Drama infantilizado
por Barbara DemerovApril, protagonista de Feel the Beat interpretada por Sofia Carson, deixa claro logo de início que é um bom exemplar de personagem que terá de atravessar um caminho repleto de renovação e aprendizado. Por mais clichê que isso pareça ser, Carson incorpora bem seu papel e é um dos melhores elementos do filme teen, recentemente lançado pela Netflix. Contudo, o que está à sua volta parece não acompanhá-la da forma mais apropriada, pois o tom lúdico não favorece a jornada pessoal da jovem.
Feel the Beat é o clássico filme em que o protagonista se encontra quando volta ao seu lar. No caso de April, é em uma pequena cidade do interior, longe da correria de Nova York, que ela tem a chance de se reconectar com suas raízes. A jovem troca seu egocentrismo pelo prazer em ajudar os outros ao perceber que, ao contrário do que se parece, ensinar não é o fim da linha. A linha de pensamento da dançarina da Broadway, que relaciona o ato de ensinar com dividir seu conhecimento que só ela deveria usufruir, vai transformando a própria capacidade interpessoal da protagonista.
TOM INFANTIL PERMEIA NARRATIVA SOBRE CRESCIMENTO
Esta certamente é uma das características mais interessantes do longa. Porém, as inúmeras passagens musicais, a tensão em cada apresentação do time de dançarinos que April leciona, a rivalidade entre o time de April e outras equipes infantis, além de todas as discussões que acontecem neste meio tempo, são mais do que o suficiente para fazer com que o tom infantil se extravase sobre a narrativa.
É certo dizer que April precisa estar em meio a pessoas de idade inferior para que compreenda o poder que uma boa educação possui - essa sendo calcada na busca pela felicidade e realização pessoal, não somente pela perfeição e aprovação externa. A própria personagem se considera perfeita, irretocável e indispensável, mas logo no primeiro momento do filme vê que a vida pode lhe pregar peças quando menos espera. Por essas e outras, sua evolução é clara desde o momento em que pisa na escola de dança até sua última apresentação com as crianças. Mas, ainda assim, em termos de narrativa, sua jornada acaba perdendo o espaço para o desenvolvimento de sua vida prévia a Nova York.
Feel the Beat não encontra muito um estilo próprio porque prefere transitar entre um filme infantojuvenil e uma história de crescimento pessoal de uma jovem adulta. Não fosse as diversas intervenções musicais e a alta necessidade de inserir um romance do passado, a trajetória da determinada e independente April poderia ser mais atraente simplesmente pelo fato dela encontrar o recomeço em crianças - algo que representa um futuro melhor no mundo da dança. Contudo, o poder dramático da história é completamente diluído em diálogos ingênuos e cenários excessivamente coloridos.