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    Rede de Ódio
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Rede de Ódio

    Há limite para a manipulação?

    por Barbara Demerov

    Em Rede de Ódio, o protagonista é o pupilo de uma agência que visa danificar as imagens de pessoas públicas, mas também é o criador do caos crescente imposto na narrativa. Oscilando entre aprendiz e mestre, Tomasz (Maciej Musialowski) instiga o espectador a todo o momento, pois sua frieza e serenidade são duas características que impossibilitam uma visão mais clara do que pode estar por vir. Os movimentos que faz em prol da própria estabilidade aos olhos de quem o conhece surpreendem, mas ao poucos se transformam em algo corriqueiro.

    Jan Komasa, diretor do ótimo Corpus Christi, entrega mais um exemplar de como os personagens de seus filmes lideram experiências que conversam com o que reside em suas vontades mais obscuras. Em ambos os filmes, os jovens protagonistas são reféns do passado e moldam suas vidas atuais com base no que já perderam. Porém, nesta nova produção lançada diretamente na Netflix, Tomasz é uma pessoa que anseia pelo poder e se satisfaz até mesmo quando se mostra alguém completamente diferente do que é na verdade. Movido pela energia do ódio e intolerância que reside na internet, é ali que ele se sente em casa.

    Seu comportamento narcisista com traços de sociopatia é o que move a trama de Rede de Ódio, especialmente quando é possível observar uma mudança de foco a partir do momento em que ele é rejeitado pela melhor amiga de infância. Se no início do filme Tomasz é um mero estudante de Direito que acabou de ser expulso da faculdade, ao chegarmos no trágico desfecho já pudemos acompanhar o personagem perder todo e qualquer tipo de limite.

    Com uma narrativa que combina temáticas tão complexas quanto atuais - fake news, intolerância política e a fragilidade das imagens perfeitas na internet - , o longa vai se transformando em um verdadeiro thriller a cada passo elaborado de Tomasz. E, mesmo quando é evidente que o jovem perdeu a noção do resultado de seus atos (especialmente quando se aproxima do "alvo" da agência em que trabalha), Rede de Ódio apoia-se ao dualismo inserido através destas ações. Isso gera um efeito dominó imprevisível e impactante.

    Quando o longa se apropria do clima investigativo (refletido até nas vestes do protagonista) e mergulha na mente de um protagonista que não mede suas atitudes, Rede de Ódio torna-se mais interessante. Trabalhando nas sombras e evitando deixar rastros, Tomasz vê na solidão uma amiga e inimiga; pois, ao mesmo tempo em que conquista a atenção e o carinho que necessita, ele se depara com um vácuo emocional que só foi capaz de existir graças às próprias ações - ou aquelas que induziu a outros. Um curioso paradoxo nesta trama que fala muito sobre mentir e se esquivar da culpa.

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