Yorgos Lanthimos tem uma predileção evidente por explorar comportamentos extremos em cenários que transpiram perfeição, seja nos recantos tranquilos dos subúrbios em "Dogtooth", nos ambientes clínicos de "The Lobster", ou na grandiosidade opulenta de "The Favourite". A dicotomia marcante entre as expectativas sociais e a complexidade da natureza humana parece intrigá-lo profundamente. Em seu mais recente trabalho, "Poor Things", esse conflito atinge seu ápice de excentricidade e entretenimento. O filme é um verdadeiro desfile de peculiaridades, desde as atuações e diálogos até os detalhes de produção e figurino. No entanto, em meio a essa excentricidade, Lanthimos mais uma vez nos confronta com a estranheza de estabelecer conexões genuinamente humanas.
A protagonista, Bella Baxter, anseia por autodescoberta, buscando genuinamente uma identidade própria e relacionamentos autênticos, livres de manipulação. Embora a premissa possa parecer familiar, a execução é repleta de reviravoltas inesperadas. Ambientado na Londres vitoriana, o filme segue a jornada de Bella, interpretada por Emma Stone, que vive em uma elegante residência com o excêntrico cientista Dr. Godwin Baxter, vivido por Willem Dafoe. A relação entre os dois é complexa, com Godwin desempenhando um papel que vai além do mero tutor.
Ao longo da trama, Bella é influenciada por diversos homens, incluindo Max McCandles, interpretado por Ramy Youssef, e o canalha Duncan Wedderburn, vivido por Mark Ruffalo. Enquanto Max representa uma figura de apoio, Duncan a envolve em uma extravagante jornada pelo mundo, que se resume principalmente a encontros íntimos. Stone entrega uma performance excepcional, navegando habilmente entre os diferentes estágios de evolução de sua personagem, desde sua inocência inicial até sua libertação sexual. Sua interpretação é tanto técnica quanto emocionalmente precisa, cativando a audiência e nos fazendo torcer por Bella em sua luta contra a opressão patriarcal crescente.
"Poor Things" é uma obra cinematográfica extraordinária, onde cada cena é uma obra-prima em si mesma. Recomendo este filme vivamente a todos que procuram uma experiência cinematográfica única e memorável.