A Morte do Demônio: A Ascensão (Evil Dead: Rise)
"Evil Dead Rise" é escrito e dirigido por Lee Cronin, e foi produzido por Bruce Campbell, Robert Tapert e Sam Raimi (os produtores da trilogia original). É o quinto filme da série de filmes "Evil Dead". O longa-metragem é estrelado por Lily Sullivan e Alyssa Sutherland como duas irmãs distantes tentando sobreviver e salvar sua família das possessões demoníacas (os lendários deadites).
"Evil Dead" é sem dúvida uma das minhas franquias de terror preferida, juntamente com o grande cineasta Sam Raimi (o mestre do horror). "The Evil Dead" (1981) é um clássico, um ícone, uma referência, uma obra-prima da história cinematográfica de terror (um dos maiores de todos os tempos). Em "Evil Dead Rise" temos vários pontos muito interessantes: como o fato de todo o desenvolvimento do filme ter sido construído pensando em uma sequência do remake de "Evil Dead" (2013) e "Army of Darkness" (1992), e até como uma provável continuação da série "Ash vs Evil Dead" (2015 / 2018). Porém, todos esses planos foram descartados e Raimi decidiu seguir com a produção do projeto como um filme solo, entregando a direção e o roteiro para o diretor Lee Cronin ("Minutos Depois da Meia Noite", de 2016), que por sinal é fã assumido e declarado da franquia "Evil Dead".
Quando começaram a surgir os rumores sobre o lançamento de um novo filme da franquia "Evil Dead", a primeira coisa que me veio na mente foi sobre o roteiro, ou seja, que história iriam contar dessa vez e como encaixariam o "Necronomicon" (O Livro dos Mortos) nela. Outro ponto que me deixou bastante curioso foi sobre a declaração de Bruce Campbell (o eterno Ash), quando ele afirmou em uma entrevista sobre o novo filme que não teríamos mais cabanas na floresta. Essa questão da cabana é muito intrigante e me deixou extremamente curioso, pois a icônica cabana sempre foi peça-chave do universo "Evil Dead", praticamente um personagem muito importante da história assim como o próprio Ash. Então, como seria o novo filme "Evil Dead Rise" com uma história se passando dentro de um apartamento em uma cidade ao invés da famigerada cabana na floresta?
Devo começar elogiando o roteiro escrito por Lee Cronin (com a supervisão de Sam Raimi), pois aqui temos dois pontos bastante peculiar trazidos para o universo "Evil Dead", que é a mudança de cenário e a introdução de uma questão familiar, que soa como uma reflexão sobre a maternidade e a figura central de uma mãe (algo inédito na franquia). Fato é que toda essa abordagem sobre esse conceito materno no filme é feito de forma bem leve, em outras palavras, é até vago e mal desenvolvido. Mas eu entendo e compreendo todo esse desenvolvimento vazio nessa questão, pois de fato essa não era a principal proposta do filme. Essa análise foi trazida apenas para contextualizar toda essa reflexão metafórica que se cria em torno da família e principalmente da figura materna na história. Ou seja, a história de "Evil Dead Rise" gira em torno das duas irmãs: Beth (Lily Sullivan), que acaba de descobrir uma gravidez indesejada, e Ellie (Alyssa Sutherland), que foi abandonada pelo marido e agora mora sozinha com seus três filhos (duas mães em situações diferentes).
Aqui já temos aquela reflexão citada sobre a maternidade; pelo lado da Beth, que ainda não se tornou uma mãe e agora vive assustada com essa realidade repentina em sua vida, e pelo lado da Ellie, que sofre com a carga emocional e o peso de ser uma mãe sozinha, abandonada e ter a difícil missão de criação e proteção de seus filhos dependentes. Outro ponto que deixa a trama ainda mais interessante é a situação atual em que se encontra as duas irmãs. Pois está muito claro a rusga que existe entre elas, aquele passado mal resolvido, aquela carga de ressentimento que ambas carregam, aquelas mágoas antigas e toda aquela tensão que esse reencontro inesperado proporciona para as duas.
Esse contexto familiar em filmes de terror até que funciona para contextualizar a história (por mais leve que seja), pra fazer aquela ligação com o massacre que logo se iniciará. Recentemente eu assisti dois filmes que trazia esse contexto - "M3GAN" e o próprio "Evil Dead" versão 2013.
O maior acerto de "Evil Dead Rise" é justamente apostar no óbvio da temática de sucesso da franquia "Evil Dead". Ou seja, manter aquela fórmula de sucesso e não querer se reinventar, não querer ser mais do que realmente deve ser. O que eu quero dizer é o fato de "Evil Dead Rise" ser o que todos já esperavam, reaproveitar a sua própria originalidade da franquia e do seu já consagrado e eternizado universo. Lee Cronin traz uma nova releitura do universo e sabe muito bem reaproveitar todos os elementos lendários da franquia; como a presença do apartamento mal-assombrado (no lugar da cabana), o icônico "Necronomicon", a lendária espingarda, a famigerada motosserra, aquela leitura das palavras que libertam os demônios, os próprios demônios se aproximando do local em alta velocidade (uma marca registrada da franquia), aquela referência da clássica cena do estupro das árvores, dessa vez sendo feita pelos cabos do elevador. Sem falar que o longa ainda presta uma espécie de homenagem à vários clássicos do terror; como a cena do elevador com sangue, que foi uma clara referência ao icônico Hotel Overlook, de "O Iluminado" (1980).
Assim como o excelente remake de 2013, "Evil Dead Rise" respeita toda a essência da franquia e, principalmente, respeita a obra original. A cena de abertura do filme já é bem condizente com toda a proposta desse universo. A principal marca da franquia está muito bem presente, que é o gore, a violência explícita, a sanguinolência extrema, as mutilações e esquartejamentos. Ou seja, um verdadeiro deleite para os amantes e consumidores dos slasher movies, do trash e do gore. Sem falar nas famosas cenas que nos causa aflição, como mastigar uma taça de vidro, perfurar o rosto com uma agulha, passar um ralador na perna. Além dos famosos vômitos intermináveis, aquelas cenas bem nojentas, aquele banho de sangue (a famosa chuva de sangue), que se tratando de "Evil Dead", é uma obrigação. O sangue em "Evil Dead" é outro personagem extremamente importante no contexto histórico, e aqui não foi diferente, já que de acordo com o diretor Lee Cronin, foram usados 6.500 litros de sangue falso no filme.
Sobre o elenco:
Este é o segundo filme da franquia que não conta com Bruce Campbell como um dos personagens principais. Porém, Campbell é apresentado em uma participação especial não creditada apenas com voz, ouvida em uma gravação em um dos discos fonográficos de 1923; Campbell dá voz a um personagem não identificado que avisa os padres sobre os perigos do ritual de ressurreição do demônio. Bastante interessante por sinal!
Lily Sullivan ("Na Selva", de 2017) traz a personagem Beth de forma bastante contundente na história. Inicialmente Beth está sofrendo em silêncio pelo choque da descoberta da sua gravidez, onde o seu terror já começa ali. Logo após ela toma aquela postura de mãe/tia protetora com seus sobrinhos, e depois ela praticamente incorpora uma versão de Ash feminina. Gostei dessa postura mais bad ass da Beth, aquele girl power, onde ela revive uma versão do Ash empunhando a clássica espingarda e a famigerada motosserra. Sem falar naquela cena clássica em que ela esquarteja aquele demônio acoplado com a motosserra com o famoso banho de sangue. O que seria da franquia "Evil Dead" sem uma cena dessa com a motosserra?
Alyssa Sutherland ("Vikings") também anda nessa mesma linha com sua personagem Ellie. Inicialmente também constatamos todos os seus traumas de mãe abandonada, com seu sofrimento, seu fardo, seu estado emocional comprometido e frágil, o que logo a torna vulnerável para a possessão demoníaca. Devo trazer todos os elogios para a Alyssa Sutherland quando ela incorpora sua versão de "mãe demoníaca". Ali ela dá um verdadeiro show de atuação, embaixo daquela maquiagem pesada, carregada, que compunha a sua figura de mãe assustadora, com expressões, gestuais e um olhar completamente tenebroso. Não é muito comum em filmes de terror a gente se deparar com atuações em alto nível, como a que Alyssa Sutherland entrega aqui.
Morgan Davies, Gabrielle Echols e Nell Fisher fazem suas estreias no cinema. Respectivamente eles são os três filhos de Ellie: Danny, Bridget e Cassie. Os três tiveram atuações mais modestas, porém a Nell Fisher conseguiu maior destaque com sua pequenina Cassie, que luta lado a lado de sua tia Beth no embate final contra aquele demônio bizarro.
Um ponto muito interessante na história é aquela cena logo após a Beth esquartejar o demônio com a motosserra, em que ela volta pra pegar de volta justamente a motosserra. Esta cena me soou como um gancho para uma possível continuação. Inclusive aquela cena, logo após esta citada, em que aparece aquela jovem conversando no celular com uma amiga sobre um final de semana em um lago, onde o local possui um chalé (ou cabana), e logo após ela também é possuída por um demônio, também me soou como uma provável continuação. Na verdade esta cena me despertou a curiosidade de encaixar este "Evil Dead Rise" como um prequel de toda a franquia, ou seja, partindo agora para uma cabana onde se passa o primeiro filme da saga. Realmente eu não sei qual foi a real intenção dessa cena, mas que deixou uma pulga atrás da orelha, isso deixou.
Se baseando nessas duas cenas específicas que eu destaquei como prováveis continuações do universo "Evil Dead": recentemente, em abril desse ano, Bruce Campbell afirmou que ele, Sam e Ivan Raimi estavam planejando uma possibilidade para futuros filmes da franquia 'a cada dois ou três anos' se "Evil Dead Rise" fosse um sucesso. O diretor Lee Cronin também discutiu suas ideias para futuras sequências da série que se passa após "Evil Dead Rise". Bem, ao que tudo indica, após 10 anos do último filme e 5 anos da série, a franquia "Evil Dead" estará mais viva do que nunca com novos filmes para compor ainda mais este incrível universo de terror.
Já no quesito técnico, "Evil Dead Rise" também se destaca. Temos excelentes efeitos, assim como as maquiagens, que também está impecável. A trilha sonora acompanha muito bem cada cena, somando ainda mais o pânico e nossa apreensão. A cinematografia é ótima, com uma fotografia que se destaca em todas as cenas. A própria direção de Lee Cronin é excelente, ele realmente soube usar a mudança de cenário de uma cabana para um apartamento ao seu favor. Ele conseguiu transformar o lar doce lar em um ambiente macabro e tenebroso, praticamente um campo de batalhas demoníacas.
"Evil Dead Rise" foi originalmente programado para estrear com exclusividade no serviço de streaming da HBO Max, mas as exibições teste foram tão bem e tão positivas que a distribuidora Warner Bros. Pictures optou por lançar o filme primeiro nos cinemas.
"Evil Dead Rise" arrecadou mais de $ 132 milhões em todo o mundo contra um orçamento de produção de $ 15-19 milhões, tornando-se o filme de maior bilheteria da série.
No site agregador de críticas Rotten Tomatoes, 83% das 199 críticas dos críticos são positivas, com uma classificação média de 7,2/10. O consenso do site diz: "Oferecendo quase tudo que os fãs de longa data poderiam esperar enquanto ainda conseguem levar a franquia adiante". Já no Metacritic, que usa uma média ponderada, atribuiu ao filme uma pontuação de 69 de 100, com base em 38 críticos, indicando "críticas geralmente favoráveis". O público pesquisado pelo CinemaScore deu ao filme uma nota média de "B" em uma escala de A + a F, enquanto os entrevistados pelo PostTrak deram uma pontuação positiva de 71%, com 57% dizendo que definitivamente o filme é muito bom e que o recomendariam.
Na minha opinião: "Evil Dead Rise" é tão bom quanto o remake de 2013, ambos estão em pé de igualdade dentro da franquia "Evil Dead". Porém, eu ainda prefiro o remake, pelo fato de ser mais violento, mais visceral, mais apoteótico, ter cenas mais impactantes, mais sanguinolentas e consequentemente abusar mais do gore e do trash. [18/05/2023]