Enquanto eu assistia “A Substância”, filme dirigido e escrito por Coralie Fargeat, me lembrei muito do conceito de grotesco. Normalmente, esta é uma palavra ligada ao sentido do que é bizarro e/ou extravagante. Porém, na realidade, este é um termo que, principalmente durante a era Renascentista, encontrou seu cerne no retrato da natureza mutante dos corpos, admitindo as formas consideradas monstruosas como manifestações exuberantes da força criadora.
Ou seja, existe muito do grotesco no relato da história da atriz Elizabeth Sparkle (Demi Moore), uma figura pública da televisão norte-americana, popularizada em um programa que retrata sua rotina de exercícios. Assim como muitas outras personalidades do mundo do entretenimento, Elizabeth sofreu com a passagem do tempo, com o fato de ser considerada “velha” e é uma questão de tempo até ela ser demitida e substituída por alguém mais jovem, que possa atrair uma nova audiência.
É aqui que entra “A Substância” que o título do filme se refere. Ela é um tratamento médico experimental que promete uma versão melhor de você mesma. É assim que Elizabeth dá vida a Sue (Margaret Qualley). As duas são uma extensão da outra e existe um equilíbrio entre elas que deve ser respeitado.
Como respeitar esse equilíbrio num mundo de vaidades, de ambição, de ciúme, de invejae de competição excessiva? Por meio do retrato da relação “médico x monstro” que se estabelece entre Elizabeth e Sue, “A Experiência” destila a sua crítica a um mundo que exige de nós a perfeição em todos os nossos campos de atuação.
O grotesco, em “A Substância”, está na forma como o corpo feminino é retratado, na maneira como a comida é mostrada, em como essas mulheres se submetem aos maiores absurdos devido a um ponto de vista e a um mundo dominado por homens, no banho de sangue que escancara a hipocrisia de uma sociedade preocupada com as aparências, e, principalmente, na compreensão definitiva de que a sua melhor versão, no caso de Elizabeth, na verdade, é uma aberração sem controle!
No final, uma pergunta deixa a reflexão: vale a pena se sujeitar a tudo isso para prolongar os seus cinco minutos de fama?