Previsto para inicialmente estrear ano passado, chegou nesse ano aos cinemas americanos o esperado "A vida de David Gale" do diretor Alan Parker (o mesmo de Evita) estrelando Kevin Spacey e Kate Winslet. O filme que inclusive estava nas previsões para "melhor filme" do ano que passou, teve uma estréia que não podia ser pior: 1 mês antes do Oscar, ou seja, sem ter tanta atenção assim, ainda foi massacrado pela crítica americana e faturou menos de 20 milhões de dólares. Muito ruim para um filme que custou mais que o dobro disso (50). Logo na entrada do mês de Abril para se ter uma idéia, ele estava em exibição em apenas 62 salas sendo que estreou em mais de 2000. 1 mês depois, eram apenas 3. Soube-se até que provavelmente pra tentar pagar o filme no exterior, Parker foi promovê-lo em alguns países europeus. O motivo das críticas ruins, pelo menos para mim, eram o tema: um renomado professor formado em Harvard (Kevin Costner) ativista contra a pena de morte é culpado pelo sistema por um crime que não cometeu, um estupro seguido de homícidio. Para provar sua inocência, conta com a ajudar e uma jornalista (Kate Winslet) que se comove com a estória dele e tenta investigar. A premissa pelo que tudo indicava era um crítica ontra o governo (se não me engano, há ainda uma piadinha envolvendo o partido republicano no início do filme). Pensando assim, achei todas as péssimas críticas recebidas pelo filme apenas um boicote: a mídia não poderia elogiar um filme que se opunha, ao melhor estilo Alan Parker, ao governo americano, em tempos de uma delicada guerra. Para ser ter uma noção: nenhum das maiores revistas especializadas em cinema nos EUA ou críticos de grandes jornais deram uma crítica positiva ao filme, no máximo umas 3 ou 4 mistas. Assistindo o filme percebi que o problema parecia não ser bem a guerra. De início, gostava bastante do filme. Pensava em dar quatro estrelas: o roteiro caminhava bem, as atuações excelentes e uma ótima direção de Parker que nunca exagerava. O que acontece é que passada a primeira hora de projeção (são poucos mais de duas) o filme se torna cansativo. Não era um grande problema, até tudo se desencaminhar. Para começar, vale falar do roteiro. O escritor é Charles Randolph, um estreante. Nem parecia de início já que o roteiro caminhava e se desenvolvia bem, mesmo sendo narrado de um forma um tanto quanto tradicional (a tal da jornalista vai a prisão entrevista o preso e ele lhe narra sua estória). O problema é que um poucos antes dos 30 minutos finais, Randolph perde a mão, foge do tema e acaba quase desperdiçando um roteiro (que é original) que ia caminhando bem, parecendo até adaptado de livro ou baseado em fatos reais. Nessa altura eu ainda dava quatro estrelas pro filme. O curioso é que era a única falha que não poderia se esperar de Randolph: ele é professor formado em Filosofia e nesse momento do filme, a trama deixar de aprofundar questões da vida, existenciais ou até mesmo criticar o sistema e vira um thriller policial protagonizado por Kate Winslet. E crime não é e nem era para ser o forte do filme que podia render mais. Com o roteiro ruim, Kate acaba deslizando na atuação tal como a mãe de Parker na direção. O filme acaba se arrastando um pouco mais que devia, possivelmente devido a este período. Nos últimos 10 ou 15 minutos o filme melhora, a trama policial (a aventura da personagem de Kate pra provar a inocência de Kevin) até empolga e o roteiro permite que Parker dê boas sacadas na direção para criticar o sistema. Tudo ocorria bem, eu já estava me convencendo de colocar quatro como cotação para o filme quando...Bom, não vou falar muito porque estragaria o filme pra quem assistir mas Parker tenta fazer uma outra crítica ao sistema de última hora. E essa crítica é feita como "elemento surpresa" e por isso não existe uma argumentação. Assim sendo, tudo que foi apresentado no filme todo fica relevante pela má idéia de Parker de deixar o espectador com a sensação de "Oh, como o sistema consegue enganar, até me enganou também". Comentando um pouco mais da parte técnica: além das boas atuações de Kevin Spacey (que teria inicialmente sua personagem interpretada por Nicolas Cage, que é inclusive um dos produtores do filme) e Kate Winslet, ainda há boas participações especiais de Laura Linney e Gabriel Mann. Antes de assistir, ainda visitei um site francês (o filme estreou por lá 3 semanas antes de que no Brasil) para comparar a nota dada ao filme. Me surpreendi com a cotação 2/4 já que como eu pensava que o filme fosse mal visto nos EUA devido a guerra, a França que era opositora do conflito devia gostar. Pelo visto, não era mesmo bem assim. No geral, é um bom filme, por enquanto ainda pode ficar entre os melhores do ano mas duvido muito que consiga alguma coisa no Oscar do ano que vem ou mesmo que mereça. Uma pena já que teve atores em boa atuação, um roteiro que caminha bem boa parte do filme e que podia render muito mais na mão de um diretor do porte de Alan Parker.