabalho dramático que já sabemos que ele é capaz de fazer desde as exibições de suas temporadas em The Crown. Já Mike Faist - que deveria ter sido considerado mais seriamente para uma indicação ao Oscar por Amor Sublime Amor (e Tarantino concorda comigo) - vai pro outro lado. Numa transformação física surpreendente, ela caminha para o oposto do espectro, mais calmo e romântico, porém não menos ambicioso.

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    A química do trio de atores existe por natureza, mas se baseia em suas belas performances. Um complementa o outro, ninguém é coadjuvante. Se Rivais tivesse sido lançado num momento mais conveniente do ano, não ficaria surpresa de ver grande apoio para possíveis indicações desses nomes na temporada de premiações. Com uma estreia agendada para abril, acho difícil chegar até um Oscar, por exemplo, mas esse filme já é uma bela prova do que esse trio é capaz de fazer.

    Por fim, Rivais tem alguns toques da paixão romântica de um Me Chame Pelo Seu Nome, só que com um ponto de vista conturbado, afiado e sedutor, deixando o sublime de lado. Tashi, Patrick e Art podem ter começado com um amor jovem, mas se envolvem em uma partida de tênis bem mais complicada do que isso. Muitas raquetes são quebradas, bolas vão pra fora, e as chances são improváveis; mas quem não arrisca, não petisca. Se arriscar ver Challengers, posso garantir pelo menos uma coisa: você vai pensar naquela cena final por horas. Ponto pra Guadagnino.

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