E O Vento Levou (Gone with the Wind) – 1939
Um épico charmoso e transgressor!
“Existia uma terra de cavalheiros e campos de algodão chamada "O Velho Sul". Neste mundo bonito, galanteria era a última palavra. Foi o último lugar que se viu cavalheiros e damas refinadas, senhores e escravos. Procure-a apenas em livros, pois hoje não é mais que um sonho. Uma civilização que o vento levou!”
A citação acima faz parte do início de um filme que mudou o status de se fazer sétima arte, a própria epígrafe já denota a poesia que existe neste longa! Eu acho que você já deve ter ouvido falar dele, ou ouviu seus pais comentarem sobre ele, a película é pop, até mesmo para aqueles que não o conhecem. Mas adianto o aviso: vale a pena conferir! E o Vento Levou, é um filme americano de 1939, um romance dramático, dirigido por Victor Fleming e com roteiro de Sidney Howard, adaptado do livro homônimo (best-seller) de Margaret Mitchell publicado em 1936. É estrelado por Vivien Leigh (Scarlett O'Hara), Clark Gable (Rhett Butler), Olivia de Havilland (Melanie Hamilton Wilkes), Leslie Howard (Ashley Wilkes) e muitos outros atores brilhantes, mas aqui destaquei os protagonistas e antagonistas do enredo.
Iniciar uma crítica de um filme nunca é fácil, porque tens que transparecer a coesão de sua análise para quem ler, e se torna ainda mais difícil quando se trata de um filme de grandes proporções. E este é um deles, é gigantesco de todas as formas: o livro adaptado tem exatamente 801 páginas; 241 minutos é a duração do filme, sim meus leitores, quase quatro horas de exibição e faz 72 anos de lançamento. Sem citar os prêmios, estes deixemos por hora. Mesmo após sete décadas a importância deste é absolutamente inegável por se tratar de uma obra pretenciosa e complexa por basear sua história no âmago humano; as paixões, conflitos e ambições. A trindade santa do viver do sapiens sapiens!
O filme narra a história da bipolar Scarley O’Hara (Vivien Leigh), filha de um imigrante irlandês, Gerald O’Hara (Thomas Mitchell), que se tornou rico graças ao amor e dedicação por sua Tara, terra natal dos personagens. Scarlet, vive na fazenda dos pais, é rica, mimada, faz o que bem entende, e usa sua beleza para seduzir inocentemente todos os homens. Durante a morada pacífica em Tara, ela conhece Rhett Butler (Clark Gable), um homem de reputação duvidosa, mulherengo, mas bastante rico; este por sua vez apaixona-se perdidamente por Scarlet que não retribui este sentimento porquê é apaixonada por Ashley Wilkes (Leslie Howard) que está noivo da bondosa Melanie Hamilton (Olivia de Havilland). Quanto confusão por amor!
Passa-se o tempo, Ashley casa-se com Melanie, os dois tem uma vida tranquila e estável. Scarlet ao saber do enlace dos dois decide fazer ciúmes a Ashley casando-se com o irmão de Melanie. Mas eis que chega a Guerra Civil Americana, é aqui que a vida de Scarlet e dos demais muda radicalmente, o marido da mesma é chamado ao combate e morre em batalha, Ashley está na guerra, enquanto isso Rhett investe amorosamente para conquistar a amada. Scarlet, que vocês devem ter notado ser totalmente desprezível para conseguir o que quer, casa-se novamente com um cavalheiro rico, para ajudar na difícil situação financeira da família causada pela guerra. Eis que novamente ela se torna viúva, a família perde sua riqueza, e deseja retornar para Tara, sua terra amada. E a única forma de colocar sua vida no devido lugar é aceitando casamento com Rhett.
Durante o enredo acontece vários obstáculos na vida de Scarlet, que são propícios para o crescimento da personagem durante o longa. Da menina mimada e rica à batalhadora e sobrevivente para ajudar aqueles que ela ama. A primeira impressão de O’Hara é de desprezo, ela é exorbitantemente mesquinha até quando sua vida dá um revés no qual ela se vê refém da própria limitação. O desejo de resgatar sua família, voltar para terra onde ama, a famosa Tara, fazem com ela se torne uma manipuladora genial, uma empreendedora de sucesso.
Como o filme é bastante longo, dos quais você nem sente por ser uma história bastante envolvente, não dá para contar tudo, além do mais se eu escrever tudo, não terá graça assisti-lo e descobrir o final surpreendente, e o jeito descompassado de Scarlet e Rhett. A grande beleza deste filme é mostrar como uma mulher tomou um caminho para torna-se realmente admirável, digna de aclamação. Não é só a história de amor que envolve durante o enredo, é toda aquela projeção dos sentimentos confusos trazidos dos personagens para quem assiste. Realmente o roteiro é sem palavras, diálogos cômicos, rápidos e inteligentes. Romance e drama mesclados sutilmente proporcionando uma delicadeza e efemeridade ao escutar o que eles dizem, aumente o volume!
Victor Fleming é um dos diretores clássicos que em tudo que tocava transformava-se em ouro, diga-se de passagem o Mágico de Oz. A escolha dele foi perfeita em todos os aspecto quando se tratou deste clássico. A fotografia do filme e cenários apesar do tempo remoto sem tecnologias avançadas para tal, desbancou qualquer outro na categoria, foi um choque na época, foi grandioso mesclar aqueles cenários todos. E o Vento Levou, expandiu as fronteiras da técnica cinematográfica com maior intensidade, ensinou aos outros como se produz um filme avassalador.
O figurino, foi cuidadosamente elaborado, a beleza das roupas, mesmo a mais pobre e não notáveis está em ordem com a temporalidade do filme. O aparato técnico do filme foi ambicioso, se fosse para comparar atualmente, diria que o E o Vento Levou é o Titanic/Avatar do seu tempo, ambos do grandioso James Cameron. O elenco por sua vez é estrelado, mas celebridade por si só, não alavanca um filme sem devido talento, não apenas com rostos bonitos. A trilha sonora inesquecível é assinada por Max Steiner.
Vivien Leigh, foi uma daquelas atrizes fora de série, tinha um grande talento, principalmente para personagens tão complexos como Scarlet O’Hara, foi considerada com uma das mais belas e talentosas atrizes do século XX, é uma das 50 maiores lendas do cinema. Vencedora do Oscar de melhor atriz pela intepretação neste longa. Justiça seja feita diante disso, altamente merecido este reconhecimento! Vivien era portadora de distúrbio bipolar, dizem que isto ajudou bastante na construção de seu personagem. Uma curiosidade interessante é que ela e Clark Gable não se entendiam, não se aturavam de maneira alguma, isso notamos na interpretação. Vivien participou de muitos filmes, como protagonista ou apenas convidada, mas sua simples presença já deixava uma aura de glamour na produção.
Clark Gable foi um daqueles atores campeões de bilheteria, seja por seu talento magnânimo, seja pelo seu famoso charme sedutor, era sabido que as salas de cinema ficavam lotadas de mulheres! É considerado a sétima maior estrela, masculina, da história do cinema. A contribuição que Gable deu a Hollywood na sua chamada era de ouro foi de grande importância. Um ator que amava sua profissão, era a única coisa que sabia fazer, segundo ele. Infelizmente Gable não ganhou um Oscar por este filme, mas foi vencedor de vários prêmios por inúmero trabalhos.
Ressaltar a análise destes dois atores é de suma importância para que se conheça E o Vento Levou de maneira mais profunda. São eles que fazem a película ter uma transitoriedade, ou seja, dá uma dinâmica, não estou desmerecendo o trabalho dos outros atores participantes, cada um teve seu papel!!! E o Vento Levou é uma daquelas obras-primas que não se deixa envelhecer e cair na mesmice, simplesmente rompendo a barreira da tempo. Tal produção foi indicada 13 vezes ao Oscar, onde conseguiu vencer oito, ainda há dois prêmios especiais, é um dos filmes com mais indicações ficando atrás de A Malvada (1950, este com 15 indicações) e Titanic (1997, 14 indicações).
Creio que o sentimento pós-filme de E o Vento Levou é no mínimo de primor, tem de se admitir que para uma época escassa de tecnologia, a exaustão que se teve para maximizar a produção é justamente parabenizada. Ao quebrar diversas barreiras ao compor diversos aspectos, tais como a visão de cada personagem tem da vida ou de si, sem falar na visão histórica da guerra, a ambientação artística que lhe é propiciada, sem parecer fantasioso, mas sim poético. Um filme que tem a capacidade de deixar o espectador curioso durante quase quatro horas não é para poucos, da primeira cena a última você vai formando diversas perguntas!
Creio que você já deve estar se perguntando: então tudo é nota dez no filme? E as cenas marcantes? Em minha opinião ele é ótimo, sublime e perfeito, o único empecilho é a duração, mas não é um problema vital! As cenas marcantes são muitas, você vai encontrar, mas para encerrar vou narrar uma que se tornou um marco na cultura pop. - Scarlet devastada pela guerra, pela dor da perda dos entes queridos, segue em direção ao horizonte da amada terra vermelha de Tara, e absorvendo foça daquela sua terra, tal força vindo do âmago daquele chão devastado. Ela profere seu próprio destino: “Com Deus por testemunha, não vão me derrotar. Vou sobreviver a isso. E, quando passar, nunca mais sentirei fome! Nem eu, nem minha família. Mesmo que eu minta, roube, trapaceie ou mate, com Deus por testemunha, nunca mais passarei fome!”
Bjoooos, byeeee! Até...
Janiê Maia Cunha