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    Pânico 6
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Pânico 6

    Ghostface em sua versão mais brutal – e em Nova York!

    por Bruno Botelho

    Pânico é uma das franquias mais queridas do terror no cinema e também uma das mais importantes para o gênero, considerando que ela foi fundamental para reinventar o saturado slasher nos anos 90, pelo uso de metalinguagem e, claro, o mistério sobre a identidade por trás da máscara do assassino Ghostface. Após o sucesso do primeiro filme Pânico (1996), foram lançadas as sequências Pânico 2 (1997), Pânico 3 (2000) e Pânico 4 (2011), que marcou a despedida de Wes Craven na direção, antes da sua morte em 2015. Com a missão de repaginar e continuar o legado da franquia, os diretores Matt Bettinelli-OlpinTyler Gillett assumiram o comando para Pânico (2022).

    O filme levou o público de volta a Woodsboro e apresentou novos rostos no elenco de protagonistas, como Sam (Melissa Barrera), Tara (Jenna Ortega), Mindy (Jasmin Savoy Brown) e Chad (Mason Gooding), mas também o retorno de personagens clássicos, como Dewey Riley (David Arquette), Sidney Prescott (Neve Campbell) e Gale Weathers (Courteney Cox). Essa fórmula deu certo e Pânico VI (2023) continua os eventos do filme anterior e aumenta mais as apostas, levando os sobreviventes para Nova York.

    Qual é a história de Pânico VI?

    Depois das últimas mortes provocadas pelo Ghostface em Woodsboro, os quatro sobreviventes – Sam, Tara, Mindy e Chad – resolveram deixar a cidade pequena e se mudar para Nova York na tentativa de começar uma nova vida, deixando para trás suas experiências traumáticas enfrentadas. Mas isso não vai acontecer tão facilmente, pois o assassino mascarado está de volta mais uma vez e com novos truques.

    Em Nova York, Pânico VI tem um Ghostface mais violento e brutal

    Pânico de 2022 funcionou como uma sequência-legado do clássico primeiro filme, estabelecendo novos personagens ao lado de rostos queridos que acompanhamos ao longo de vários filmes. Enquanto isso, ele ainda brincava com a metalinguagem da referência deixada pela obra original (e, consequentemente, a leva de filmes fictícios Facada inspirados em seus eventos), apontando as críticas ácidas para o comportamento tóxico de fãs de franquias cinematográficas – especialmente em fóruns de discussão na internet.

    Lançado em 1997, Pânico 2 brincava com o fato de ser uma continuação e ter a necessidade de ser maior e mais ambicioso, em todos os sentidos, do que o primeiro filme - enquanto levava seus estudantes para a faculdade e expandia o que conhecemos sobre sua mitologia. Pânico VI é bastante semelhante nesse aspecto, mas amplia ainda mais seu olhar autoconsciente para toda uma franquia estabelecida desde os anos 90, buscando retomar e subverter regras e elementos apresentados ao longo de cinco produções. Isso fica claro pelo fascínio do Ghostface com os psicopatas anteriores, o que não é uma novidade para a saga, mas aqui recebe contornos ainda mais perturbadores. Mais do que tudo, o roteiro de James VanderbiltGuy Busick debate acidamente sobre a tendência de obsessão que Hollywood criou com franquias – o que o próprio Pânico se insere com essa reinvenção e continuação nos cinemas.

    Enquanto Matt Bettinelli-OlpinTyler Gillett pareciam um pouco presos na responsabilidade de retomar a franquia com o quinto filme e, ao mesmo tempo, honrar e homenagear o enorme legado deixado por Wes Craven; nesta nova produção a dupla parece muito mais confortável para deixar sua marca registrada como vimos no excelente Casamento Sangrento (2019), especialmente pela violência do Ghostface em sua versão mais brutal com as amplas possibilidades da ambientação em Nova York.

    Inteligentemente, os diretores usam a cidade grande e suas locações para criar cenas tensas e claustrofóbicas de maneiras diferentes, como vemos acontecer na rua, no metrô, no supermercado e até mesmo no apartamento. Nisso, eles vão ampliando o leque de perspectivas, onde aproveitam para apresentar mortes criativas (e sanguinolentas) e brincar com a criação de expectativa do público aumentando a tensão nos cenários. Outro destaque fica para a cena de abertura, que são uma marca registrada da franquia, e aqui os roteiristas e a direção aproveitam para puxar o tapete do público logo no começo da trama. 

    Melissa Barrera e Jenna Ortega sustentam a falta de Neve Campbell

    Na narrativa, o coração da história é a relação entre as protagonistas irmãs Carpenter. Enquanto Tara está tentando seguir em frente com sua vida em Nova York após sobreviver aos ataques do Ghostface em Woodsboro, ela entra em conflitos com Sam pela sua proteção excessiva. Por sua vez, a irmã mais velha não está conseguindo deixar esses acontecimentos no passado e também sendo atormentada por teorias na internet de que ela teria cometido os assassinatos anteriores e atribuído culpa ao seu ex-namorado Richie (Jack Quaid) e Amber (Mikey Madison), somente pelo fato dela ser filha de Billy Loomis (Skeet Ulrich) – o primeiro assassino.

    Com o quarteto principal estabelecido em Sam, Tara, Mindy e Chad, o novo filme aproveita bem a dinâmica divertida entre esses personagens e a relação de sobrevivência que eles estabelecem como uma peça fundamental para lidarem com essa nova ameaça. Por isso, temos a volta de rostos conhecidos, como Gale Weathers (Courteney Cox), que tem um importante papel na alfinetada sobre o papel da mídia na espetacularização e sensacionalismo de crimes reais, e ainda Kirby Reed (Hayden Panettiere), que sobreviveu aos eventos de Pânico 4, e aqui aparece como uma agente da FBI para auxiliar o detetive Bailey (Dermot Mulroney). A principal ausência do sexto capítulo é de Sidney Prescott de Neve Campbell, que não retornou pela primeira vez por causa da oferta salarial que recebeu para a sequência. Mesmo assim, a produção supre bem essa falta com um foco e desenvolvimento maior para Sam e Tara.

    E vamos ao Ghostface. Um dos elementos principais da franquia Pânico é o aspecto whodunit de sua trama, sobre o mistério de quem está por trás dos assassinatos. O sexto filme começa muito bem ao subverter as expectativas do público sobre o que esperar da autoria dos crimes, mas decepciona no ato final por cair em velhos truques que vimos antes (o que a narrativa estava prometendo escapar), especialmente na revelação, não muito criativa e impactante como outras, de quem está por trás da máscara. Desta forma, é uma parte final que perde um pouco da ousadia e do impacto da revelação principal, somado também ao fato de pegar leve nas consequências para seus personagens.

    No final das contas, Pânico VI conta com algumas das mais sangrentas e criativas sequências de mortes da franquia, apresentando um Ghostface ainda mais brutal e explorando as diferentes possibilidades de cenários claustrofóbicos em Nova York. Essa sequência explora a metalinguagem pelo legado que esses filmes deixaram na cultura pop e, principalmente, em como Hollywood cria uma obsessão suas franquias – usando isso para subverter as expectativas do público. Infelizmente, a revelação do novo assassino não é tão surpreendente e criativa como outras anteriores, com o final perdendo um pouco o fôlego inicial.

     

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