Os 30 primeiros minutos de “Pieces of a Woman”, filme dirigido por Kornel Mundruczó, são bem pungentes. Nele, acompanharemos o parto da primeira filha do casal formado por Sean (Shia LaBeouf) e Martha (Vanessa Kirby). A decisão deles foi por um parto domiciliar, para o qual eles estão bem preparados. O que eles não esperavam era que, devido às complicações, a bebê acaba falecendo minutos após nascer.
Desta forma, o roteiro escrito por Kata Wéber acompanha os seis meses que se seguem após a morte da bebê. A dor e a vivência do luto nos são passadas ao extremo e em detalhes de composição de personagem, como o uso do absorvente pós parto e do gelo no seio de Martha (afinal, seu corpo entende que ela vivenciou o parto e que deu à luz uma nova vida), na falta de cuidado com ela mesma (preste atenção nas unhas descascadas e na geladeira vazia da casa) e na maneira como o seu relacionamento com Sean vai degringolando e em como os seus relacionamentos familiares são desenhados.
Aqui, gostaria de fazer um adendo, ressaltando algo que é quase uma constante em filmes que abordam esta temática do luto: a forma como estas obras nos mostram a dor da perda como um elemento de cisão, e não como algo aglutinador. Ao invés de construirmos pontes, quebramo-las, nos isolando uns dos outros e julgando uns aos outros.
Apesar disso, ao mesmo tempo, a beleza de “Pieces of a Woman” está no fato de que ele nos retrata que a dor permanece de diversas formas na nossa vida, mas que, de alguma forma, a nossa existência, mais cedo ou mais tarde, continuará e as sementes germinarão novamente. Até que Martha chegue a essa conclusão, será uma jornada dolorosa - potencializada pelas excelentes atuações de Vanessa Kirby (vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival Internacional de Cinema de de Veneza 2020 e possível indicada ao Oscar 2021 da categoria), de Molly Parker (numa performance que fala mais pelo não expresso em palavras, e sim em sentimentos) e Ellen Burstyn.