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    Missão Impossível 3
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Missão Impossível 3

    Questões pessoais

    por Francisco Russo

    Ao se tornar franquia, Missão Impossível ganhou uma interessante peculiaridade: cada novo filme seria comandado por um diretor diferente, justamente para que houvesse uma diversidade de olhares acerca de temas em comum. Após os consagrados Brian De Palma e John Woo, chegou a vez do na época pouco conhecido J.J. Abrams estrear no mundo do cinema já encarando seu primeiro blockbuster: Missão Impossível 3.

    Logo de início, pode-se notar um reflexo da série-símbolo da carreira do diretor: Lost. A partir de um tenso e habilidoso flashforward, temos a chance de acompanhar um Ethan Hunt não apenas desnorteado mas sem qualquer controle, sofrendo (e chorando) pela perda iminente de sua amada. A frieza do vilão interpretado pelo saudoso Philip Seymour Hoffman aumenta o impacto da sequência, criando não só expectativa como também dúvidas sobre o que está por vir: Hunt agora tem uma paixão?

    É justamente esta a grande novidade do terceiro filme da franquia. Em um vislumbre de como seria ter uma vida normal, Ethan Hunt é apresentado longe das aventuras cheias de adrenalina, em momentos a dois que remetem a vários filmes anteriores do próprio Tom Cruise. O intuito, escancarado, é estabelecer o contraponto deste momento com a vida pregressa do agente, que, é claro, logo irá bater à sua porta.

    Além da estrutura narrativa que (re)aproveita a tática do flashfoward, Missão Impossível 3 traz como novidade a proposta de um Ethan Hunt mais emotivo, usando suas habilidades para resolver uma questão pessoal. Tal ideia até funciona no sentido de dar continuidade ao personagem, retirando dele o aspecto James Bond de cada aventura não ter conexões umas com as outras - algo melhor trabalhado apenas recentemente, na fase Daniel Craig -, mas também lhe traz uma banalidade intrínseca às artimanhas de um relacionamento em filmes de ação, especialmente quando um deles é um "super-herói sem poderes".

    Ou seja, se a (boa) presença de Michelle Monaghan como o grande amor de Ethan Hunt é interessante como novidade, ao mesmo tempo limita bastante seu raio de alcance - algo notado não apenas neste filme, mas também nas sequências. Hunt, por natureza, é o típico lobo solitário, aquele que faz o necessário pelo bem maior; reduzi-lo a um par minimiza bastante seu potencial narrativo - e isso fica escancarado, já neste filme.

    Repetindo a fórmula dos muitos disfarces para seu astro-rei e dos coadjuvantes sem desenvolvimento próprio que servem apenas como escada, Missão Impossível 3 acaba sendo um filme de ação corriqueiro, como tantos outros. Até mesmo o desfecho da ótima sequência de abertura soa frustrante, assim como Hoffman perde força como vilão em nome de uma reviravolta rocambolesca. Cruise, por sua vez, até vai além do esperado: alternando boas cenas de ação com o sorrisão carismático tão útil em sequências mais leves, ele chega a surpreender pelas emoções à flor da pele na já citada abertura - uma breve demonstração que, sob a aura do astro, há também um ator com recursos, como tão bem demonstrou em filmes como Magnólia e Nascido em 4 de Julho.

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