Nathalie... O Filme, de verdade
Quando é que um filme deixa de ser um mero filme e passa a ter vida própria?
Quando se descobre nele um aprendizado.
Nathalie... Como num apelo. Na verdade, no original francês, fica a sensação do pedido reticente. Nathalie... E, no meio do filme, repetimos inevitavelmente, suspirando por Ela, sem querer, sonhadores. O nome não importa. Poderia ser Renata, Camila, Mônica ou Luciana. Só para ficarmos no Brasil. O que importa, é o desejo latente dos homens, pedindo por Ela. E pelas mulheres, querendo ser igual a Ela.
O filme Nathalie X (numa lamentável tradução nacional) é com certeza para poucos. É excelente, mas não veja. Não veja se sua mente está fechada em dogmas, leis e regras. Ou se é daqueles que já se fixaram no massificado americano. Ou ainda se tem medo de enfrentar sua própria sexualidade convencional que não foi feita para transgredir. Ou ainda se vive bem com seu “status-quo” de hábitos e costumes.
Agora se, por outro lado, está buscando desmascarar padrões ou regras de comportamento - Não tem medo de discutir sua própria sexualidade – veja Emmanuelle Béart provar que é possível ser e fazer uma mulher inesquecível, mesmo sem ser, mesmo só de mentirinha.
Sem gestos extravagantes, de uma interpretação suave ou rompantes bruscos de pura teatralidade, só com palavras, olhares e gestos “em câmera lenta”, Emmanuelle, a mais bonitas das bonitas francesas desta geração de Sophies e Julies, explora a alma feminina como profunda conhecedora e praticante. - Aquilo não pode ser pura interpretação. Por favor não retirem meu sonho. Tem de ter algo dela. Só dela. - São daqueles profundos olhos de bicho, meio assustada, meio assustadora, mas suave como uma carícia que ela nos contamina, destruindo qualquer limite imposto socialmente para uma mulher que deseja ser mulher. Sem arroubos de paixão, Nathalie-Emmanuelle, consegue explodir uma emoção contida na maioria das mulheres de maneira muito dolorida. Consegue mostrar em sua estranha esperteza que toda mulher, no fundo de sua alma, sabe muito bem o que um homem deseja e como deseja e, principalmente, nasce sabendo fazer tudo isso muito bem. Apenas, infelizmente, foi proibida.
As convenções - o contraponto de Nathalie - você vai ver em Catherine, a esposa convencional, encomendada. Fanny Ardant, do alto de sua sabedoria trôpega e sofrida, está convicta de que vê em sua artimanha uma maneira de se libertar. Libertar, na verdade, para continuar a viver em paz com seus fantasmas EXATAMENTE como sempre foi. Soltar-se, para ficar de bem com seus costumes enraizados no preconceito e no pré-definido que incomodavam tanto sua vida. E são tantas suas definições que deixa de ser ela para ser apenas um padrão de comportamento a ser cumprido. Com aquele charme classudo da Diva que ficou, Fanny, representa as armadilhas da alma humana cheia de verdades derradeiras.
Resta a nós todos, mas principalmente as mulheres escolher qual caminho devem percorrer. Não existe certamente doces ilusões de fórmulas fáceis de felicidade instantânea.
Quem você quer ser Catherine ou Marlene-Nathalie?
Se Catharine, sua visão também será deturpada para cada desafio que se apresente já que você já tem todas as respostas e tudo o que terá de fazer e como os outros reagirão. Cuidado! Perigo! Visões pré-concebidas levam a soluções simples e inegáveis mas na maioria das vezes completamente erradas.
Para ser a segunda opcão – Nathalie - resta muita incerteza com o futuro, muita dúvida e insegurança. A única certeza será a de ter sempre os sentimentos verdadeiros à flor da pele.
PS (2012): É tão bom que os americanos sem dar o menor crédito, como sempre fazem, já chuparam o filem para um muito inferior feito por eles.