(Insta: @cinemacrica): Inspirado nas obras de Ariano Suassuna, o novo longa nacional narra 4 histórias que, apesar dos contextos completamente distintos, têm como elo a mentira. Percorremos, desse modo, realidades díspares: uma convenção corporativa, luto paterno no nordeste, um estrangeiro se adaptando às normas sociais cariocas e os primeiros passos de uma estagiária numa agência de publicidade. É possível que se faça uma associação imediata com o argentino "Relatos Selvagens", com a ressalva de que nessa proposta o elo entre os contos era a vazão enérgica da raiva vingativa. O formato é de fato semelhante, mas o resultado conseguido pelos hermanos está num patamar superior, seja porque o gênero da comédia é melhor contemplado, ou seja porque as histórias simplesmente situem-se num nível mais elevado de homogeneidade. Os episódios são de fato engraçados e interessantes. A aposta nacional, contudo, mesmo reivindicando o teor cômico, tem pouquíssimos momentos felizes nesse território. Para ser bem específico, o ponto alto do gênero ocorre no final do terceiro episódio, onde o estrangeiro flerta com projeções amedrontadoras das possíveis consequências da sua mentirinha aparentemente inocente. No demais, há pouco espaço para o riso, não seria absurdo classificar os demais contos como curtas exposições dramáticas. E, mesmo fazendo essa concessão para o drama, não se está diante de proposições interessantes. Apesar da heterogeneidade entre os episódios, pode ser uma opção válida.
Tudo o que esbarra ou encosta em Ariano Suassuna parece ganhar imediatamente uma qualidade única. Ariano era um gênio da brasilidade e uma daquelas pessoas iluminadas que parece ser consciente de seu papel aqui neste planeta. O longa “O Auto da Boa Mentira” que chega aos cinemas nesta semana é um bom exemplo disso. Dirigido por José Eduardo Belmonte o filme se inspira em falas, entrevistas e anedotas de Suassuna. Belmonte conta quatro histórias que têm a mentira como tema central, todas com tempo para se desenvolver e nos deixar aprofundar em cada uma. Em alguns momentos o ritmo inconstante incomoda e é inevitável a comparação entre as histórias já que diferem em qualidade e humor.
Em uma das tramas temos Helder (Leandro Hassum) um funcionário do RH que é confundido com um famoso comediante. Ele conhece Caetana (Nanda Costa) e ambos acabam se “ajudando”. Na sequência temos o melhor dos quatro contos, nele Fabiano (Renato Góes) descobre que sua mãe (Cassia Kis) mentiu sobre a verdadeira identidade de seu pai. Nas palavras dela: “Mãe mente para filho toda hora!”. E essa mentira leva o rapaz a ter de lidar com o Palhaço Romeu (Jackson Antunes). Na terceira história conhecemos o gringo carioca e mentiroso Pierce (Chris Mason), que por preguiça de ir a um evento social do amigo Zeca (Serjão Loroza) conta uma mentira que acaba levando os dois a um encontro com o chefe do morro (Jesuíta Barbosa). Finalizando a obra a estagiária Lorena (Cacá Ottoni) solta umas inverdades que acabam com a festa de natal da empresa.
É surpreendente que o roteiro escrito por João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto surja a partir de frases, comentários, entrevistas e piadas de Ariano Suassuna. Os respectivos trechos que inspiram cada história estão na montagem do longa e permeiam os contos transformando Suassuna em uma espécie de narrador. Elemento que poderia ter sido melhor aproveitado, uma vez que é um dos pontos altos da projeção. Apesar dos roteiros inspirados e a boa direção, sabe dosar o humor e o drama dos “causos”. São quatro histórias diferentes em tom, ritmo e qualidade. Inevitavelmente escolhemos as nossas preferidas e as comparamos umas com as outras o que quebra o ritmo e a coesão da obra. O conjunto é sim divertido e evoca o humor do Suassuna, ainda que, em diversos momentos, opte por suavizar o sarcasmo e amenizar as resoluções.
“O Auto da Boa Mentira” é um filme agradável e divertido, uma bela homenagem a Ariano Suassuna. Em um momento onde o mundo, e principalmente o Brasil, tornou a mentira em arma e ferramenta de discurso de ódio. O gênio e mestre Suassuna nos lembra que a mentira pode ser uma ferramenta para contar boas histórias, entreter, fazer rir e conviver em harmonia. Em suas próprias palavras: “Eu não gosto de quem mente para prejudicar os outros. Eu gosto do mentiroso que mente por amor a arte.”
Decepcionante! A obra de Suassuna usada de trampolim para uma roupagem contemporânea em total desalinho com o poder desse conteúdo ! Elenco midiático com pessimas atuações de Cassia Kiss a Hassum o ator de mil filmes e um personagem ninguém se salva quanto mais os novatos e pouco conhecidos! Ver o nome Suassuna e Araes criou uma expectativa que mutou para perplexidade de como o cinema brasileiro está mal das pernas e cambaliante ! Foi como assistir um humorístico de sábado na Globo! Sr. Belmonte parabéns e obrigado por essa desilusão! Nada se salva só a minha vontade de correr de volta para o bom cinema argentino que podia atravessar a fronteira e nos ensinar um pouco a tratar melhor a sétima arte! Se você ama seu filho e ele erra repreenda antes que seja tarde demais, que o cinema brasileiro não se atrofie no padrão Globo de comédias românticas com a mesmice dos ultimos 20 anos ! Muda cinema... muda Brasil!
Caso você continue navegando no AdoroCinema, você aceita o uso de cookies. Este site usa cookies para assegurar a performance de nossos serviços.
Leia nossa política de privacidade