NYAD - 2023
"Nyad" é uma produção original Netflix, dirigido por Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin (diretores de "De Volta ao Espaço", de 2022), e escrito por Julia Cox (roteirista do curta-metragem "The Haircut", de 2014). O filme é baseado no livro de memórias de Diana Nyad de 2015, "Find a Way".
Quase todos os anos temos produções sobre a história de uma personalidade norte-americana. Dessa vez estamos falando sobre "Nyad", o filme biográfico sobre a nadadora Diana Nyad. Diana ganhou um grande destaque em 1970, ao ser reconhecida como a principal nadadora de longa distância do mundo. Diana competia principalmente em mar aberto, onde realizou conquistas como o recorde de natação ao redor da ilha de Manhattan, e o percurso de 164 km de Bimini, Bahamas, até a Flórida, em 27 horas, em 1979.
Diana dedicou grande parte da sua vida esportiva ao seu sonho de fazer um percurso nadando de Cuba até a Flórida. Diana fez cincos tentativas ao longo de sua vida, iniciando em 1978, depois de 33 anos ela volta a fazer mais duas tentativas em agosto e setembro de 2011, em 2012 ela faz uma nova tentativa, conseguindo realizar a sua missão de vida em 2 de setembro de 2013. Diana fez o percurso de Havana até Key West aos 64 anos, percorrendo uma distância de 177 km em 52 horas e 54 minutos, nadando em mar aberto sem a utilização de uma gaiola protetora (que geralmente é usado para evitar ataques de tubarões). Atualmente, aos 74 anos, Diana dedica grande parte de sua vida como escritora, jornalista, radialista esportiva, linguista e palestrante motivacional.
Temos aqui um exemplo a ser seguido, um feito heroico, um ato de coragem, fé, força, crença, motivação, determinação e superação. A própria Diana conta em seu livro todos os limites que ela se submeteu a enfrentar; como o limite do seu próprio corpo, da sua mente, em se manter firme com sua perseverança ao enfrentar os maiores desafios como o medo, a pressão psicológica, as falhas, os erros, o desânimo, as consequências e os perigos em alto mar. Diana nos mostra uma grande lição de vida ao nos imergir em seu filme biográfico motivacional, onde seu principal feito é transformar a superação em competência para vencer, para seguir em frente, para manter principalmente a sua coragem e o seu empenho em busca dos seus sonhos.
Sem nenhuma dúvida o filme nos serve principalmente como uma palestra motivacional, ao nos mostrar um ato intenso e inspirador à bordo de uma aventura emocionante, comovente, desafiadora, expondo principalmente uma luta contra o preconceito de idade e a importância de nunca desistir. O longa nos inspira e reforça que não existe idade para se correr atrás dos sonhos. Como a própria Nyad (que equivale a "Ninfa do Mar" na mitologia grega) enfatiza que quis marcar o seu feito na história e deixar um legado, que tenha se espalhado para uma grande população com a esperança e a força da fé.
"Nyad" inicia nos mostrando filmagens e relatos reais da vida da Diana. Depois temos uma bela passagem de gerações ao som da belíssima "The Sound of Silence", de Simon & Garfunkel. Logo após somos confrontados por aquele diálogo entre a Diana (Annette Bening) e a sua inseparável amiga Bonnie Stoll (Jodie Foster), onde ela afirma que vai realizar a prova de Cuba até a Flórida, cuja a própria Bonnie diz: "você não conseguiu com 28 anos, vai conseguir com 60". Diana responde: "não acredito em limitações impostas." E Diana ainda afirma que agora ela tem a mente que ela precisa para realizar a travessia, que era isso que lhe faltava quando era jovem, o equilíbrio da mente. Bonnie continua confrontando a Diana ao dizer que ela pode ter a mente que precisa mas não tem o corpo. Aproveitando a oportunidade, Diana revela para Bonnie que ela será a sua treinadora.
O longa-metragem transcorre bem com a passagem das cenas e de cada relato. Por mais que temos uma história de superação e todo o seu drama, a história flui de forma leve, dinâmica, com uma dose cômica na medida certa, com diálogos fortes e bastante envolventes. O roteiro acerta bem ao realizar uma mescla entre as cenas reais da Diana nadando ainda jovem, comparando com as cenas do filme com uma Diana já na casa dos 60 anos. A cena que a Diana dá palestras sobre as dificuldades da natação em mar aberto, é muito boa. Outro acerto do roteiro é exatamente nas cenas em que a Diana está tentando realizar o seu percurso, quando temos a Diana do filme nadando enquanto aparecem alguns flashbacks de sua infância, e algumas filmagens reais da competição da época. Não sei até que ponto é real ou não, mas também temos todo o drama que a Diana enfrentou com seu antigo treinador. Outra cena muito boa, é aquele discurso motivacional que a Bonnie faz para a Diana, quando ela esta perto de completar o percurso e está chegando no seu limite físico e mental. A cena final também é muito boa, quando a Bonnie evita tocar na Diana para ajudá-la, e fica incentivando para ela conseguir forças para sair para fora da água com os dois tornozelos, para que assim pudesse então completar a prova.
O que seria desse filme sem as presenças ilustres de Annette Bening e Jodie Foster. É inquestionável que as duas carregam completamente o filme nas costas, onde ouso a dizer que sem elas este filme sequer teria existido e teria sido reconhecido principalmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
Primeiramente falando da Jodie Foster (eterna Clarice Starling em "O Silêncio dos Inocentes"): Jodie incorporou aquela esposa e amiga inseparável, mentora, tutora, conselheira, que de alguma forma tentou tirar aquela ideia que parecia absurda da cabeça da Diana, até pela sua idade, mais de 60 anos. Mas o incrível é a química das duas, tanto que a amiga que a aconselha a desistir por motivos óbvios, é a mesma amiga que dá o incentivo, a fé, a coragem e a força que Diana precisava para se manter firme, estando sempre ao seu lado até a conclusão da missão. Belíssimo trabalho da Jodie Foster.
Já Annette Bening (eterna Carolyn Burnham em "Beleza Americana") é a estrela, a protagonista, a personagem-título, o centro das atenções. Annette estudou a personagem, personificou a personagem, analisou cada detalhe, cada oportunidade de se manter cada vez mais fiel com a personalidade verdadeira da Diana Nyad. Sem dúvidas é uma grande atuação, um grande trabalho, onde ela conseguiu acertar no timing perfeito, se manter coerente com cada acontecimento, com uma interpretação forte, verdadeira, carregada dramaticamente e ainda mesclando os momentos mais cômicos. Annette e Jodie estiveram o tempo todo em perfeita sintonia, harmonia, com uma excelente química, onde nos passava ainda mais veracidade acerca daquela forte amizade e comprometimento. Annette Bening entregou uma performance em alto nível de entrega, com a mesma gana e o mesmo desejo de vencer da verdadeira Diana Nyad.
Ambas foram indicadas ao Oscar de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante.
Agora um ponto que eu jamais poderia deixar de mencionar: a controversa história real por trás do filme.
Todo mundo que assistir "Nyad" poderá naturalmente se perguntar o porque que este feito histórico não entrou para o Guinness World Records. Pois o normal seria a Diana Nyad entrar para o Guinnes como a primeira mulher a realizar o trajeto sem o suporte de uma gaiola anti-tubarão. Existe uma grande polêmica que é liderado pela "Associação Mundial de Nadadores em Mar Aberto", que se recusa a validar o recorde. A associação chegou a soltar uma nota (durante o lançamento do filme) que seria essencial assistir o longa-metragem com o total discernimento dos fatos em questão, para que assim todos tivessem em mente as discrepâncias em torno da prova e consequentemente do percurso realizado pela Diana.
A polêmica ocorre porque segundo os órgãos responsáveis, Diana não esteve dentro de todos os protocolos estabelecidos para uma ultramaratona em mar aberto. Ainda se discutem que o recorde da nadadora não foi registrado e nem acompanhado por uma equipe responsável pela avaliação e concretização do percurso. Outro ponto que é discutido, é o fato da própria Diana afirmar que seu recorde foi realizado sem interferências e assistências para ajudá-la no percurso, quando na verdade afirmam que ela utilizou uma roupa especial. Mais uma polêmica sobre o caso, é o fato de afirmarem que grande parte do trajeto (mais ou menos um total de 9 horas) não ter sido completamente acompanhado e consequentemente filmado. E o mais bizarro e polêmico, é o fato de considerarem que em determinados trechos do percurso, segundo os dados do GPS, ela ter conseguido uma aceleração consideravelmente suspeita pela sua forma e velocidade costumeira de nadar, o que julgam que ela possa ter recebido uma ajuda de algum tipo de objeto ou veículo. O lado de defesa da Diana afirma que esta polêmica aceleração ocorreu porque ela teve um impulso de uma correnteza específica do golfo, mesmo sem provas concretas. Diante de todas essas polêmicas e acusações, o recorde de Diana Nyad até hoje foi negado pela associação, o que sempre a impediu de ser reconhecida no Guinness World Records.
Em entrevistas sobre o caso, a própria Diana diz: "Talvez eu tenha tido muita arrogância, tipo, 'Não preciso provar isso a ninguém.' Esse é o meu mal".
Dizem que existe uma Teoria da conspiração sobre a carreira esportiva de Diana Nyad, que mostra ela envolvida em várias polêmicas ao longo da sua trajetória como nadadora profissional. Vamos aos casos:
Jornais e órgãos relevantes do meio esportivo afirmam que Diana sempre mentiu (ou exagerou) em suas conquistas. Tem o caso em que ela afirmou ter sido a primeira mulher a nadar ao redor da ilha de Manhattan, em 1975, sendo que a primeira, na verdade, foi Ida
Elionsky, em 1916, ela foi considerada como a sétima. Dizem que a própria Diana mais tarde se arrependeu dessa afirmação.
Outro caso que afirma que Diana já havia mentido sobre seu histórico de natação. Ela afirmou ter ficado em sexto lugar nas seletivas olímpicas de 1968, às quais nunca compareceu. Todas essas questões de certa forma corrobora para uma perda de credibilidade das conquistas da Diana quanto ao ser reconhecida no Guinness World Records.
Todas essas polêmicas foi perguntado para a direção do filme, que responderam que o filme não era sobre o recorde em si, mas sobre a história de coragem, superação física e mental de uma mulher com mais de 60 anos, que percebeu que sua vida ainda não tinha chegado ao fim, e que ela ainda poderia deixar o seu legado ao realizar o seu grande sonho de vida, enquanto o mundo ao seu redor desacreditava dela.
Muitas pessoas saem em defesa da Diana Nyad, ao rejeitarem o seu feito, afirmando como resposta sexista a uma mulher poderosa. Ainda afirmam que não reconhecem toda a trajetória da nadadora porque grande parte da população ainda é anti-mulheres, anti-LGBTQ+, pelo fato de ser um recorde em que uma mulher supera os homens competitivamente falando. Atletas como Gertrude Ederle, Greta Andersen, Shelley Taylor-Smith e Cindy Nicholas foram celebradas pela comunidade da natação por superar os homens em resistência e velocidade. É realmente uma grande polêmica!
Outro ponto que desvalida o filme e perde relevância para muitas pessoas, é o fato da produção apresentar algumas discrepâncias em decorrência da história original. Muitos dizem (incluindo a tal crítica especializada), que o filme simplifica todo o percurso da Diana mostrando apenas uma embarcação que acompanhava o trajeto dela durante o percurso, sendo que na história real ela foi acompanhada por várias embarcações e uma grande tripulação. Ou seja, dentro desse contexto parece que o filme realmente diminuiu o feito dela.
Outro caso, ai eu já não sei até que ponto as cenas são reais ou não, mas fato é que a produção cinematográfica sempre gosta de dramatizar um pouco mais a história para gerar engajamento e comover o espectador. Mas também muitas pessoas envolvidas diretamente com a Diana Nyad afirma que o longa dramatiza eventos que não aconteceram como foi visto; que o caso das cenas do encontro com um tubarão e com a água-viva. Já eu achei um tanto quanto exagerada e fictícia algumas daquelas representações de como se vive em Cuba e todo o trajeto livre e fácil para o local.
"Nyad" teve o reconhecimento em alguns festivais de premiações, consequentemente recebendo indicações, entre elas de Melhor Atriz (Annette Bening) e Melhor Atriz Coadjuvante (Jodie Foster) no Oscar, no Globo de Ouro e no Screen Actors Guild Awards.
No mais, "Nyad" é um bom filme biográfico de mais uma personalidade norte-americana. O longa nos mostra que sonhos não tem idade e nem limites, que nos exemplifica acerca do poder da fé, da coragem, da perseverança, da motivação, da determinação e principalmente da superação tanto física quanto mental. Confesso que eu vou me abster em comentar sobre as inúmeras polêmicas, tanto da carreira profissional quanto do filme da Diana Nyad, até porque eu não tenho um vasto conhecimento dos casos. Até que ponto é verdade ou não, isso não vem ao caso, o que me resta é reconhecer o grande feito heróico, o grande recorde e o grande legado motivacional que esta mulher deixou marcado na história do esporte e principalmente da vida.
Encerro citando as três frases que a Diana Nyad fala ao término de sua missão:
1 - Nunca desistam!
2 - Nunca é tarde para ir atrás dos sonhos!
3 - Você vai precisar de uma equipe!
[02/02/2024]