Minha conta
    Intrusion
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Intrusion

    Já trancou as portas de casa hoje?

    por Aline Pereira

    O medo de um invasor à espreita dentro da própria casa é tão universal que não é difícil entender por que são tão comuns os filmes de terror que partem dessa premissa. HushO Homem nas Trevas e Sob o Domínio do Medo, por exemplo, são alguns dos longas que se destacam entre uma infinidade de outros do gênero justamente por conseguirem incluir elementos a mais, que dão a eles personalidade. Um ponto que talvez você sinta falta em Intrusion, filme de suspense da Netflix.

    O longa estrelado por Freida Pinto (Quem Quer Ser Um Milionário?) e Logan Marshall-Green (Prometheus) acompanha a história do casal formado pela terapeuta Meera e pelo arquiteto Henry. A mulher é uma sobrevivente do câncer de mama e os dois se recuperam desta situação traumática quando a história com a mudança para uma nova casa gigante e no meio do nada, claro, em busca de construir uma nova vida. Pouco tempo depois, um grupo de invasores começa a atormentar os dois.

    Aqui, um aspecto instigante conta a favor da história: os ‘intrusos’ não assaltam a casa e, na verdade, parecem estar procurando por algo dentro dela. Ainda no início do filme, após a invasão, Meera e Henry recebem a visita do policial que investiga o caso e é a partir dele que damos partida ao jogo mental inevitável de tentar adivinhar o que está acontecendo - nesse sentido, é pouco provável que alguém desista de assistir ao filme no meio do caminho, mas a curiosidade de saber se o palpite estava certo ou não provavelmente será a maior motivação para ir até o fim.

    URSULA COYOTE/NETFLIX

    Como quase não há outros personagens em cena -e o filme não parece fazer questão de incluir suspeitos plausíveis para despistar- não é difícil deduzir que há algo de errado com os protagonistas. Independentemente da história, Freida Pinto e Logan-Marshall Green são a maior qualidade do filme e a dupla de atores faz o melhor trabalho que pode com o roteiro que têm em mãos para incluir traços em seus personagens que despertam desconfiança e curiosidade para entender o que exatamente qual é o problema com eles.

    Reações mais convincentes fortaleceriam o mistério

    “Sai daí” provavelmente é o primeiro pensamento de quem assiste um filme em que há um perseguidor e, por partir de um medo possível de acontecer na vida real, imediatamente nos colocamos no lugar dos personagens para pensar no que faríamos. Fugir ou, no mínimo, deixar a casa temporariamente seriam as soluções mais simples que, tudo bem não acontecerem para que a história possa continuar. Mas ainda assim, é sempre mais interessante quando o filme nos convence de verdade de que os personagens precisam estar naquele lugar ou que justifiquem suas reações aos acontecimentos. 

    Falta um pouco disso em Intrusion, o que acaba enfraquecendo o mistério e a sensação de “beco sem saída” que leva à reviravolta ou à surpresa de um bom suspense. Meera, por exemplo, reage de uma forma que não parece realista para alguém que está nesta situação aterrorizante. Não vamos dar spoilers, claro, mas há um momento ilustra bem o que queremos dizer: a protagonista encontra uma fita de vídeo que parece conter uma pista importante sobre os invasores e tem duas reações com as quais é difícil se conectar: primeiro, ela deixa para lá (quem faria isso?), depois, ao assistir, não sente sequer a curiosidade de ver ao vídeo todo e para no meio do que parecia ser uma informação importante.

    URSULA COYOTE/NETFLIX

    A trama nos dá elementos para mostrar que a personagem tem um histórico de vida difícil e que ainda está passando por uma crise, o que poderia explicar a reação apática e confusa aos acontecimentos. Se olharmos por esse lado, somado a relação que tem com o marido, podemos procurar caminhos para comprar a história dela. Mas a história poderia ser mais imersiva se explorasse um  pouco mais camadas de seus personagens principais.

    Os detalhes da história fariam toda a diferença no resultado

    De forma geral, as novas informações trazidas ao longo da história são curiosas e o quebra-cabeça traz boas peças sobre quem eram os invasores, o que estava por trás do crime, qual é a dinâmica entre o casal, etc. Mas a montagem completa deixa faltando detalhes que, sem dúvidas, poderiam mudar completamente a percepção e o horror que sentimos sobre ela.

    A sensação é de que faltam algumas partes do filme que teriam tudo para torná-lo mais sombrio e que até parecem ter sido pensadas pelo roteiro, mas simplesmente não estão na tela. É claro que deixar para o espectador imaginar ou deduzir um ou outro detalhe nebuloso é até bom para alimentar o medo do desconhecido, mas quando faltam peças demais, o efeito pode ser oposto.

    URSULA COYOTE/NETFLIX

    Ao se encaminhar para o final, a revelação do mistério parece conter segredos muito macabros por trás e a vontade é de entrar mais fundo nesta parte da história - Intrusion poderia, por exemplo, ter adiantado a resolução do mistério e colocado uma lupa sobre o que o cercava e o que fazer com a verdade em mãos - é aí que parece estar a real história de terror psicológico que o filme propõe. 

    A ordem dos fatores não altera o resultado

    Desde o início, Intrusion vai apresentando pequenos detalhes sobre o passado dos personagens, bem como seus relacionamentos e personalidade - quem gosta ou já está familiarizado com filmes de quebrar a cabeça provavelmente vai guardá-los na mente esperando pela conexão que estes elementos farão com o mistério. As peças funcionam para construir o clima sinistro, mas no fim não parecem fazer tanta diferença ou ligação com os acontecimentos principais. Não é que seja frustrante, mas talvez um potencial tenha sido desperdiçado ali.

    Para a maioria das pessoas, Intrusion não é um filme que vai deixar a sensação de tempo perdido, mesmo porque é fácil saber o que esperar dele desde o começo. Também não é entediante: a curiosidade para ver como vai terminar, ou menos descobrir se os palpites mentais acertaram ou não, é suficiente para segurar a atenção de quem está assistindo.

    Certamente não será o título que vem imediatamente à memória quando alguém nos pede para recomendar um bom filme de suspense, mas entretém: quem é que não dá uma conferidinha nas portas no final?

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top