O filme começa com uma mulher que foi criada dentro dos padrões sociais se jogando de uma ponte: os cabelos presos, joias, o vestido e sua cor destacam que era uma mulher requintada, com muita feminilidade, porém recatada - o que a sociedade espera de uma mulher.
Casada e grávida, Victoria escolhe o suicid*o, escolhe romper a propria vida do que permanecer vivendo uma vida que não escolheu pra si. Quantas de nós mulheres somos "empurradas" para vivermos o que não sonhamos e acabam "morrendo" por dentro?
Eis que uma nova chance: God, aquele que pode ceder uma nova vida, tira o cérebro do seu bebê e coloca na cabeça dela. Victoria agora passa a se chamar Bella. Uma nova vida, uma chance de ser feliz. God é eunuco, o que eu interpreto aqui como alguém "castrado do seu machismo, da necessidade do falo para ser homem".
Bella é criada por God e vê a vida com os olhos de uma criança curiosa, como todas nós um dia já vimos. Mas em seu lar ela não é privada de ser quem é. Sua roupa não é imposta a ela, ela veste ceroulas em casa quase o tempo todo. Pensem que é uma mulher sendo criada por uma pessoa "castrada" do machismo (sonho!)
Em um momento do filme, o auxiliar de God se encanta pela doçura e inocência da protagonista, mostrando que está encantado pelo seu interior, sem desejar primeiramente contato sexual.
Mesmo com a segurança da casa e do noivo apaixonado, Bella decide fugir para descobrir um novo mundo, e aí sua vida ganha cores (e o filme também, literalmente). Ela foge com o amante Dunkan.
As roupas coloridas, desconexas e os cabelos soltos destacam a felicidade da descoberta pelo novo. Percebam que apenas as roupas dela são coloridas e curtas - as demais personagens femininas usam roupas mais discretas e escuras: simboliza que apenas Bella vive a vida mais "cheia de cor", livre, sem impedimentos, sem as noções do que é certo e errado pela sociedade. Ela é feliz do seu jeito.
A leitura do amante interpretado pelo Mark Ruffalo também é bem interessante: um homem que está feliz fazendo sexo com uma mulher bonita, promete o mundo inteiro a ela, dá tudo que tem para seduzi-la, e quando percebe que ela não cede aos seus encantos, fica atordoado, perde tudo, se reduz a uma histeria e loucura de um menininho apaixonado, perde tudo que tem e...... a culpa! (Te soa familiar?)
A loucura é tanta, que ele a encaixota e a coloca em um navio para que fiquem juntos (claramente mostrando aqui que a visão de um homem sobre o amor é a prisão: se você ama, você aprisiona).
Ela e o amante retornam à terra e vão para Paris, onde ela se prostitui. No momento em que ela opta por isso, Duncan já não a vê mais como uma mulher, e sim como uma put* (?). Na verdade, ela só estava vivendo a vida que vários homens escolheram pra si: viver de sexo, sem se preocupar com os julgamentos sociais. Ela se descobre e estuda muito nesse período, além de fazer muitos amigos e amigas.
Ela descobre que o pai está doente e retorna para cuidar dele. Aqui podemos ver que suas vestes também sofrem mudança: tons mais escuros, roupas mais fechadas... mostram uma Bella mais madura, mais segura de si, mais dona do próprio caminho.
O filme se desenrola bastante e no final aparece o seu marido - ou melhor, o marido de Victoria. Uma figura máscula e imponente, simbolizando perfeitamente a figura do machismo: agressivo, vil, doentio, castrador. Quando Bella descobre que o objetivo do homem é reduzi-la a apenas um ser que procria, tirando-lhe qualquer desejo sexual (o que lhe movimenta), ela se rebela novamente e o reduz a um animal irracional - o que, na minha concepção, qualquer moralista o é.
No final do dia, ela sorri feliz e livre ao lado daqueles que a aceitam (a posição do noivo da Bella também é super simbólica, demonstrando que os homens podem ser parceiros na luta pela emancipação feminina e serem felizes com isso).
Sem guerras. Sem disputa de poder. Apenas uma "feliz forma prática de amar" - como relata a própria protagonista.