"A Substância" é um filme que mergulha o espectador em uma montanha-russa emocional rara, onde a diretora Coralie Fargeat demonstra uma habilidade singular de misturar uma narrativa aparentemente simples com críticas sociais profundas. O longa não apenas cativa pela sua trama, mas, sobretudo, pela maneira como explora temas contemporâneos de forma visceral, abordando questões de perfeição, envelhecimento e autoimagem com uma brutalidade crua.
A história segue a busca obsessiva de uma mulher pela perfeição física, impulsionada por um mundo que a todo momento impõe padrões inalcançáveis. O roteiro de Fargeat, embora simples em sua estrutura, é brilhante na forma como utiliza essas pressões sociais como motor para as decisões das protagonistas. A cada passo, o espectador é levado mais fundo em um universo onde a busca pela aceitação, alimentada pelas redes sociais e pela necessidade de validação externa, consome seus personagens de maneira implacável.
A narrativa é habilmente construída, escalonando o desconforto e a tensão ao longo de suas 2h20 de duração, sem nunca quebrar o ritmo. O filme gradualmente aumenta a brutalidade e o desconforto, mantendo a atenção do público até o último minuto. O choque e a perplexidade que permeiam o final são tão intensos que é impossível terminar o filme sem ficar profundamente impactado.
O longa também se destaca por suas reflexões sociais. As metáforas que tratam da obsessão pelo corpo perfeito e da constante comparação nas redes sociais são desconcertantes. As discussões sobre o envelhecimento e as pressões para aparentar uma vida ideal são temas delicadamente tecidos no subtexto, criando uma obra que não apenas entretém, mas também provoca reflexões profundas.
As performances são outro ponto alto do filme. Dennis Quaid traz um papel que evoca repulsa e desconforto com maestria, enquanto Margaret Qualley reafirma sua versatilidade ao brilhar em um gênero diferente, mostrando a tensão e o terror físico em sua interpretação. Entretanto, é Demi Moore quem rouba a cena, oferecendo uma das performances mais marcantes de sua carreira. Sua atuação, cheia de sutilezas e silêncios, é avassaladora, transmitindo a dor e o desespero de sua personagem de forma intensa e comovente.
A direção de Fargeat brilha também pela escolha estética. A fotografia, repleta de contrastes entre tomadas fechadas e abertas, reflete os sentimentos internos dos personagens, com Moore frequentemente filmada em planos que reforçam sua vulnerabilidade e isolamento, enquanto Qualley é filmada em close-ups que enfatizam o obsessivo foco em sua perfeição corporal.
Em resumo, "A Substância" não é apenas um filme, mas uma experiência que te deixa desconfortável e reflexivo. Sua narrativa brutal, as atuações impressionantes e as críticas sociais presentes em cada camada do roteiro tornam-no uma obra essencial. Este é um filme que, com certeza, vai deixar uma marca e será lembrado como um dos grandes destaques do ano, tanto nas premiações quanto nas discussões cinematográficas.