"Duna: Parte Dois não é apenas um filme, mas sim uma experiência cinematográfica incrível.”
Duna é uma trilogia de livros escritos por Frank Herbert. Eles são difíceis e complicados, com um mundo e narrativa complexos. Houve uma adaptação para as telonas em 1984, dirigida por David Lynch, mas os resultados não foram muito satisfatórios, por vários motivos. Algumas décadas depois, Villeneuve decide se arriscar comandando uma nova adaptação. Um dos grandes acertos dessa nova versão é dividir a primeira obra em dois filmes, evitando assim que os eventos da história se tornem corridos.
Qual a História de Duna: Parte Dois?
Paul Atreides (Timothée Chalamet) se une a Chani (Zendaya) e aos Fremen enquanto busca vingança contra os conspiradores que destruíram sua família. Uma jornada espiritual, mística e marcial se inicia. Para se tornar Muad’Dib, enquanto tenta prevenir o futuro horrível, mas inevitável que ele testemunhou, Paul Atreides vê uma Guerra Santa em seu nome, espalhando-se por todo o universo conhecido. Enfrentando uma escolha entre o amor de sua vida e o destino do universo, Paul deve evitar um futuro terrível que só ele pode prever. Se tudo sair como planejado, ele poderá guiar a humanidade para um futuro promissor.
O segundo filme começa exatamente no mesmo ponto onde o primeiro terminou, com Paul e sua mãe Jessica( interpretada por Rebecca Ferguson)se juntando aos Fremen. A partir daí, somos apresentados à cultura deles, suas tradições, e como eles se comunicam com o deserto, assim como sua fé na profecia do Escolhido. Uma parte dos Fremen não acredita nela, enquanto os outros a seguem cegamente, mostrando como a fé pode ser uma força poderosa. Paul e sua mãe aproveitam isso para convencer os Fremen a se unirem a eles na tentativa de tomar Arrakis dos Harkonnen.
Neste Longa, Chani e Stilgar (interpretado por Javier Bardem) têm mais tempo de tela. A relação entre Paul e Chani é cuidadosamente desenvolvida, revelando que Chani está com Paul por amor genuíno, não apenas por acreditar na profecia. Stilgar age como um mentor para o protagonista, ensinando-lhe sobre o deserto e preparando-o para seu destino. A trama nos imerge completamente em Arrakis, permitindo-nos conhecer o deserto e suas criaturas.
Além de explorar mais o deserto, novos personagens são introduzidos, como o Imperador (interpretado por Christopher Walken), sua filha Princesa Irulan (interpretada por Florence Pugh) e Feyd-Rautha (interpretado por Austin Butler). Entre as novas caras, os mais interessantes são Princesa Irulan e Feyd-Rautha. A filha do Imperador é apresentada de maneira simples, porém eficaz, demonstrando sua posição como herdeira do trono, além de sua inteligência e sabedoria ao aconselhar seu pai. Feyd-Rautha é mostrado como um psicopata completo, desfrutando de matar e causar dor sem limites.
O arco narrativo de Paul é habilmente desenvolvido. Começando com sua negação de ser o Muad’Dib e, eventualmente, aceitando seu destino, e passando por uma transformação completa. Jessica, também tem um arco narrativo interessante, especialmente após beber a água da vida, o que a transforma completamente.
Embora o roteiro tenha algumas mudanças em relação ao livro, ele permanece bem fiel à obra original.
A maquiagem está excepcional, especialmente nos atores Stellan Skarsgård e Austin Butler, que apresentam uma aparência totalmente diferente, assustadora e intimidadora.
Os figurinos são muito bons, destacando-se o da Princesa Irulan, que veste trajes distintos dos demais personagens. Suas roupas transmitem um ar de realeza, reforçando sua posição como princesa. Os Fremen vestem trajes adequados ao deserto, enquanto Jessica adota uma vestimenta que reflete sabedoria, condizente com sua posição de Reverenda Madre.
Os cenários do filme são simplesmente extraordinários. A cenografia cria um ambiente incrível, tão convincente que nos faz acreditar na autenticidade do que é apresentado na tela, transportando o espectador diretamente para Arrakis de forma brilhante e permitindo uma imersão total.
A fotografia do filme é sensacional. A iluminação das cenas é muito bem executada. Nos momentos ao ar livre, temos uma luz dura e forte que enfatiza o calor do ambiente. Em contraste, nas cenas noturnas, a iluminação é sutil, iluminando apenas o suficiente para que possamos acompanhar o que acontece na tela ressaltando a escuridão profunda da noite no deserto. Nos espaços fechados, como o Sietch dos Fremen, a iluminação suave contribui para mostrar que, apesar de ser um refúgio escondido no deserto, é um local que da para viver.
Em todos os momentos, a iluminação é utilizada com precisão. Durante a cena da luta entre Paul e Feyd-Rautha, a iluminação é magnífica, com uma luz dura e alaranjada do sol, conferindo um aspecto poético e épico que amplia o impacto da cena. A utilização de tal iluminação em uma luta final não é novidade, mas é excepcionalmente bem executada nesta obra.
Quando o filme nos leva a Giedi Prime, o planeta dos Harkonnen, a escolha do preto e branco para a arena de luta é muito bem utilizada e nos informa sobre a visão de mundo e a brutalidade dessa cultura.
Os enquadramentos são simplesmente magníficos e muito bem escolhidos, com cada um parecendo uma obra de arte. Planos gerais são frequentemente utilizados para mostrar o mundo dos personagens e como eles se encaixam nele.
Os grandes planos gerais enfatizam a magnitude e a vastidão do mundo, além de mostrar como os seres humanos são pequenos diante dele. Um exemplo notável é a cena em que Paul monta um verme de areia: nos grandes planos gerais, vemos Paul diminuto em comparação à duna e ao monte de areia movendo-se, evidenciando o tamanho gigantesco do verme. Há também um enquadramento de Paul montando o verme, onde ele se mostra bem pequeno em relação à criatura.
Planos detalhes são empregados para destacar elementos importantes para a narrativa, enquanto planos fechados são utilizados, mostrando as expressões faciais e reações dos personagens aos eventos da história.
A edição do filme é ótima. A montagem é meticulosamente organizada, garantindo uma apresentação visual coesa, especialmente quando o protagonista conta sobre o futuro onde temos cortes das descrições de Paul diretamente para imagens que ilustram essas previsões. O primeiro filme enfrentou críticas por seu ritmo lento e arrastado, mas esse andamento mais cadenciado era necessário para estabelecer o contexto do mundo e explicar como a trama evolui até o ponto atual. Esta continuação encontra o ritmo ideal, alcançado por meio de cortes precisos e eficazes.
A trilha sonora é composta por Hans Zimmer, conhecido por suas marcantes composições e responsável também pela música do filme anterior. Sua Trilha ajuda consideravelmente na criação de uma paisagem sonora excepcional, contribuindo significativamente para a narrativa e a imersão do espectador ao integrar perfeitamente imagem e som. A música é utilizada nos momentos certos, sendo épica e evocando uma sensação de misticismo.
As atuações são sólidas, com destaque para Timothée Chalamet, Rebecca Ferguson, Zendaya e Austin Butler.
Timothée Chalamet entrega uma performance incrível, talvez a melhor de sua carreira, ao interpretar um personagem que passa por uma grande transformação. Sua atuação evidencia com mestria essa mudança que Paul sofre ao longo da trama.
Rebecca Ferguson também se destaca com uma atuação impressionante, também enfrentando o desafio de interpretar um personagem que passa por uma transformação significativa, e ela consegue transmitir essa mudança de maneira muito eficaz.
Zendaya apresenta uma atuação sólida. Apesar de ter tido apenas alguns minutos de tela no primeiro filme, neste ela ganha mais destaque. Através de sua performance, ela revela as nuances da personagem Chani, mostrando um certo espírito rebelde em relação à fé na profecia e mostra de forma convincente o amor genuíno que sua personagem sente por Paul.
Austin Butler, conhecido por sua atuação na cinebiografia do Elvis, mostra seu talento mais uma vez. Ele consegui se desvincular completamente do Rei do Rock, no qual esteve imerso e preparando-se por três anos. Sua transformação é notável ao entrar totalmente na pele de Feyd-Rautha, ficando irreconhecível e transmitindo de forma eficaz o lado psicopata de seu personagem. Quando está em cena, Butler gera um sentimento de medo e intimidação, criando um personagem totalmente imprevisível que mantém o espectador em suspense, sem saber o que esperar.
O filme é dirigido por Denis Villeneuve, que está no comando da adaptação desde o primeiro Longa- Metragem. Isso é ótimo, pois temos somente um diretor impondo sua visão desde o início, ao invés de vários para cada filme, como muitas franquias fazem. Com um único diretor, ele consegue estabelecer uma visão e ideias coesas, deixando os longas homogêneos com um estilo próprio. Villeneuve é um cineasta talentoso que nos últimos anos tem se destacado na criação de grandes ficções científicas, demonstrando uma grande habilidade nesse gênero e criando obras intrigantes com uma excelente estética visual.
Novamente, em ‘Duna: Parte 2’, ele alcança esse feito. A direção de Villeneuve é magnífica, criando um filme visualmente incrível e deslumbrante tanto em termos de som quanto de imagem. Ele presta atenção meticulosa a todos os detalhes possíveis, calculando cada plano com precisão. ‘Duna: Parte 2’ se destaca como um dos melhores trabalhos de Villeneuve até o momento, demonstrando seu talento excepcional a cada novo projeto e deixando o público encantado com o que acabou de assistir.
Após sair da sessão de ‘Duna’, fiquei com uma vontade imensa de reler o livro e reassistir ao próprio primeiro filme. Eu simplesmente não queria sair desse magnífico mundo, desejava continuar a jornada com esses personagens. Essa é a sensação que se tem ao terminar de assistir ‘Duna: Parte 2’: a ânsia por mais. Isso não se deve apenas ao fato de o longa ter um final aberto que sugere uma continuação, mas também à experiência magnífica que é assistir a essa obra.