Entre curvas e retas
por Roberto CunhaQuem vai assistir ao filme achando que vai ver Jennifer Aniston "linda de viver" toma um susto logo de cara. Aliás, de cara mesmo. O diretor tratou logo de espantar todos os ângulos favoráveis da atriz - devidamentes explorados na série "Friends" - para mostrar espinhas, cravos, ruguinhas e até um nariz "boludo" que faz o da sua parceira de seriado, Courteney Cox, parecer um verdadeiro "punhal" de tão fino que é, ou está.
Quando topou participar do filme, Aniston disse ter gostado do roteiro e encontrado algumas semelhanças com sua vida. Diz a lenda que ela não se dá bem com sua mãe e daí ela tirou toda a amargura de sua personagem no filme. Verdade ou não, o fato é que em "Friends" o roteiro também brinca um pouco com sua vida. Lá um de seus melhores amigos, Joey Tribiani, é um ator frustrado que um dia fez uma participação na tradicional e gigantesca novela "Days of Our Lives". Na vida real o pai da atriz fez a mesma coisa.
Coincidências a parte, tanto na série como em Por Um Sentido na Vida, Aniston está bem no papel. Prova disso são os prêmios que já levou para casa pelo famoso seriado e a receptividade do público e crítica com este filme. Sinal de que esta história da atriz de identificação com o papel pode ter realmente um sentido.
No filme, seu nome é Justine. Ela trabalha num loja de departamentos de uma pequena cidade, no interior do Texas. A rotina é insuportável e seu marido Phil, um pintor de paredes burro, mais ainda. O cara só quer saber de beber e fumar uns cigarrinhos de maconha na companhia de seu melhor amigo - da onça. Pobre Justine. Sua vida é um tédio.
Até que um dia um colega do trabalho, o meio descompensado Holden, muito bem interpretado por Jake Gyllenhaal, resolve declarar seu amor por ela. Era o que faltava? Nunca mais sua vida seria a mesma? Poderia até ser um caminho, mas Holden tem lá suas estranhezas, seu relacionamento com os pais não é dos melhores e sua "vocação" para escritor é um tanto quanto repetitiva. Contudo, Justine se apaixona por Holden e, como dois adolescentes perdidos numa vida sem graça, se entregam de corpo e alma.
Dos arrochos no estoque da loja às visitas ao motel tudo parecia lindo e maravilhoso, mas a vida insiste em ser dura para todos. Não se pode ser sempre adolescente. Temos que crescer. E Justine percebe que isso tem que acabar. Mas como? O que se vê em seguida é uma suave comédia de erros, mas sem perder a mão e a carga de drama inserida na trama.
Morte, traição, amizade, amor, personagens e situações bizarras. Está tudo ali. O diretor Miguel Artetas, da bem sucedida série do canal HBO "Six Feet Under", sabe "brincar" com o drama e com o humor destilado no roteiro de Mike White (Correndo Atrás do Diploma), que também trabalha no filme.
O resultado final pode não ser uma obra-prima, mas agrada bastante. É interessante ver as soluções que a "mãezona" Justine arruma para seus problemas. É de uma "simplicidade complexa" que deixa você meio intrigado e ao mesmo tempo ciente de que existe gente assim. E pode estar mais perto do que você imagina.
Na moral da história - talvez aquela que Holden escreveu para sua amada Justine - a descoberta de que na estrada de incertezas que muitas vezes nos deparamos, você pode encontrar o melhor caminho para sua existência. Por um sentido na vida.