Na língua inglesa, a expressão “Swan Song” faz referência ao último ato de uma pessoa antes do seu falecimento. Sabendo deste significado, percebemos o quanto o título do filme dirigido e escrito por Benjamin Cleary, é apropriado. O seu protagonista, Cameron Turner (Mahershala Ali), foi diagnosticado com uma doença terminal e, no decorrer do longa, assistimos ele diante de um grande conflito: guardando segredo sobre a sua enfermidade, ele tem que tomar a decisão de ser substituído ou não por um clone seu.
Como podemos verificar, estar na pele de Cameron não é fácil. Ele é jovem, tem uma esposa (Naomie Harris) grávida de dois meses, um filho pequeno… Deixá-los desamparados é algo que atormenta Cameron. Porém, o angustia ainda mais a sensação de ter que abrir mão da sua vida, de morrer, para que uma outra pessoa (mesmo que este ser seja alguém idêntico a ele, com as suas lembranças, com os seus sentimentos) ocupe o seu lugar e sua família possa seguir em frente com a vida sem a dor da perda/da morte de alguém amado e querido.
“O Canto do Cisne” percorre esses conflitos de Cameron com muita competência, nos propondo o exercício de também nos colocarmos na pele da personagem. Em muitos momentos, eu me perguntei o que eu faria no lugar de Cameron, e senti a dor dele. O filme tem muitos momentos de sutileza, principalmente nos diálogos que ocorrem entre Cameron e a personagem interpretada por Awkwafina - alguém que também esteve diante da mesma decisão que o protagonista está prestes a tomar.
No final, para mim, “O Canto do Cisne” foi um filme sobre aceitar o seu destino, e ter a força e a coragem necessárias para encará-lo. A solidão vivenciada por Cameron no seu processo dói na gente. Por isso mesmo, vale a pena destacar a atuação de Mahershala Ali, interpretando dois personagens difíceis - cada um com suas particularidades e com suas motivações. A emoção que ele emana a cada cena é um sopro de vida comparado com toda a frieza que ele encontra ao seu redor.