"Em carne viva" apresenta uma Meg Ryan fazendo um papel adulto , pelo menos no que diz respeito aos quesitos sensualidade e complexidade emocional. A princípio é apenas mais um filme de suspense , que trabalha com alguns fetiches bem conhecidos , a começar pelas profissões dos protagonistas. Ela é uma professora universitária e escritora ; uma intelectual; ele é um policial tatuado. O homem durão seduzirá a mulher cerebral e fria , pelo menos aparentemente , mas que se mostrará uma amante ardente entre quatro paredes. Enxergar intelectuais como amantes surpreendentes e policiais como devoradores de mulheres faz parte do imaginário de muitas pessoas. Porém, "Em carne viva" tudo não se resume a fetiche , sexo e muita violência; mergulhamos de fato no obscuro mundo das fantasias sensuais ; do amor erótico ; da capacidade que determinadas pessoas tem de despertar o que há de mais íntimo em nós . Mais que um filme sobre um psicopata que mata mulheres à procura do amor ; mais que um filme fetiche ; "Em carne viva" é um poema cinematográfico sobre o próprio desejo; sobre seus detonadores ; sobre sua profundidade e complexidade; sobre a misteriosa afinidade que algumas pessoas compartilham mesmo sendo praticamente desconhecidas. Tipos solitários e estranhos circulam nesta obra de clima profundamente melancólico e assustadoramente erótico. A iluminação escura de algumas cenas ; a postura blasé da protagonista ; a presença de locações ligadas ao "mundo noturno" nos remetem a uma sensação de pesadelo; de invasão de qualquer coisa onírica e terrível na monótona vida cotidiana. Violento, visceral e estranhamente romântico.