Todos sabemos que a amizade não algo previsível. As voltas que a vida dá, nos coloca no panteão divino em estado de comédia. Decididamente este filme não é previsível, e vai muito além do hábito criado, em assistir blockbusters, por parte de alguns críticos, ou um simples ode à amizade. Também, analisar a trama, tomando por base uma suposta estratificação social, só pode se prestar a certa ingenuidade, pois a incorporação dos personagens ali colocados, em certo tempo e espaço, remetem a um algo muito mais axiomático, "não euclidiano", e nos transporta a um mundo onde as interpessoalidades podem não colidir, como ocorre no cotidiano. O ruído, e o desconforto, faz parte deste engenhoso roteiro, que desafia o senso comum, revelando a grandiosidade do diretor, que posiciona o público em um constante questionamento. No início, uma estrada vazia, atravessada por perigos incalculáveis, e um tempo que flui, imprimindo certa tensão, já prepara o espectador, para as próximas cenas, em uma condução magistralmente poética, afirmada pela excelente fotografia. Sim, este não é um filme com apelo feminista, mas escancaradamente humano. Mostra em parte, a transição de nossa alma, nosso espírito, em uma espiral de sensações e signos, colocados de forma muito profunda, onírica, criando uma paralaxe necessária, tão enfatizada nos dias de hoje. Percebemos o processo de uma profunda epifania, com a descontinuidade no eixo da narrativa, incluindo a confissão de uma nova chave para brindar o processo, que é a introdução de um personagem, sob a forma de uma criança às margens de um lago ou rio. Este fato fílmico, inunda o espaço taciturno, com uma simbologia tão forte, capaz de suspender o instante, como que numa exegese do tempo, capitulando os sonhos e remetendo a outra realidade.
Tentativas em encaixar descritivamente este filme, põe em desgraça o spoiler, por mais arguto que seja. Vale a pena reservar a sua agenda para assistir, recomendo aos cinéfilos de plantão !!!