Em 2013 o diretor Halder Gomes trouxe uma nova modalidade de comédia para o cinema brasileiro. “Cine Holliúdy” apresentava o humor cearense e trazia brasilidade, uma característica pouco vista em nossas produções. A novidade foi bem sucedida e também pelas mãos de Halder Gomes tivemos em 2016 “O Shaolin do Sertão” e em 2018 a continuação “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral”. Além do diretor e estilo de humor, todos esses filmes tinham outra peça em comum, o ator Edmilson Filho. Agora em 2021 Edmilson junto com o diretor Vitor Brandt apresentam o encontro do humor cearense com o estilo de filme “buddy cop”. “Cabras da Peste” é uma sátira aos longas policiais que faz referência a vários clássicos do gênero. Parece uma paródia de “Um Tira da Pesada”, trazendo até mesmo uma versão em forró da música de abertura da comédia com o Eddie Murphy. A canção “The Heat Is On” de Glenn Frey se torna “Calor do Cão” na voz de Gaby Amarantos, Junior Groovador e Gustavo Garbato.
Dois policiais com personalidades diferentes e conflitantes são forçados a trabalhar juntos. Uma trama comum mas que traz consigo toda a brasilidade que a cena de abertura do longa nos mostra. Ela cria piadas visuais e apresenta a pequena Guaramobim, cidade natal de Bruceuilis Nonato (Edmilson Filho) o “tira arretado”. Rapidamente também conhecemos Renato Trindade (Matheus Nachtergaele) o “policial de escritório”. A união dessa dupla improvável, um policial de uma cidade pacata e um policial da capital paulista, tem como estopim o sequestro de uma cabra por um caminhão de rapadura. Uma trama com enorme potencial cômico, que infelizmente, acaba um pouco desperdiçada. O filme não se leva a sério, faz graça com tudo e com todos. Atuações caricatas, muitas coincidências movem o roteiro e frases de efeito que são verdadeiros “trocadilhos de efeito”. O sequestro da cabra se comprova como uma peça de um grande e previsível quebra cabeça. A previsibilidade da narrativa não é necessariamente um problema. O foco é o deboche e a piada. A paródia e a sátira são a principal proposta do longa, e é justamente no excesso delas que encontramos um dos problemas do filme.
Bruceuílis adora os clássicos de ação policial e demonstra um enorme orgulho por seu trabalho e pela pequena cidade de Guaramobim. Edmilson Filho apresenta um policial durão, que é preocupado com seu parceiro e demonstra muito carinho pela Celestina, a cabra. Tem um bom humor físico e é o protagonista das cenas de luta. Trindade, o seu parceiro, é um policial burocrata e medroso que quer impressionar sua chefe Priscila (Letícia Lima). Basicamente essa é a composição que Matheus Nachtergaele apresenta para seu personagem. O elenco conta com talentosos humoristas vindos dos mais variados tipos de humor. Leandro Ramos, Victor Allen, Evelyn Castro, Falcão e Rossicléa são alguns dos nomes que encontramos no elenco. As brigas exageradas merecem destaque Bruceuílis não carrega arma de fogo, o que rende boas piadas como quando encara criminosos armados com uma toalha molhada. O núcleo policial da capitã Priscila é caricato, fazendo muitas piadas e dando alfinetadas no modo de operar da polícia brasileira. Falcão protagoniza o núcleo político e ironiza nosso modo de fazer política e nossos políticos atuais. Alfinetadas bem dadas, mas que não se propõe a uma discussão e/ou debate sobre o tema. Ao longo de todo o filme damos risadas de piadas engraçadas, e algumas nem tão engraçadas assim, que devido ao talento da boa equipe de comediantes são bem sucedidas. Porém, em alguns momentos, incomoda a insistência em um tipo de humor datado, ofensivo e besta. No final da obra piadas recorrentes nos cansam, a trama opta por escolhas fáceis e o exagero do besteirol deixam a experiência desagradável.
“Cabras da Peste” acerta em cheio quando sua trama está na pacata Guaramobim. Esse núcleo é engraçado, besta e apresenta um deboche refinado. É uma pena que a maior parte do longa se passa em São Paulo. Um filme que nos faz rir e que a habilidade e carisma de seu elenco nos segura até o final. Uma ótima premissa que deixa uma sensação de trama desperdiçada.