Este filme, baseado em fatos reais, que conta os últimos anos da vida da jornalista irlandesa Veronica Guerin, foi lançado no Brasil com o nome de O Custo da Coragem, título que sintetiza bem o trabalho que ela se propunha a fazer, bem como suas consequências.
A área do jornalismo na qual Veronica, que escrevia para o Sunday Independent, escolheu para atuar é uma das mais difíceis, o investigativo, por meio do qual ela não media esforços para conseguir chegar até a verdade. Indo a fundo para descobrir a origem da distribuição de drogas que estava sendo feita por todo o país, em certo momento Guerin bate à porta da casa de um dos supostos líderes de quadrilhas de Dublin, sem medir a reação que essa atitude poderia causar no mafioso. Como é revelado logo no início do longa, sua ousadia a leva a ser assassinada, em 1996, pelo capanga de um dos chefões locais do crime. Então o roteiro nos traz de volta dois anos atrás, nos mostrando os caminhos que Veronica percorreu até culminar nesta covarde atitude por parte do tal mafioso.
Jornalista respeitada, ela contava com o apoio de seu jornal, seus colegas, e também do público, acostumado a ler suas reportagens que sempre mantinham esse teor social. Seu marido e sua mãe, embora não se opunham totalmente, viviam contestando se valia a pena tamanho esforço dedicado a um trabalho tão perigoso, mas ela insistia nas histórias que queria contar, acreditando que poderia fazer a diferença, contribuindo com a sua profissão para tornar a sociedade melhor, livre das drogas.
Cate Blanchet, que já ganhou dois prêmios Oscar, incorpora com o comprometimento necessário a jornalista, reproduzindo até o sotaque irlandês, e sabendo dosar na medida certa cenas que exigem que sua personagem transmita coragem, segurança, medo ou até mesmo a momentânea tranquilidade proporcionada por momentos de lazer em família, como quando dança ao som da versão do U2 para o clássico Everlasting Love. O diretor Joel Schumacher conduz a trama equilibrando a crueza das ruas com o enfoque humano dado à sua personagem, o que contribui para que o espectador reflita sobre as ousadas escolhas que ela faz. Vale mesmo a pena se arriscar tanto assim em nome do jornalismo investigativo?
O fato é que, após sua morte, Verônica incentivou uma militância muito maior por parte do povo e, por consequência, uma atuação muito mais agressiva da polícia de seu país, o que culminou em investigações profundas que acarretaram a prisão de dezenas de traficantes. As ações policiais foram além, alcançando até os figurões da máfia. Este pode ser considerado, portanto, o legado deixado por Veronica Guerin, uma destemida, ousada e corajosa jornalista que lutou até o fim, em prol do que acreditava, que a verdade pode fazer a diferença, e livrar a sociedade (ou pelo menos diminuir) do tráfico e do consumo de drogas, tornando-a um lugar mais aceitável para todas as pessoas de bem.