Agradável revisita
por Barbara DemerovOs filmes de Stanley Kubrick possuem temas tão diversos entre si que acabaram por formar uma das carreiras mais interessantes e plurais do cinema. Guerra, terror, ficção-científica, épicos e dramas foram alguns dos gêneros escolhidos pelo diretor norte-americano ao longo de seus 13 projetos; e, por mais opostos que sejam, eles tornaram-se similares por um aspecto em comum: o perfeccionismo apresentado em cada condução.
Kubrick by Kubrick, documentário de Gregory Monro, se propõe a relembrar a carreira do diretor conhecido por refazer dezenas de takes em busca da extrema perfeição. Para quem já é fã do cineasta, muito provavelmente não haverá nenhuma informação secreta a ser descoberta neste filme. Porém, o modo como Monro conduz a experiência é o que há de mais interessante aqui: como se fosse um museu na tela, o espectador "viaja" no tempo e no espaço dentro de uma sala branca, que flutua no espaço. Logo de início, referências de 2001 - Uma Odisseia no Espaço já são exibidas.
O documentário não entra tanto como uma simples homenagem a Kubrick, uma vez que os excertos de entrevistas entre ele e o crítico Michel Ciment trazem um panorama geral de sua carreira e sobre seu modo de exercer o trabalho de realizador. Perfeccionista confesso, a montagem ajuda a delinear ainda mais esta imagem através de trechos de entrevistas com atores e colegas de trabalho que vivenciaram e foram induzidos a trabalhar da mesma forma que a de Kubrick.
Ao longo de Kubrick by Kubrick, a sala branca que remete a 2001 vai ganhando os mesmos visuais de Barry Lyndon, O Iluminado, De Olhos Bem Fechados, Glória Feita de Sangue e outras produções de sua autoria. O documentário não perde seu ritmo graças à montagem, que é bem amarrada com relação a temas e vai percorrendo com calma cada fase do diretor. Com isso, apesar de dar a impressão de que estamos relembrando pontos de sua carreira ou cenas marcantes de seus filmes, a experiência ganha vida com as adições do crítico Ciment (que não só faz perguntas interessantes comot ambém pontua questões de seus filmes, trazendo um novo olhar).
Enquanto documentário, o filme se preocupa mais com a imagem de Kubrick enquanto diretor do que enquanto pessoa (algo que seria muito bem-vindo para ultrapassarmos o que já se sabe acerca de sua obra). Há passagens em que as conversas entre o cineasta e o crítico trazem informações relevantes sobre seu olhar caprichoso, mas fora isso não existe uma investigação profunda sobre seus métodos e escolhas. Kubrick permanece como um dos realizadores mais intrigantes da história do cinema, mas sua figura ainda parece intocável, etérea. Por trás dos comentários estéticos, pouco se sabe o que se passava em sua mente. Mas, diante da grandiosidade de seu legado, talvez seja melhor assim.