Dirigido por Doug Liman, longa de ação estrelado por Matt Damon traz de volta os ares de filmes de ação mas peca em alguns pontos do roteiro.
O filme conta a história de um estranho (Matt Damon) que é encontrado por pescadores à beira mar e acorda sem memória. Disposto a descobrir quem é, vai direto à primeira pista que tem em mãos: o banco de Zurique, no qual descobre que tem uma conta e que seu nome é, na verdade, Jason Bourne. Mas as coisas não andam fácil. A Divisão de Inteligência, por algum motivo, quer a cabeça de Bourne, e agora ele terá que escapar das mãos de Ted Conklin (Chris Cooper), na companhia de Marie Kreutz (Franka Potente), que resolve ajudar Bourne na aventura arriscada.
Como aspectos negativos, a trama tem alguns pontos um pouco incompreensíveis. A começar pela personagem de Potente. É apresentada da maneira certa, com sutileza, se desenvolve bem e se define quem é ao longo do filme com facilidade. O problema está, na verdade, do por quê de Marie acompanhar Bourne nessa aventura alucinada.
Mal o conhecendo, a jovem aceita, por uma boa quantia de dinheiro, levar Bourne do Banco de Zurique à Paris, em sua casa. Até aí tudo bem, dá para entender a decisão de Kreutz. Porém, quando chegam à casa de Bourne, Marie, sem motivo algum, aceita entrar com Bourne na casa, como se estivesse interessado nele, apesar de mal conhecê-lo e ainda ser um foragido da polícia. E, como se isso não fosse o bastante, após Jason mostrar uma frivolidade ao nocautear um capanga de Conklin — que, apesar de todo quebrado, consegue andar alguns passos e se joga da janela —, Marie continua firme ao lado do desmemoriado, embora, claro, já fique mais desconfiada — por que diabos não fugira do homem que estava lhe colocando naquela enrascada? Contudo, a partir desse ponto, Marie começa a ter bons motivos para confiar em Bourne. Um deles é que a Agência também está atrás dela e a única pessoa na qual pode confiar é o agente.
Contudo, o erro mais gritante do filme é o roteiro em si, de tão previsível que é. A trama é conduzida na maneira certa, consegue atrair o espectador, porém tem um enredo previsível que qualquer um pode acertar o desfecho em dois minutos. Mas, compensando esse aspecto negativo, a trama não enrola em mostrar Bourne descobrindo o que o público já sabe. E aí, mais uma vez, o longa tropeça no próprio pé.
Depois de Bourne descobrir a sua identidade — um mercenário terceirizado da Agência de Inteligência —, o longa realmente não tem mais nada a mostrar e o espectador fica meio perdido buscando algo a mais que talvez possa estar ali — e não está.
O filme também não tem um os melhores desfechos. O longa se fecha com uma atmosfera muito feliz e alegre para um personagem traumatizado pelas próprias atitudes do passado e que está tentando esquecer com afinco de quem é.
Agora, indo direto para os aspectos positivos, o longa consegue encontrar certo equilíbrio, compensando a maioria de seus erros. A linguagem usada para a trajetória do protagonista é excelente: enquanto refaz seus últimos passos tentando se lembrar de quem é, Bourne se desconstrói e deixa para trás, aos poucos, o passado do qual tenta se lembrar.
O filme também acerta em ser novidade para o novo século e trazer de volta ares de filmes de ação à lá 007. Muitos dos elementos da famosa franquia de Bond estão presentes no longa de Bourne: a ótima trilha sonra, boas cenas de luta, o protagonista bonitão, assuntos políticos, embora como pano de fundo, envoltos na trama; e claro, a parceira sexy do agente secreto, que nesse filme não é explicitamente sexy, mas que mesmo assim faz qualquer marmanjo se apaixonar por ela — mais um acerto do longa, claro. A química entre os personagens de Potente e Damon talvez seja a que o diretor esperava acertar: ao ver ambos juntos em tela, o espectador torce, no fundo, para que fiquem juntos durante todo o filme e que tudo dê certo para eles.
Outro acerto são as cenas de suspense, que conseguem fazer, das mais simples a mais importante, nossos corações praticamente pularem pela boca. E ainda tem o fator vilão, que aqui no longa fica muito sugestivo para o público que o assiste.
As atuações do longa são ótimas. Matt Damon, embora com o rostinho um pouco jovial, protagoniza muito bem o agente esquizofrênico. Cada atitude da personagem de Franka Potente faz aumentar nosso amor por ela e nos preocupar ainda mais. Chris Cooper, repetindo sua carranca de vilania no aclamado Beleza Americana, faz de maneira sutil um ótimo "vilão".
A Identidade Bourne, embora com alguns tropeços de roteiro, consegue se manter em pé e inicia a trajetória de Bourne nos cinemas com pé direito, e cumpre com o prometido, que é nada mais que um filme de suspense e ação — além de ter outros atrativos a mais que fazem o longa ser o que é. Vale muito a pena conferir cada momento dessa história.
Nota: 8/10