"Águas profundas" é um filme de suspense levemente dramático. O drama se dá, no meu ponto de vista, devido à forma como está estabelecida a relação entre Vic e Melinda, e entre ambos e sua situação em família. Enquanto ele é um pai zeloso, amoroso, carinhoso, afetivo e atencioso, ela é uma mulher que nem parece ser mãe, já que sua relação com a filha só aparece no terço final do filme, em raros momentos de sorrisos mútuos. Melinda, na verdade, vive num afã por prazeres sensuais ininterruptos, embora isso nem sempre seja buscado com o próprio marido. O desaparecimento de seus amantes é o que traz o suspense para a história, já que, desde o início, é exatamente o marido quem traz para cima de si os holofotes, alegando ter assassinado um desses namorados dela.
Achei o filme bom, de modo geral. Ele tem cenas belas, como quando um dos caracóis é mostrado contra a luz, com uma translucidez poética, ou quando vemos as fotos que Vic fez da própria esposa, em relances na escada, nos caminhos da casa, nos detalhes de meias lançadas à toa na escadaria. Também tem alguns coadjuvantes legais, como os amigos de Vic que são leais a ele e não parecem aprovar muito o comportamento de Melinda.
Acho que o filme acerta muito em nos deixar incômodos, que foi como me senti.
Senti vergonha por Melinda, que é uma pessoa totalmente frívola e desrespeitosa, que não se cansa de atirar na cara do marido que gosta de dar para todo o mundo (e, raras vezes, até mesmo para ele). Também senti vergonha por Vic, que não consegue demonstrar a ela o quanto se sente humilhado ante esse comportamento dela, ante toda essa palhaçada incompreensível. A impressão que tive foi de que ela não queria um marido, exatamente, mas um pai: adorava usar e abusar da casa e do dinheiro (que, pelo que entendi, provêm de um trabalho dele), enquanto namorada quem quiser, fazendo juras de amor e sexo para qualquer um, na frente de todos.