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    A Vida Solitária de Antonio Ligabue
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    A Vida Solitária de Antonio Ligabue

    Biografia à distância

    por Barbara Demerov

    Para que cinebiografias tenham êxito em entregar a mensagem de vida que determinado personagem conquistou, não é preciso apenas de uma figura interessante. O entorno do ponto de vista cinematográfico é essencial, e isso não envolve apenas a fotografia ou direção. Se o roteiro não é estritamente focado no personagem, mas sim nas circunstâncias que o moldaram, a execução pode não sair como o esperado. Hidden Away (Volevo Nascondermi no original) se enquadra neste perfil.

    Contudo, o primeiro ponto que deve ser destacado é o grande mérito que a obra carrega: a atuação de Elio Germano como o pintor Antonio Ligabue, que viveu sua vida praticamente isolado e sofrendo com o mundo externo. Ligabue tinha graves problemas mentais que nunca foram tratados com prudência. Vivendo de lugar a lugar, rejeitado pela família e pelo próprio país, ele encontrou seu refúgio na Itália e na arte, pintando quadros do estilo naif. Seu trabalho continha uma linguagem pessoal e espontânea, variando de acordo com seu estado de espírito.

    Mas o espectador mal tem a chance de ver suas obras serem feitas. Surpreendentemente, Hidden Away contenta-se em apresentar mais os problemas mentais de seu protagonista do que moldar uma história de superação e realizações. Quando Ligabue enfim conhece o sucesso, sua felicidade ainda parece estar às sombras da tristeza que o perseguiu desde a infância. Da aquisição de uma moto e um carro novo até a vontade de se casar, todas as suas conquistas e vontades soam apressadas e súbitas.

    Parte desta questão vem por parte do roteiro, sustentado mais por personagens secundários do que propriamente de Ligabue, e da direção, que reflete os mesmos problemas do texto pelo modo como apresenta seu personagem principal. A distância - tanto em ponto de vista quanto emocional - ironicamente é o aspecto mais aprofundado aqui, quando na verdade essa era a última das opções a serem selecionadas para a biografia de uma figura de muitas camadas. Ao mesmo tempo em que tudo é mostrado (os traumas, as dificuldades de socialização e os mecanismos de defesa quando recebia um ataque verbal ou físico...), nada disso é exposto para contar a história de Ligabue. São apenas artifícios para gerar comoção.

    Hidden Away perde a chance de desenvolver uma narrativa íntima e de realmente tentar compreender a mente do pintor italiano. É somente graças à ótima presença de Germano - que conta com contrastes comoventes entre a tranquilidade e violência, gritos e silêncio - que o ritmo do longa não se quebra por completo. Porém, a extensa duração muitas vezes se apoia em sua performance para prolongar certas passagens, o que acaba diminuindo aos poucos sua eficácia individual.

    Filme visto no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020.

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