Tecnicamente, a animação me pareceu impecável. Efeitos digitais se equilibram bem entre as tomadas que lembram aquelas feitas à mão livre (como as vistas em Ghost in the Shell ou mesmo Princesa MononoKe – já que estamos falando em animes). Ambiente e figurino das personagens caprichados. Respeitando aqueles vistos na trilogia clássica, sem perder de vista o tempo em que se situam. Quadros amplos e fotografia bem ambientada – deixando evidente sua identidade com O As Duas Torres (e as Terras dos Cavaleiros), com seus tons iluminados, claros e cores vibrantes e quentes que se alteram e mudam, inteligentemente, com a narrativa, suas mensagens, metáforas e elipses. Trilha sonora de Howard Shore dispensa comentários, mas com variações de temas para incluir as novas personagens, com destaque para Héra (Gaia Wise), Wulf (Luca Pasqualino) e, claro, Helm (Brian Cox).
A Guerra dos Rohirrim, busca novos elementos narrativos pra preencher os últimos dias de Helm-Mão-de-Martelo, e faz isso dando voz à sua (desconhecida) filha, que como tantas (outras) mulheres, tiveram seus feitos e histórias apagadas. Não por acidente, a narrativa é feita por Éowyn (Miranda Otto), sobrinha do Rei Theóden e nobre escudeira de Rohan. Diferente de Éowyn, Héra é, por força das circunstâncias, obrigada a tomar decisões difíceis. Para isso, põe à prova sua força e coragem diferenciadas – para uma mulher das Terras dos Cavaleiros. De personalidade forte, impetuosa, mas afável, e nisso se aproxima em caráter da sobrinha de Théoden, enfrenta o Inverno Longo do ano de 2759 em meio a uma guerra sangrenta.
Apesar de fluida e bem contada, a animação peca em reproduzir situações já apresentadas na trilogia clássica. Eis aí a desgraça do “fan service” que vem contaminando muitas produções. Porém, isso em nada compromete sua qualidade e méritos. Especialmente, porque seus elementos simbólicos e místicos sobrelevam tais situações dispensáveis (Campbell agradece!). Por fim, Héra chega para ocupar seu lugar no panteão das grandes heroínas da Terra Média, ao lado de Éowyn, Arwen, Lúthien e Galadriel, que cada uma, ao seu modo, vieram para tornar a obra de Tolkien mais épica e fabulosa. Não vejo motivos concretos por ter ido tão mal nas bilheterias que não uma implicância e cancelamentos de produções onde mulheres (de espírito livre) são protagonistas. E só isso já torna A Guerra dos Rohirrim uma obra necessária aos nossos tempos.