SERVIDÃO, dirigido por Renato Barbieri é um documentário denso e tenso de um triste Brasil. Ele denuncia os maus tratos, a desumanização, a arrogância e perversidade da elite brasileira. Latifundiários, empresas do ramo da construção civil, grandes marcas da moda, “empregadores” domésticos. A lista é enorme. Evidencia-se no documentário, que não se a trata somente da apropriação da força de trabalho de tantos homens, mulheres e crianças. Não é somente mais-valia. De fato, é algo mais perverso. Trata-se de reificação, ou seja, da usurpação de uma mão de obra, tornando o trabalhador um mero objeto, uma peça descartável no jogo da ambição que se denomina empreendimento, negócio, investimento.
Com depoimentos fortes, contundentes e emocionantes intelectuais, técnicos, trabalhadores submetidos a condições subumanas narram uma triste história. Eles lembram que o Brasil foi dos últimos países a abolir a escravidão e que 136 anos depois do seu acontecimento vive-se uma triste realidade de servidão, maus tratos e completo desconhecimento de direitos trabalhistas e direitos humanos em nosso país.
No dia seguinte a abolição, ou melhor, nos anos, décadas e a mais de um século depois, encontramos homens e mulheres, adultos e crianças enfrentando uma experiência de trabalho que os desumaniza. Para ganhar o pão, nada mais do que isto, somente sustentar-se para garantir mais um dia para vender – e vender muito mal – sua força de trabalho. E o mais triste – como fica evidenciado no documentário – é que as vítimas desta realidade tão terrível, muitas vezes, tantas vezes, justifica a necessidade de continuar nesta triste sina. Precisam ganhar a vida, sustentarem a si mesmos e a sua família.
Não é fácil ou tranquilo assistir ao documentário “Servidão”. Não é um filme que nos entretém ou diverte. Ele incomoda como uma triste verdade o faz, nos provoca indignação, asco, raiva, mas também nos faz refletir e desejar uma outra e melhor realidade para os homens e mulheres deste nosso triste trópico.