Planeta dos Macacos: O Reinado continua legado de César com uma aventura épica de amadurecimento
por Bruno Botelho dos SantosLançado em 1968, O Planeta dos Macacos é um dos maiores clássicos da ficção científica. O filme marcou a história do cinema e entrou no imaginário popular como poucas obras conseguiram – afinal, como esquecer aquele final surpreendente do original? A adaptação da obra de Pierre Boulle fez tanto sucesso que deu início a uma franquia cinematográfica, recebendo várias sequências, um remake controverso de Tim Burton e uma trilogia prelúdio aclamada pela crítica e pelo público.
A trilogia Planeta dos Macacos: A Origem (2011), O Confronto (2014) e A Guerra (2017) foi responsável por reviver a franquia de ficção científica no cinema e fez bastante sucesso, apresentando ao público esse universo com a trajetória de César. Agora esta saga está de volta com Planeta dos Macacos: O Reinado (2024), que continua a história séculos depois, com uma nova trama e novos personagens neste universo.
O Reinado é ambientado em várias gerações futuras após o reinado de César, quando os macacos são a espécie dominante que vive em harmonia, enquanto os humanos são reduzidos a viver nas sombras. Enquanto um novo líder tirânico dos macacos (Proximus César) constrói seu império, um jovem macaco (Noa) empreende uma jornada angustiante que o fará questionar tudo o que sabe sobre o passado e tomar decisões que definirão o futuro tanto dos macacos quanto dos humanos.
Depois da revolução comandada por César em Planeta dos Macacos: A Guerra, ele se torna praticamente uma figura messiânica 300 anos depois da conclusão da última trilogia e seu legado ainda permanece vivo em Planeta dos Macacos: O Reinado – mas, enquanto seus ensinamentos seguem sendo passados por gerações, muito do conhecimento histórico foi perdido ao longo do tempo e vemos algumas distorções.
O roteiro escrito por Josh Friedman e Rick Jaffa coloca as mensagens deixadas por César como um ponto de partida fundamental em O Reinado. Elas são interpretadas e usadas de maneiras diferentes, o que causa conflitos de objetivos. Essas perspectivas são representadas por dois personagens fundamentais: Raka, um orangotango que tenta manter e passar os ensinamentos originais de César para novas gerações, acreditando na coexistência pacífica entre humanos e macacos; Proximus César, um chimpanzé que distorce as mensagens de César e as usa para manter um governo autoritário formulado pela domínio dos macacos e escravização dos humanos.
Conhecemos este novo mundo pelo olhar do jovem Noa, que não tem noção dos conflitos e contexto histórico, já que foi criado alheio a tudo isso e protegido em sua aldeia por sua família. É uma escolha inteligente para o público acompanhar neste novo filme uma aventura do protagonista, em uma jornada de amadurecimento e descoberta, enquanto ele entra em contato com essas diferentes perspectivas (tanto dos macacos quanto dos humanos) e conhece melhor sua própria realidade.
Com a responsabilidade de manter o nível do elogiado trabalho realizado por Rupert Wyatt (A Origem) e Matt Reeves (O Confronto e A Guerra) na trilogia prelúdio, Wes Ball – conhecido pelos três filmes de Maze Runner – assume a direção da franquia de maneira competente. Enquanto nos anteriores tínhamos um mundo mais próximo do que conhecemos, já que o foco era na progressiva revolução dos macacos, aqui encontramos um universo completamente transformado: os humanos estão quase em extinção e são uma espécie menos evoluída, e a natureza tomou conta da cidade.
Depois do protagonismo do poderoso e carismático César na trilogia anterior, Noa se mostra um personagem com bastante potencial para o futuro da saga com seu arco de evolução ao longo do filme – entendendo a complexidade da relação e seu lugar entre humanos e macacos. Os cenários são apresentados pela jornada de descoberta do personagem principal em locações grandiosas, enquanto efeitos especiais, cenas de ação épicas e trabalho de captura de movimento seguem impressionando e como o principal atrativo da franquia.
Os humanos em Planeta dos Macacos: O Reinado são basicamente selvagens – consequência do vírus da Gripe Síria, que causou queda da humanidade e ascensão dos macacos – e, consequentemente, são caçados e escravizados de uma maneira bem mais próxima do que conhecemos no filme original de 68. Mas, aqui, eles são representados quase que totalmente por Mae (Freya Allan), uma humana misteriosa e mais evoluída que os demais que acompanha o protagonista em sua jornada.
E aqui entra um dos principais problemas: não temos uma dimensão mais ampla deste universo, especialmente sobre os humanos. Tudo parece um pouco vazio demais e as informações claramente estão sendo provocadas para as sequências. O mais interessante é como a relação entre Mae e Noa se desenvolve na narrativa e como impacta a visão desses personagens.
De qualquer forma, Planeta dos Macacos: O Reinado aborda as características clássicas da franquia, discutindo questões políticas e filosóficas em uma jornada de amadurecimento. A questão primordial sobre uma possível coexistência entre humanos e macacos segue, com as diferenças ideológicas de Raka e Proximus César, que funciona muito bem como vilão no filme. Com uma imposição ameaçadora, ele é um personagem complexo pelo seu fascínio e medo da humanidade, que ele aproveita para ascender como uma figura tirânica.
Planeta dos Macacos: O Reinado funciona muito bem como um prólogo, considerando que o plano para a franquia de ficção científica é que esse seja o começo de uma nova trilogia.
O filme continua o legado de César nos cinemas e apresenta um novo mundo sendo construído e comandado pelos macacos. Questões políticas e filosóficas, embates ideológicos complexos entre coexistência ou dominação, são apresentados em uma jornada de amadurecimento do protagonista Noa.
O Reinado é uma aventura épica pelo Planeta dos Macacos e segue impressionando pelos efeitos especiais realistas e cenas de ação que tornam essa uma das melhores sagas da atualidade.