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    Atlas
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Atlas

    Protagonizada por Jennifer Lopez, Atlas é uma ficção científica previsível que carece de substância

    por Rafael Felizardo

    Temática amplamente abordada durante as mais diversas décadas de audiovisual, a história das inteligências artificiais, em diversos pontos, se entrelaça à do cinema. Se durante os anos vimos chegar às salas escuras títulos como O Exterminador do Futuro, Matrix, Blade Runner e outros, as IAs ganharam ainda mais evidência no universo cinematográfico recentemente, ao se tornarem em parte protagonistas das greves de atores e roteiristas de Hollywood.

    Pegando carona na popularidade do tópico, o cineasta Brad Peyton juntou-se à Netflix para então trabalhar em seu novo filme, uma ficção científica que mais uma vez mergulha nos perigos da computação. Estrelada por Simu Liu, Sterling K. Brown, Mark Strong e Jennifer Lopez, Atlas é uma produção do streaming que, não se engane, fica muito aquém das aqui citadas.

    Assim como sua personagem, Jennifer Lopez se perde durante a trama

    Na trama, Atlas Shepherd é uma analista de dados brilhante e extremamente antissocial que exala desconfiança em relação às inteligências artificiais. Por conta de um trauma no passado, a personagem criou distância em relação a estes seres, julgando todos como malignos. Quando um robô portador de uma IA, chamado Harlan, se rebela contra os humanos, Atlas precisa confiar em um computador senciente intitulado Smith - e é aí que a história se complica.

    Se Jennifer Lopez construiu sua carreira, majoritariamente, em cima das comédias românticas, aqui, a atriz foge da zona de conforto. Em Atlas, Lopez dá à luz uma personagem amplamente arquetípica; a famosa figura competente em tudo o que faz, mas que não consegue se relacionar de maneira decente com o próximo. O filme faz questão de a todo o momento reforçar o caráter inacessível da personagem, o que, logo de cara, já deixa no ar um sentimento de artificialidade.

    Netflix

    A atuação de Lopez também é lotada de momentos clichês que te fazem lembrar daqueles enlatados policiais da década de 1990 - e a todo o momento eu esperava ela deixar escapar a palavra “tira” para se referir a um agente. Construída como uma figura onde o espectador deveria simpatizar a partir de um previsível arco de redenção, o grande problema é que a personagem é irritante a ponto de cortar qualquer sentimento de empatia que o espectador possa ter - e isso de fato atrapalha a experiência.

    Durante uma coletiva de imprensa realizada para a divulgação do filme, Lopez afirmou que teve como uma de suas inspirações a Tenente Ellen Ripley, de Sigourney Weaver, do clássico Alien, o 8º Passageiro. Sem sombra de dúvida, a intenção da atriz foi a melhor possível, afinal, Ripley é uma das maiores lendas do gênero. Entretanto, o resultado em tela nem de perto lembra o do marcante ícone criado por Ridley Scott. Para a ficção científica, Ripley é um obelisco que vagará para sempre no inconsciente coletivo cinematográfico, enquanto Atlas carece de substância.

    Atlas não convence como entretenimento despretensioso

    Particularmente, sempre acreditei que a análise de uma obra cinematográfica deve ser feita em cima da proposta empregada. Se uma produção não possui a intenção de ser um ponto de virada na sétima arte, não há motivo para estudá-la como tal. Atlas nasceu com o intuito de ser um entretenimento despretensioso - e não há problema algum nisso -, mas mesmo dentro desse nicho, não convence. Por diversas vezes, o longa-metragem teima em apresentar uma profundidade que, sinceramente, não tem, e aí reside um dos problemas da narrativa.

    Apesar de majoritariamente uma ficção científica, Atlas conta com um núcleo dramático que não é capaz de tocar o espectador da maneira pretendida. Como dito anteriormente, o arco da personagem principal tem dificuldade em causar empatia no espectador, muito por conta de seu frágil roteiro. O filme não constrói a protagonista interpretada por Lopez o suficiente para que o público sofra junto com ela e isso prejudica a tentativa de drama da trama.

    Netflix

    A parte da ação é um pouco menos decepcionante, mas mesmo assim não chega a ser algo que encha os olhos. Atlas foi construído em maior parte em torno do famoso chroma key (no popular, as telas verdes) e em diversas sequências o artifício fica visível. Como não sou tão chato com o assunto, a qualidade mediana dos efeitos especiais não chegou a me incomodar, mas os mais cri-cris certamente reclamarão.

    Vale ainda ressaltar que no terceiro ato há uma tentativa de filosofização - se é que essa palavra existe - do enredo, e como você pode imaginar, também soa bastante vazio.

    O filme é um dos trabalhos mais frágeis de Brad Peyton

    Com desenvolvimento previsível, Atlas segue a jornada clássica do anti-heroi que busca a redenção no caminhar da trama. Nela, temos em mãos uma personagem traumatizada que resolve suas pendências psicológicas com um empurrãozinho do destino, montada em cima de uma estrutura narrativa que você certamente já viu por aí.

    Como boa parte das ficções científicas com foco tecnológico, o longa bombardeia o espectador com todo o tipo de facilidade tecnológica possível, no clássico estilo hollywoodiano onde ninguém mais se dá ao trabalho de fazer o próprio café - afinal, os computadores estão aí para isso.

    A obra também conta com alguns alívios cômicos que não são de todo ruim; além de um festival de clichês que incomodam. Quem está acostumado ao gênero, sem exagero algum, consegue prever o andamento do filme do início ao fim, não havendo nem mesmo uma reviravolta para tirar o ouvinte em parte da zona de conforto.

    Como um entusiasta da ficção científica, de maneira alguma esperava que Atlas se comparasse aos maiores nomes do gênero, mas com toda a certeza o longa deveria apresentar mais. Durante a carreira, Brad Peyton levou às grandes telas títulos criticados como Terremoto - A Falha de San Andreas, Dominação, Rampage - Destruição Total e Viagem 2 - A Ilha Misteriosa - e mais uma vez sai com um revés na bagagem.

    Para não me alongar, concluo afirmando que Atlas não é uma boa ficção científica, falha como drama e conta com sequências de ação insossas, dificultando a recomendação até para quem tem as mais baixas das pretensões.

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