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    A Baleia
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    A Baleia

    Bem-vindo de volta, Brendan Fraser

    por Katiúscia Vianna

    Que atire a primeira pedra quem nunca se encantou com Brendan Fraser nos anos 90/início dos anos 2000. E que atire a primeira pedra quem não se encantou com Brendan Fraser durante a temporada de premiações de 2023. Divulgando A Baleia desde o Festival de Veneza, o ator se emocionou ao vencer prêmios, dividindo o espaço de queridinho do público junto com Ke Huy Quan (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo). Mas, ganhando o Oscar ou não, a opinião geral sobre o filme de Darren Aronofsky é bem mais controversa.

    Qual é a história de A Baleia?

    Adaptação da peça escrita por Samuel D. Hunter, The Whale (no original) gira ao redor de Charlie (Brendan Fraser), um professor que dá aulas online, já que não consegue se locomover bem por conta de seus 270 quilos. Sua saúde está cada vez mais debilitada, causando preocupações em sua amiga, Liz (Hong Chau), com quem compartilha uma conexão especial.

    Triste após perder o parceiro, o maior arrependimento de Charlie foi ter abandonado a filha, Ellie (Sadie Sink), na infância. Então, ele decide tentar se aproximar da jovem rebelde pelos dias que lhe restam — mas não será fácil superar a raiva e o rancor da garota. A história ainda traz um jovem missionário religioso, Thomas (Ty Simpkins), que acredita num motivo divino para ter cruzado o caminho do protagonista. O filme fica completo com Samantha Morton como a ex-esposa de Charlie e mãe de Ellie, Mary.

    Brendan Fraser faz a melhor performance da carreira

    Eu devia ter uns 9 anos quando vi os dois primeiros longas da franquia A Múmia pela primeira vez, na época que a gente ainda alugava filmes na locadora, em formato de fita VHS. Definitivamente, era nova demais para ver aquela múmia toda em carne viva com efeitos especiais meio questionáveis, mas já tinha idade para entender que Brendan Fraser é um ator cheio de carisma. O problema foi que muita gente relacionou essa empatia com sua beleza, colocando-o em estereótipos de homens tolos ou astros de ação.

    Após um problema de saúde grave e passar por abusos em Hollywood, Fraser ficou um tempo meio sumido, mas retomou em alguns papéis antes de A Baleia - vide a subestimada série Patrulha do Destino da DC. Só que o trabalho dele no filme de Aronofsky realmente merece ser visto. Obviamente auxiliado por uma caracterização caprichada (que mistura maquiagem de prostéticos com efeitos especiais), sua performance como Charlie é algo nunca visto antes em sua carreira.

    Fora o trabalho físico que o papel demanda, é a gentileza e humanidade que Brendan traz para o personagem que o faz fugir da caricatura. Com apenas um olhar, é possível perceber o otimismo do homem, mesmo em uma situação tão complicada. Tem certos momentos de humor, mas é uma história carregada de drama, que exige do ator bastante emoção, provando que seu talento vai além da questão estética — e que ele ainda tem muito para mostrar. Podemos debater sobre o problema de Hollywood ao não escalar atores de muito peso em suas produções (o que é uma realidade, infelizmente), mas é inegável que Fraser foi uma escolha acertada para Charlie. Só que essa performance tão incrível surge acompanhada de um filme bem complicado.

    A Baleia é um filme gordofóbico?

    Sejamos sinceros, Darren Aronofsky nunca foi o rei da sutileza. Por mais que tenha projetos maravilhosos em sua filmografia (Réquiem para um SonhoCisne Negro por exemplo), suas últimas produções carregam algumas mensagens meio polêmicas. A situação não é diferente em A Baleia. Além do debate já citado sobre a escolha do intérprete de seu protagonista, o cineasta não ajuda a situação ao trazer um olhar problemático sobre a vida de Charlie.

    Por mais que os momentos de emoção sejam carregados com maestria pelo elenco, a história é recheada de cenas que exploram o peso de Charlie. Diversas vezes, seu vício em comida é retratado com dramaticidade exagerada. Sim, é um vício que precisa ser debatido, mas não são necessárias quatro montagens sobre esse problema ao som de uma trilha quase apocalíptica. Sim, o personagem está numa jornada de autodestruição, mas não é assim que devemos retratar. Abordar obesidade não é tarefa fácil, é verdade, então necessita uma delicadeza que não está presente em sua direção ou roteiro — também assinado por Samuel D. Hunter para as telonas.

    Filmes foram feitos para despertar sentimentos em seu público, expressar opiniões e contar histórias. Mas a exploração de um tema tão importante não é responsável e, sinceramente, desnecessária. Existem momentos realmente impactantes na narrativa de A Baleia e a direção de fotografia constrói uma história claustrofóbica focando tudo dentro do apartamento de Charlie — provavelmente uma herança das características teatrais da obra original. Mas tudo isso é quase ofuscado por esse descuido superficial sobre obesidade; e a salvação surge mesmo pelas performances de seu elenco.

    Hong Chau e Sadie Sink também estrelam A Baleia

    Já falamos bastante sobre a performance de Brendan Fraser (e, sinceramente, falaria mais ainda), que realmente carrega o filme nas costas. Mas ele tem um apoio muito especial: Hong Chau. A atriz — que também está ótima em outro lançamento recente, O Menu — tem a difícil missão de dosar uma personagem cética e raivosa, mas também vulnerável e temerosa com a saúde de seu amigo. Por trás de todas as frases duras de Liz, existe ali um lado protetor belo, mesmo que nem sempre concorde com Charlie. A indicação do Oscar foi bem merecida e demanda atenção especial de Hollywood.

    Outro destaque do filme é Sadie Sink, já bem conhecida por Stranger Things — inclusive, defendi que a jovem merecia indicações por sua performance na quarta temporada do fenômeno da Netflix. É só tocar Running Up That Hill que eu quase choro. Ok, voltando para a A Baleia: aqui a jovem encontra menos conteúdo para trabalhar, pois Ellie é apenas descrita como uma jovem manipuladora e raivosa por 98% de seu tempo em tela. Mas defende bem o seu posto de uma das maiores revelações da nova geração. E, curiosamente, ainda ajuda sua família, pois quem interpreta a versão mais jovem de Ellie é a irmã de Sadie, Jacey Sink.

    A Baleia é um filme problemático? Sim. Vale a pena ser visto? Também sim. Não somente por trazer debates importantes sobre obesidade e depressão, apesar da forma errada de apresentar esses temas. Porém, as performances de Brendan Fraser e Hong Chau merecem ser apreciadas pelo público. E, não vou negar, mesmo com seus defeitos, o longa fez muita gente derramar lágrimas no cinema, então a emoção aparece na tela. E qualquer coisa que faça Hollywood, finalmente, tratar Brendan Fraser como ele merece, está valendo.

     

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