Histórias que precisam ser contadas.
Ambientado no final dos anos 60 e início dos 70, “Uncle Frank” aborda temáticas que, atualmente, têm ganhado cada vez mais espaço e atenção, mas que, diante de um ambiente conservador de uma cidade do interior dos Estados Unidos, eram tratadas como tabu.
Durante os vinte e cinco primeiros minutos de filme, acompanhamos Beth (Sophia Lillis) e, por meio dela, somos introduzidos à sua família e, principalmente, ao tio Frank (Paul Bettany), um homem culto, educado e que visivelmente não se encaixa naquele estilo de vida do interior, visto que deixou a pequena cidade para trabalhar e viver na cidade grande. Devido ao fato de enxergar um pouco de si mesma no tio e gostar de ouvir suas histórias e conselhos, Beth o vê como uma inspiração, alguém a se seguir os passos para deixar aquele ambiente do qual ela também sabe que não se encaixa. Quando ela ingressa na universidade e se muda para New York, começamos a ser apresentados a uma realidade completamente diferente da que ela vivia e, especialmente, a um outro Frank.
Como Supracitado, “Uncle Frank” é um filme de temáticas, e a principal delas está relacionado com a sexualidade do personagem-título: Frank é um homem gay em uma sociedade conservadora e preconceituosa. A partir desse momento entendemos o porquê de Frank não se sentir parte de sua própria família, pois era rejeitado, reprimido e condenado por ser gay (é importante frisar que essas ações de rejeição eram praticadas somente pelo pai de Frank, o único que sabia de sua orientação sexual). Por medo, Frank viveu sua vida tendo que esconder quem era até se mudar para New York e conhecer Walid ‘Wally’ (Peter Macdissi), seu parceiro amoroso com quem divide um apartamento, e que também possui dores e cicatrizes por ser homossexual.
A partir desse momento, conhecendo um pouco da história de cada um (Beth, Frank e Wally), passamos a acompanhar o relacionamento deles ao longo do filme - e que relacionamento bonito. Sophia, Paul e Peter passam uma confiança e naturalidade espetacular através de seus personagens. O carisma, a conexão e o trabalho deles fazem o espectador se interessar pelos personagens a cada cena que passa. Tal relação é fortalecida ainda mais quando os três precisam voltar a Creekville para o velório do pai de Frank.
Com a morte do pai, velhas cicatrizes de Frank começam a se abrir e passamos a conhecer sua vida na juventude, sua conturbada relação com o pai, e os motivos dele ter se tornado o homem reservado que é. Nesse contexto, Paul Bettany é o ponto alto do longa, sua veracidade e entrega para interpretar Frank e trazer todas as suas angústias do passado à tona é arrebatadora. Vale ressaltar a boa montagem que intercala cenas de flashback da juventude de Frank com cenas do presente sem comprometer o andamento da obra.
“Uncle Frank” é um filme sobre amor, aceitação e relacionamento, mas também sobre rejeição, luto e dor. É um filme que nos ensina que, independente do que outras pessoas acham ou pensam de nós, devemos ser autênticos e fiéis a nós mesmos. Com um final previsível e bem feito, o longa-metragem entrega aquilo que o espectador quer desde o início do filme, um final feliz para aqueles personagens.