Filme assistido duas vezes. Muda o momento que vivemos, muda também a maneira como enxergamos e interpretamos um filme. Não foi diferente com "Infidelidade". Não falarei sobre minha opinião na primeira vez em que assisti; discorrerei um pouco sobre minhas impressões da "segunda mirada". O filme tem uma história um pouco batida. Um caso de traição em uma família norte-americana, aparentemente normal. Um marido, fiel e mantenedor, uma esposa, preocupada com as funções domésticas, e um pequeno filho. Logo no início, sabe-se que a esposa será a traídora da relação; será a infiel. Aí, entra algo interessante: a mulher, inicialmente pura, demonstra toda a potencialidade humana, com sua carga instintual/sexual, ao trair o marido com um jovem de origem francesa. Mostra toda a força sexual e apaixonada, que não guarda limites; não leva em conta a relação estável, nem mesmo ao filho. Faz sexo com o amante de maneira louca e apaixonada. O marido, por sua vez, inicialmente normal, bem sucedido e condescendente com a traição, põe à mostra seus instintos agressivos, ao visitar o amante e assassiná-lo. Mostra frieza ao "limpar" a cena do crime e ao desfazer-se do corpo do amante em um lixão. Até aí, de maneira superficial, temos uma mudança entre os papéis sociais de ambos os cônjuges: o normal mostra-se um assassino, e a casta mostra-se uma mulher com um desejo, próprio dos humanos, incontrolável. Muito mais poderia ser dito e pensado sobre este filme. O sentimento pelo amante que perpetua-se até o fim do filme, o sentimento de culpa do marido, a forma como esse acaba por castigar imensamente a esposa, com o assassinato do amante, e a justificativa implícita de que os males causados a todos eram de responsabilidade dela, etc.
Um filme que inicialmente pareceu-me razoável, acabou se transformando, em um segundo momento, diferente e mais crítico, em um bom filme. Serve como uma relembrança daquilo de que realmente somos feitos e daquilo de que somos capazes.