"Pobres Criaturas é um filme doido, Bizarro e precisamos de mais histórias como essa"
"Frankenstein" é um personagem clássico e muito conhecido. Qualquer pessoa já ouviu falar dele em algum momento. Ele surgiu na literatura como protagonista de um romance de terror escrito por Mary Shelley. No cinema, tivemos várias adaptações do personagem. Uma consequência disso é o longa-metragem "Pobres Criaturas", dirigido por Yorgos Lanthimos, que é uma adaptação do livro de Alasdair Gray, que por sua vez foi inspirado no aclamado romance de Shelley.
Qual a História de Pobres Criaturas?
Baseada no livro homônimo de Alasdair Grey e referenciando o clássico Frankenstein, a história se passa na Era Vitoriana e acompanha Bella Baxter (interpretada por Emma Stone), trazida de volta à vida após seu cérebro ser substituído pelo do filho que ainda não nasceu. O experimento é realizado pelo doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista brilhante, porém nada ortodoxo. Querendo conhecer mais do mundo, a jovem foge com um advogado( Mark Ruffalo) e viaja pelos continentes, exigindo igualdade e libertação.
O roteiro é sensacional. A história é bem parecida com a do Frankenstein, só que no filme temos uma mulher como protagonista. A personagem é ressuscitada a partir do cérebro de sua bebê. No começo da trama, vemos Bella vivendo na casa do Dr. Godwin Baxter após ser trazido de volta a vida. Ela tem dificuldade para andar corretamente, falar e exibe um comportamento infantil. Conforme Bella evolui e descobre as coisas, ela decide que quer sair e descobrir como é o mundo. Então, Bella foge com um advogado e aí começa a sua jornada pelo mundo. A partir daí, é apresentado o mundo onde a narrativa acontece para Bella.
O longa realiza com maestria a tarefa de nos mostrar a ingenuidade de Bella e apresentá-la em situações sociais onde ela precisa adotar um certo tipo de comportamento, do qual ela não tem o conhecimento adequado. A partir desses cenários, ela vai conhecendo o mundo e como as coisas funcionam, o que é adequado e o que não é. Para amadurecer, Bella é colocada em várias situações que a obrigam a aprender a lidar com elas. A relação dela com o advogado é muito bem desenvolvida e é algo que a faz amadurecer e desejar ser livre das imposições da sociedade. O arco narrativo de Bella é muito bem construído. No começo do longa, Bella começa de um jeito e no final, ela está totalmente diferente. A trajetória e as transformações que ela sofre em sua jornada foram muito bem feitas.
A direção de arte é excelente. Os cenários são muito bem construídos. O longa retrata fielmente a época em que a narrativa se passa, tornando tudo mais verossímil e ajudando o espectador a compreender que a história ocorre no passado.
O figurino também está excelente. O filme se passa na era vitoriana, e as roupas que os personagens usam são muito semelhantes ao vestuário da época.
A maquiagem do filme está incrível, principalmente no Willem Dafoe, que faz o espectador realmente acreditar que o Dr. tem uma cara desfigurada e cheia de cicatrizes.
A fotografia é sensacional. O filme começa em preto e branco, até que a personagem Bella parte para conhecer o mundo e aí é feita a transição para a cor. Essa mudança é um ótimo recurso, onde o preto e branco representa o início da vida de Bella, marcada por seu confinamento na casa do Doutor, enquanto as mudança para cores simboliza sua jornada de descoberta.
Apesar de ser um longa sombrio, ele é bastante colorido.
O uso das cores é feito com maestria, cada uma com seu significado e capaz de gerar diferentes sentimentos e sensações. A presença das cores contribui para a construção da ambientação do filme.
Os enquadramentos são bem feitos e utilizados de forma eficaz. Planos gerais são frequentemente empregados para mostrar o cenário e apresentar o mundo onde se passa a trama. Os planos fechados são aplicados de maneira eficiente para mostrar as emoções e expressões dos personagens. Além disso, um enquadramento recorrente é o que coloca os personagens dentro de um círculo, algo que se assemelha a um olho. Esse enquadramento pode gerar várias interpretações sobre seu significado, como se alguém estivesse observando os personagens através desse olho, mas quem seria esse observador? Não se sabe ao certo. Pode-se argumentar que o espectador está participando da história e é ele quem está observando os personagens. Essa ambiguidade permite que cada espectador interprete de sua maneira.
A edição do filme é boa. A montagem é bem organizada, deixando claro em que ponto da história estamos. Sempre que Bella se desloca de um país para outro, é informado para qual local ela foi agora. Os cortes são bem executados, garantindo que a narrativa progrida de forma fluida, proporcionando um ritmo agradável e um bom dinamismo.
A trilha sonora do longa é boa. Ela varia de acordo com o que acontece na cena: se Bella está em uma situação descobrindo algo novo, a música transmite a sensação de novidade. Quando Bella enfrenta situações mais desafiadoras e perigosas, a trilha nos proporciona uma sensação de tensão.
Os atores trabalham muito bem, principalmente Emma Stone e Mark Ruffalo. Emma Stone brilha no papel de Bella Baxter. Ela consegue mostrar a evolução de sua personagem através de sua atuação, demonstrando as mudanças no comportamento de Bella. Ela foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e é a grande favorita para levar a estatueta.
Mark Ruffalo interpreta o advogado muito bem. Com sua performance, ele nos apresenta a natureza do advogado e como ele lida com Bella, que tem pouco conhecimento do mundo.
O filme é dirigido por Yorgos Lanthimos, que possui grandes obras cinematográficas, e esta não é uma exceção. Sua direção é muito boa, caracterizada por seu estilo próprio. Yorgos utiliza diversos elementos que são recorrentes em seus outros trabalhos, como personagens adultos com atitudes infantis e comportamentos estranhos, além de ocasionais explosões de violência. Neste longa, ele também faz uso de travellings, uma técnica que é uma marca registrada em seus projetos anteriores.
Em geral, 'Pobres Criaturas' é um filme doido, bizarro, mas isso não quer dizer que seja ruim. É simplesmente algo diferente do que estamos acostumados, e isso é ótimo. No entanto, por ser um pouco fora do comum, o espectador terá uma experiência diferente; alguns irão gostar e outros não.